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Os sete presidentes de câmara dos Balcãs premiados pelo seu apoio à comunidade cigana

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Direitos de autor euronews
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De  Hans von der BrelieElza Gonçalves
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O que está a ser feito para melhorar a situação dos ciganos na Europa? A Euronews viajou pelo Montenegro, pela Sérvia e pela Bósnia-Herzegovina para descobrir as iniciativas das cidades mais amigas dos ciganos.

Há 12 milhões de ciganos a viver na Europa. Um milhão vive nos Estados dos Balcãs Ocidentais. Muitos ciganos continuam a viver em condições miseráveis. Mas, nalgumas cidades europeias, há mudanças positivas.

A Comissão Europeia premiou sete presidentes de câmara dos Balcãs Ocidentais por desenvolverem políticas para melhorar a vida dos ciganos.

No Montenegro, o vencedor é Marko Kovačević. É o presidente da câmara de Nikšić, a segunda maior cidade do país, com 70 mil habitantes, incluindo cerca de 1500 ciganos.

Kovačević promoveu a construção de 31 habitações sociais, das quais 17 foram atribuídas a famílias de etnia cigana. Quando planeou expandir o projeto, houve resistência.

“As mudanças são demasiado lentas. Isso deve-se estilo de vida diferente da comunidade cigana em relação ao resto da nossa comunidade em Nikšić. Recentemente, quisemos construir dez unidades de habitação social num bairro onde houve uma resistência por parte do resto da população”, contou o autarca.

Emprego, educação, habitação

A Euronews visitou o Centrum for Roma Initiatives que desenvolve vários projetos, nomeadamente, a promoção dos direitos das mulheres ciganas.

"Saúde, escola, trabalho, habitação: está tudo ligado", frisou a diretora do CRI, Fana Delija.

Na área da habitação, uma das formas de melhorar a vida dos ciganos passaria por resolver as questões relacionadas com a propriedade. Este problema afeta todos os territórios da antiga Jugoslávia. Alguns ciganos são proprietários das suas casas, outros não.

“O maior problema é a legalização dos terrenos onde vive a comunidade cigana”, explicou Delija.

Há alguns anos, nos arredores de Nikšić, no distrito de Gracanica, o município construiu habitações sociais onde vivem atualmente cerca de 300 pessoas. Mas as condições de vida de algumas famílias são miseráveis.

“Vivem 14 pessoas nesta casa, com netos, incluindo o meu filho, com um bebé doente. E ninguém tem trabalho, só uma pessoa recebe subsídios”, contou Bukurija Sejdi, uma idosa residente neste bairro cigano.

"É muito importante concentrarmo-nos no emprego na comunidade, nos próximos quatro anos”, disse Fana Delija.

Zoja Tarlamišaj, mediadora cigana da escola secundária local, concluiu com êxito os estudos universitários, uma raridade para os ciganos no Montenegro.

Tarlamišaj convida os decisores políticos a alterar a política educativa do país.

“Se o ensino secundário se tornasse obrigatório, os alunos da comunidade cigana não abandonariam a escola tão cedo e, ao adquirirem melhores qualificações, a sua vida melhoraria”.

A comunidade cigana da Bósnia-Herzegovina

A nossa viagem prossegue para a Bósnia-Herzegovina, para Bijeljina onde vivem 100 mil pessoas, entre elas, cerca de dois mil ciganos.

A cidade construiu habitações sociais, um abrigo para crianças exploradas e apoia um festival de ciganos.

O Presidente da Câmara, Ljubiša Petrović, acaba de apresentar o seu segundo plano de ação para os ciganos, que abrange o período de 2024 a 2027:

“Uma das condições prévias para uma maior inclusão da minoria cigana é: educação, educação e educação”, repetiu o autarca.

A escolaridade das crianças ciganas é acompanhada durante todo o ano. A ONG Otaharin dá explicações e apoio psicológico. Todos os dias há comida e atividades artísticas criativas.

Muitas famílias ciganas falam a língua romani, o que significa que as crianças falam mal sérvio. Quando entram na escola primária, encontram enormes obstáculos, disse Sanita Smajić, uma coordenadora cigana do centro de dia de Otaharin.

Sanita Smajić reivindica um apoio linguístico intensivo: “A minha proposta é que as escolas primárias tenham assistentes para a língua cigana”, frisou a responsável.

A Agência Austríaca para o Desenvolvimento, a Care International, a ONG cigana Otaharin e o município de Bijeljina apoiam o projeto hortícola Agroplan que visa ajudar as mulheres ciganas.

“Estou muito satisfeita com o meu trabalho. Sei como é difícil viver sem trabalho. Há necessidades humanas e contas para pagar", dise Vesida, uma das trabalhadoras.

A comunidade cigana da cidade termal de Vrnjačka Banja, na Sérvia

A nossa última paragem é a cidade termal de Vrnjačka Banja, na Sérvia. Uma cidade turística que promove uma imagem de abertura e tolerância e onde vivem cerca de 400 ciganos.

Nos últimos oito anos, doadores internacionais disponibilizaram um milhão de euros para financiar os projetos locais de melhoria das condições de vida dos ciganos. A cidade contribuiu com 200 mil euros.

“Concretamente, construímos habitações sociais para famílias que tinham as piores condições de vida e mudámo-las para lá”, disse o presidente da Câmara Municipal, Boban Đurović.

Desde 2016, a cidade emprega um mediador cigano, Dejan Pavlović.

Fomos até à aldeia vizinha de Gračac onde vivem cerca de 250 ciganos, a maior povoação cigana do município.

O representante da comunidade, Živoslav Vujičić, trabalhou durante décadas na Alemanha. Quando regressou à Sérvia, construiu uma casa grande com um jardim bem cuidado. Hoje, é o porta-voz local dos ciganos e sublinha as boas relações com o presidente da câmara:

“Ele responde a toda a gente. Não só no Facebook, no Viber ou no Messenger. As pessoas podem ir a casa dele pedir ajuda. E ele responde. Ele é mesmo esse tipo de pessoa”, contou Vujičić.

“Há vários problemas em todo o lado. Mas atualemente, a nossa maior necessidade é o sistema de esgotos”, admitiu Vujičić.

Muitas casas da aldeia são bastante bonitas e limpas. Mas nem todas. O mediador cigano Dejan Pavlović mostrou-me uma ruína onde vivia uma família. A chuva entrava pelo telhado. Há um ano, os serviços sociais encontraram finalmente uma solução.

“Viviam seis pessoas nesta casa e foram transferidas para um novo edifício que foi construído através de um programa de habitação social realizado pelo município de Vrnjačka Banja. Estou feliz por esta família ter conseguido um alojamento”, afirmou Pavlović.

O início de uma nova vida

Hoje, Melissa, de 7 anos, e a sua família começaram uma nova vida. Mudaram-se das ruínas para um apartamento novinho em folha, num conjunto de habitação social cofinanciado com fundos da União Europeia.

O pai de Melissa é alfaiate, mas como não há trabalho suficiente para alfaiates, ganha a vida no setor da construção. Para estabilizar a família, dois filhos adultos receberam formação profissional, com o apoio do município, um tornou-se ladrilhador e o outro cabeleireiro.

“Agora temos espaço suficiente para dormir. Já não estamos amontoados como sardinhas”, disse Sonja, a mãe de Melissa.

A filha adolescente, Kristina, já tem um bebé, Gabriel. O abandono escolar e a gravidez precoce dificultam a integração profissional das jovens ciganas.

“Talvez gostasse de ser cabeleireira. Tenho apenas um filho e tenho 17 anos. Como pode ver, aqui temos uma cozinha e uma casa de banho onde podemos tomar banho. Antes tínhamos de o fazer ao ar livre. Aqui é ótimo”, disse-nos Kristina.

Todas estas histórias positivas não seriam possíveis sem uma verdadeira vontade política, aliada a dinheiro e muita paciência, sem esquecer a cooperação estreita entre todos os envolvidos: ONG, doadores, municípios e comunidades ciganas locais.

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