Para além dos riscos para a maior central nuclear da Europa, a destruição da barragem deixa desalojadas milhares de pessoas e provoca uma destruição agrícola e ecológica incalculável.
A destruição da barragem de Nova Kakhova fez com que as atenções se voltassem imediatamente para a Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA).
A central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, utiliza estas águas para arrefecimento, o que provocou receios de um acidente de sobreaquecimento nas suas instalações.
O diretor-geral da AIEA quis enviar uma mensagem de tranquilidade. Rafael Grossi afirmou: "A ausência de água de arrefecimento nos sistemas de água essenciais durante um longo período de tempo provocaria a fusão do combustível e a inoperacionalidade dos geradores diesel de emergência. No entanto, a nossa avaliação atual é que não há risco imediato para a segurança da central."
Vários inspetores da AIEA estão no terreno. Como explicou o diretor-geral da AIEA, existe um grande tanque de arrefecimento junto ao local que pode fornecer água para arrefecimento "durante alguns meses". Por razões de concepção, este tanque é mantido acima da altura do reservatório, pelo que não teria sido afetado pela descida da água.
Depois de ser conhecida a rutura da barragem, o operador nuclear ucraniano Energoatom, tinha afirmado: "O nível da água na barragem de Kakhovka está a diminuir rapidamente, o que constitui uma ameaça adicional para a central nuclear temporariamente ocupada".
A água do reservatório é necessária para arrefecer os reatores da central e evitar uma fuga radioativa. O reservatório da própria infraestrutura está atualmente cheio e o nível da água é de 16,6 metros, suficiente para as necessidades da central, estimou a empresa.
Olga Kosharna, especialista ucraniana em energia nuclear, disse à agência espanhola, EFE, que não há perigo imediato para a segurança da central e acrescentou que o pessoal da central ucraniana pode recorrer a vários mecanismos de apoio.
"Existem bombas com condutas de vários quilómetros de comprimento que podem ser utilizadas para encher o tanque de arrefecimento com água do reservatório se o nível baixar perigosamente", disse Kosharna. No entanto, sublinhou: "esta situação é complicada devido à ocupação contínua da central pelas tropas russas e ao facto de as margens do rio Dnieper terem sido minadas".
Para além da central nuclear de Zaporíjia, a ruptura da barragem de Kakhovka constitui uma ameaça ecológica potencial para toda a região, de onde já começaram as evacuações algumas localidades.
O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmygal, disse que cerca de 80 povoações a jusante estão em risco de inundação.
É provável que os territórios ocupados pela Rússia na margem inferior e oriental do rio Dnieper sofram mais do que a margem direita, controlada pela Ucrânia. Receia-se que as autoridades instaladas pelos ocupantes russos não consigam organizar uma evacuação atempada da zona em cidades como Nova Kakhovka, que foi parcialmente inundada.
Pelo menos oito localidades e parte de Kherson também foram inundadas, incluindo o distrito de Ostriv da cidade.
Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, as autoridades estão a fazer todos os possíveis para salvar as pessoas e fornecer água potável.
Zelenskyy atribui a responsabilidade da destruição da barragem à Rússia.
Ecologia e agricultura ameaçadas
A destruição da barragem afetará todo o ambiente agrícola, bem como as habitações, no sul seco da Ucrânia, devido aos seus efeitos adversos num complexo sistema de irrigação baseado na barragem de Kakhovka.
Prevê-se que afete as populações de Kherson e Zaporíjia, bem como a Crimeia ocupada e os países que compram cereais ucranianos.
"A agricultura é impossível sem irrigação, dadas as condições climáticas destas regiões", afirmou Tetiana Zavzharova, da ONG ambientalista Ecosense.
A destruição da barragem e as suas consequências constituem mais um golpe para as infraestruturas da Ucrânia e, em especial, para o seu sistema de abastecimento de energia.