Os assassinatos que assombram o longo "reinado" de Putin

Vladimir Putin discursa perante a nação após o motim de Yvgeny Prigozhin, junho de 2023.
Vladimir Putin discursa perante a nação após o motim de Yvgeny Prigozhin, junho de 2023. Direitos de autor AP Photo
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De  Euronews com AP
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Artigo publicado originalmente em inglês

As tentativas de homicídio contra os adversários de Vladimir Putin têm sido uma constante dos seus quase 25 anos no poder

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Ao longo dos anos, muitos dos críticos de Vladimir Putin, antigos agentes e jornalistas de investigação "incómodos" foram mortos ou agredidos de diversas formas. Os métodos utilizados vão do exótico ao mundano, do chá radioativo aos tiros à queima-roupa.

Há também relatos de proeminentes executivos russos que morreram em circunstâncias misteriosas, incluindo quedas de janelas, embora seja por vezes difícil determinar se se tratou de homicídios deliberados ou de suicídios.

Na passada quarta-feira, um avião privado que transportava Yevgeny Prigozhin, líder do grupo mercenário Wagner, que encetou uma breve rebelião na Rússia, este verão, caiu num campo nos arredores de Moscovo, provocando a sua morte.

As pessoas próximas das vítimas e os poucos sobreviventes de alegadas tentativas de assassinato, responsabilizam as autoridades russas. O Kremlin negou, sistematicamente, o seu envolvimento. No caso da morte de Prigozhin garante que é "totalmente mentira" que tenha tido algo a ver com a queda do aparelho.

Foi, por si só, um acontecimento surpreendente, mas não é a primeira vez que o governo de Putin nega qualquer papel na morte de um adversário "problemático".

Oposição

Em agosto de 2020, o líder da oposição Alexei Navalny adoeceu num voo da Sibéria para Moscovo. O avião aterrou na cidade de Omsk, onde Navalny foi hospitalizado em coma. Dois dias depois, foi transportado por via aérea para Berlim, onde recuperou.

Os seus aliados afirmaram, quase imediatamente, que tinha sido envenenado, mas as autoridades russas negaram. Laboratórios na Alemanha, França e Suécia confirmaram que o opositor de Putin foi envenenado por um agente neurotóxico da era soviética, conhecido como Novichok, que terá sido aplicado na sua roupa interior.

Navalny regressou à Rússia e foi julgado e considerado culpado por extremismo e sentenciado a 19 anos de prisão, a sua terceira condenação com pena de prisão, em dois anos, por acusações que, diz, terem motivações políticas.

Pavel Golovkin/Copyright 2019 The AP. All rights reserved
Alexei NavalnyPavel Golovkin/Copyright 2019 The AP. All rights reserved

Em 2018, Pyotr Verzilov, um dos fundadores do grupo de protesto "Pussy Riot", ficou gravemente doente e também foi levado de avião para Berlim, onde os médicos disseram que o envenenamento era "altamente plausível".

Vladimir Kara-Murza, figura proeminente da oposição, sobreviveu ao que acredita terem sido tentativas de o envenenar, em 2015 e 2017. Quase morreu de insuficiência renal no primeiro caso e suspeita de envenenamento, mas a causa não foi determinada. Este ano, foi condenado, na Rússia, por traição e sentenciado a 25 anos de prisão.

O assassinato de um opositor político de Putin, com maior visibilidade nos últimos anos, foi o de Boris Nemtsov. Outrora vice-primeiro-ministro no governo de Boris Ieltsin, Nemtsov era um político popular e um duro crítico do chefe de Estado russo.

Numa noite fria de fevereiro de 2015, foi morto a tiro por assaltantes, numa ponte adjacente ao Kremlin, enquanto caminhava com a namorada. Uma morte que chocou o país.

Cinco homens da região russa da Chechénia foram condenados, com o atirador a receber uma pena de até 20 anos, mas os aliados de Nemtsov disseram tratar-se de uma tentativa de desviar as responsabilidades do governo.

Ex-espiões

Um dos mais infames assassinatos da era Putin ocorreu em 2006, com a morte do desertor Alexander Litvinenko, um antigo agente do KGB e da agência sucessora pós-soviética, o FSB (os atuais serviços secretos russos).

Litvinenko adoeceu, gravemente, em Londres depois de ter bebido chá com polónio-210 radioativo, morrendo três semanas depois.

Litvinenko estava a investigar a morte a tiro da jornalista russa Anna Politkovskaya, bem como as alegadas ligações dos serviços secretos russos ao crime organizado. Antes de morrer, disse aos jornalistas que o FSB continuava a produzir venenos numa instalação da era soviética.

Um inquérito britânico concluiu que agentes russos mataram Litvinenko, provavelmente com a aprovação de Putin, mas o Kremlin negou qualquer envolvimento.

Outro antigo agente dos serviços secretos russos, Sergei Skripal, foi envenenado na Grã-Bretanha em 2018. Ele e a sua filha, Yulia, adoeceram na cidade de Salisbury e passaram várias semanas em estado crítico. Sobreviveram, mas o ataque custou, mais tarde, a vida a uma britânica e deixou um homem e um agente da polícia gravemente doentes. As autoridades afirmaram que ambos foram envenenados com Novichok.

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A Grã-Bretanha culpou os serviços secretos russos, mas Moscovo negou qualquer envolvimento.

Jornalistas

Muitos jornalistas que criticaram as autoridades russas foram assassinados ou sofreram mortes misteriosas, que os seus colegas, nalguns casos, atribuíram a alguém da hierarquia política russa. Noutros casos, a relutância das autoridades em investigar levantou suspeitas.

Anna Politkovskaya - a jornalista do jornal Novaya Gazeta, cuja morte Litvinenko estava a investigar - foi baleada mortalmente no elevador do seu prédio em Moscovo, a 07 de outubro de 2006 - data do aniversário de Putin.

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Mulher coloca flor junto a retrato da jornalista russa Anna Politkovskaya, em MoscovoPavel Golovkin/Copyright 2023 The AP. All rights reserved.

A jornalista tinha sido aclamada, internacionalmente, pelas suas reportagens sobre as violações dos direitos humanos na Chechénia. O autor do disparo, um checheno, foi condenado a 20 anos de prisão e quatro outros chechenos foram condenados a penas mais curtas, pelo seu envolvimento.

Yuri Shchekochikhin, outro repórter da Novaya Gazeta, morreu de doença súbita e violenta em 2003. Shchekochikhin estava a investigar negócios corruptos e o possível papel dos serviços de segurança russos nos atentados bombistas de 1999, atribuídos a rebeldes chechenos. Os seus colegas insistiram que tinha sido envenenado e acusaram as autoridades de dificultarem, deliberadamente, a investigação.

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Grupo Wagner

O acidente de avião de quarta-feira, que matou Yevgeny Prigozhin e os principais dirigentes da empresa paramilitar privada Wagner, ocorreu dois meses depois de ter lançado uma rebelião armada que Putin classificou como "uma punhalada nas costas" e "traição".

Embora não tenha criticado Putin, especificamente, Prigozhin criticou a liderança militar russa e questionou os motivos para entrar em guerra com a Ucrânia.

Na quinta-feira, uma avaliação preliminar dos serviços secretos norte-americanos concluiu que o acidente que matou as 10 pessoas que seguiam a bordo foi causado, intencionalmente, por uma explosão. Diziam funcionários do organismo, sob condição de anonimato. Um deles afirmou que a explosão se enquadra na "longa história de Putin de tentar silenciar os seus críticos".

O porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, rejeitou as alegações de que o Kremlin estaria por detrás do acidente.

"É claro que no Ocidente essas especulações são lançadas sob um certo ângulo", disse ele aos repórteres na sexta-feira, "e tudo isso é uma rotunda mentira".

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