Um mês de conflito no Sudão sem paz à vista

Há poucas esperanças de que possa haver paz em breve no Sudão
Há poucas esperanças de que possa haver paz em breve no Sudão Direitos de autor FABRICE COFFRINI/AFP or licensors
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O conflito começou no passado dia 15 de abril, na capital do Sudão, entre o exército e os paramilitares.

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No Sudão, uma dura batalha pelo poder entre generais rivais já dura um mês. Apanhada no fogo cruzado está a população, que há anos resiste ao regime militar e exige uma transição para a democracia.

Um mês após o início do conflito no Sudão, centenas de pessoas morreram e milhares ficaram feridas. Especialistas acreditam que o número de casos não reportados é muito maior.

Os combates estão a provocar uma catástrofe de proporções inimagináveis. Segundo o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, 19 milhões de pessoas, ou 41% da população, poderão em breve ser ameaçadas pela fome no país, que tem 46 milhões de habitantes se o conflito não acabar.

A situação é arrepiante, já que falta o essencial, como relata Mathilde Vu, da organização sem fins lucrativos Norwegian Refugee Aid: "É o inferno. Todos os dias, as pessoas lutam para encontrar água porque não há mais água corrente, lutam para encontrar comida, lutam para se movimentar porque podem ser apanhadas no fogo cruzado apenas porque querem ir comprar comida e chegam a uma loja. Os preços estão a subir vertiginosamente. E todas as pessoas estão a ficar sem dinheiro e os bancos têm estado fechados nos últimos 46 dias".

A organização quase não tem informações de colegas locais com quem tenta contactar. Atualmente, as redes móveis não estão a funcionar e os cortes de energia estão a tornar-se mais frequentes após ataques a centrais elétricas. Há relatos de pilhagens, segundo Vu. As pessoas estão a ser forçadas a deixar as suas casas porque foram ocupadas por grupos armados.

A violência eclodiu a 15 de abril na capital do Sudão, Cartum, entre fações militares rivais cujos líderes chegaram ao poder em conjunto em 2021.

O exército sudanês sob o comando do general Abdel Fattah al-Burhan está em guerra com o general Mohammed Hamdan Daglo, que comanda os paramilitares das Forças de Apoio Rápido, RSF, uma milícia que surgiu em 2013 da notória milícia Janjaweed acusada de limpeza étnica de minorias não árabes na região de Darfur .

A Organização das Nações Unidas para as Migrações (OIM) estima que pelo menos 700 mil pessoas foram obrigadas a deslocar-se internamente no Sudão e que o número de refugiados registados nos países vizinhos é de 150 mil.

"Cada pedacinho de vida que pode existir está agora destruído ou em perigo. Então é por isso que muitas pessoas fugiram e estão a fugir em direção à fronteira no norte, no Egito ou para o Sudão do Sul ou, às vezes, para as cidades vizinhas do leste", diz Vu.

Sadeia Alrasheed Ali Hamid, uma ativista sudanesa que vive atualmente na Arábia Saudita, descreve à Euronews o que se passa no seu país natal: "Temos corpos deixados na rua para os cães comerem. E não apenas isso. Temos crianças que não podem ir ao hospital. As pessoas têm medo. Ficam debaixo da cama, porque as pessoas têm medo de sair até para conseguir comprar comida ou qualquer coisa. Chegam-me relatos que eles estão a atacar mercados locais, os principais mercados locais de Cartum. Há gangues que vão lá e destroem tudo, roubam tudo. E esses mercados têm os produtos que as pessoas precisam, como comida e tudo o resto."

Na última sexta-feira , 12 de maio, as partes em conflito assinaram uma declaração de compromisso, na Arábia Saudita, para permitir a entrada de ajuda humanitária no país e proteger a população civil. Algo que dificilmente foi possível por razões de segurança desde a escalada da violência.

Para as organizações de ajuda, há outra dificuldade, aponta Vu: "O facto de que o dinheiro é simplesmente inexistente neste país, torna tudo realmente difícil. Temos de fazer escolhas terríveis, entre pagar combustível, comida ou o salário. E isso está realmente a limitar a capacidade de uma organização dar resposta em grande escala."

A perspetiva de um fim prematuro da guerra civil parece distante. Crescem as preocupações de que o conflito se possa espalhar aos países vizinhos. Esta é uma das razões pelas quais as organizações de ajuda estão esforçar-se para concentrar a atenção no Sudão o mais rapidamente possível. Países vizinhos como a Líbia, o Chade e a Etiópia enfrentam desafios económicos e a situação política costuma ser instável. Para piorar a situação há ainda os efeitos claramente sentidos das alterações climáticas ou, como diz Vu, a região já é "extremamente vulnerável a choques".

Uma das coisas que precisa acontecer, defende Vu, é que a comunidade internacional envie uma mensagem muito forte às partes em conflito, deixando claro que as vidas dos civis, a ajuda humanitária e as infraestruturas civis precisam ser protegidas, independentemente de qualquer cessar-fogo, independentemente de acordos de paz.

"Pelo menos agora o mundo inteiro deveria falar sobre o que está a acontecer no Sudão. Não conseguimos sequer contar quantas mortes ocorreram no nosso país. Sinto que estamos a ser marginalizados. Por favor, fazemos parte de um mundo inteiro, do universo inteiro. Somos parte disso. Há uma voz aqui na África, no Sudão, a pedir ajuda", conclui a ativista sudanesa Sadeia Alrasheed Ali Hamid.

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