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Análise: Corte na ajuda militar da Alemanha à Ucrânia terá grande impacto

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, à esquerda, com o chanceler alemão, Olaf Scholz
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, à esquerda, com o chanceler alemão, Olaf Scholz Direitos de autor Kay Nietfeld/(c) Copyright 2023, dpa (www.dpa.de). Alle Rechte vorbehalten
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De  Isabel Marques da Silva
Publicado a Últimas notícias
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Outros países europeus poderão ter de intensificar a sua ação para compensar o grave impacto negativo da decisão da Alemanha de cortar a sua ajuda militar à Ucrânia, avisa Alain de Neve, investigador em Defesa, entrevistado pela Euronews.

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O governo de Berlim deverá atribuir apenas quatro mil milhões de euros no orçamento de 2025 - quase metade dos 7,5 mil milhões de euros que alocou este ano - no ponto referente ao "fortalecimento dos países parceiros nas áreas da segurança, defesa e estabilização".

A proposta orçamental que a coligação governamental finalizou, na passada sexta-feira, após longas negociações, vai agora ser analisada pelo parlamento alemão. Caso se confime este corte, o investigador em Defesa, Alain de Neve, da Real Academia Militar da Bélgica, avisa que o impacto não será negligenciável.

"Obviamente, isto terá um impacto, especialmente em termos financeiros. Quanto à ajuda militar concreta em termos de equipamento fornecido, podemos ver que a Polónia está à frente da Alemanha a este nível. Podemos ver claramente que são os países vizinhos da Ucrânia que participam mais (nesta ajuda). Devemos notar o caso particular do Reino Unido, que também está a dar um contributo muito maior do que o da França, Espanha ou Itália", explicou em entrevista à Euronews.

Desde 2022, a UE e os seus Estados-membros doaram 38 mil milhões de euros em ajuda militar, dos quais 28 mil milhões de euros vieram da Alemanha.

A ajuda alemã foi dada, principalmente, sob a forma de "fundos para a iniciativa de capacitação em segurança", aos quais se somam cinco mil milhões de euros em arsenal enviado pelas suas forças armadas.

Temos de compreender que estes cerca de 300 mil milhões de dólares acabarão por ter de ser distribuídos entre vários países. Ainda não sabemos qual será o envelope que será atribuído aos diferentes Estados.
Alain de Neve
Investigador em Defesa, Real Academia Militar da Bélgica

Os bens russos congelados e a posição dos EUA

O G7, que reúne as sete maiores economias do mundo, está a discutir a possibilidade de utilizar parte dos 300 mil milhões de dólares em ativos russos congelados para fornecer material militar à Ucrânia.

Mas os detalhes políticos e técnicos a debater pelos líderes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos não serão fáceis de resolver, afirma Alain de Neve: "Não, não poderia realmente constituir um recurso sustentável para apoiar os ucranianos na sua resistência contra a Rússia".

"Temos de compreender que estes cerca de 300 mil milhões de dólares acabarão por ter de ser distribuídos entre vários países. E é no G7 que o tema será debatido e negociado. Ainda não sabemos qual será o envelope que será atribuído aos diferentes Estados. Nem sequer sabemos se haverá acordo para, diria, mobilizar esta reserva. E mais uma vez, esta reserva será única. Não será uma medida estrutural que possa ser implementada a longo prazo", referiu, ainda.

A questão é: poderá a Europa assumir o controlo na atual situação? É muito difícil imaginar isso.
Alain de Neve
Investigador em Defesa, Real Academia Militar da Bélgica

Apenas os Estados Unidos dão à Ucrânia mais ajuda militar do que a Alemanha, mas o país enfrenta eleições em novembro. A atual administração democrata prometeu manter este apoio, mas o candidato republicano, Donald Trump, promete retirá-lo se for eleito.

"O principal perigo que poderá existir é que uma quebra europeia - ainda que limitada - na ajuda à Ucrânia possa ser acompanhada por uma queda particularmente notável na ajuda dos Estados Unidos, se Donald Trump chegasse ao poder", avisa o analista.

"A questão é: poderá a Europa assumir o controlo na atual situação? É muito difícil imaginar isso. Haverá claramente áreas onde a Europa não será capaz de compensar a ausência ou redução da ajuda militar e financeira dos EUA. Apesar de tudo, a Europa já sabe há algum tempo que a questão da guerra entre a Ucrânia e a Rússia é, antes de mais, uma questão europeia", explicou.

O chanceler alemão Olaf Scholz sobe para o topo de um tanque antiaéreo Gepard enquanto visita um programa de treino para soldados ucranianos
O chanceler alemão Olaf Scholz sobe para o topo de um tanque antiaéreo Gepard enquanto visita um programa de treino para soldados ucranianosMarcus Brandt/(c) Copyright 2022, dpa (www.dpa.de). Alle Rechte vorbehalten

O reforço da indústria de defesa

Conscientes desse facto, os líderes da UE decidiram, em fevereiro passado, criar um novo Mecanismo para a Ucrânia, no valor de 50 milhões de euros - a dispensar até 2027-, para apoiar também a recuperação do país e as reformas que devem empreender como candidato de adesão ao bloco.

Por outro lado, a União compreendeu que tinha de investir mais na sua própria indústria de defesa para poder ajudar a Ucrânia e para dissuadir a Rússia de atacar algum dos seus membros, nomeadamente os que fazem fronteira com esse país.

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"Os europeus, de um modo geral, estão entre a espada e a parede. Por um lado, há a ajuda que deve ser dada à Ucrânia para lhe permitir, diria eu, resistir à pressão russa. E, por outro lado, há necessidade de rearmamento europeu e de mais meios económicos. Os recursos orçamentais são, por definição, limitados. Assim, todos os países europeus, de uma forma ou de outra, nos próximos meses, nos próximos anos, terão de fazer escolhas que, por vezes, poderão ser dolorosas", afirma Alain de Neve.

Para ajudar a navegar este dossiê, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pretende que um dos membros do seu segundo executivo se dedique em exclusividade a uma pasta da Defesa.

A seu cargo estará gerir a primeira estratégia industrial europeia de defesa para melhorar a prontidão e a segurança da Europa. Já a política de segurança e defesa continuará nas mãos do chefe da diplomacia da UE, tendo a ex-primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, sido escolhida pelos líderes da UE para substituir Josep Borrell.

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