A ex-vice-presidente da Comissão Europeia e atual diretora do FMI, Kristalina Georgieva, falou à Euronews sobre o estado da economia mundial, a escalada das tensões comerciais e o início de um novo conflito com o Irão.
O conflito no Médio Oriente vai agravar ainda mais as perspetivas económicas mundiais, já de si afetadas pelas disputas comerciais em curso, disse a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) em entrevista à Euronews.
"Ser atingido por uma guerra comercial tem consequências. Projetámos um declínio no crescimento global de meio ponto percentual", disse Kristalina Georgieva.
"O que vemos agora é mais turbulência no Médio Oriente, o que aumenta a incerteza e, portanto, é mau para os negócios", explicou.
Desde o regresso de Donald Trump ao poder como líder da maior economia do mundo, o comércio internacional tem sido perturbado por uma onda de tarifas impostas pela administração norte-americana aos seus parceiros globais.
O México e o Canadá foram os alvos iniciais, seguidos de um prolongado impasse entre os EUA e a China, que viu as tarifas recíprocas entre os dois países subirem para mais de 100%.
A 2 de abril - um dia que apelidou de "Dia da Libertação" - Trump impôs direitos aduaneiros a um vasto leque de países, incluindo a UE. Em seguida, declarou uma trégua de 90 dias, que expira a 9 de julho.
Estão em curso negociações com a UE, que atualmente enfrenta tarifas de 50% sobre o aço e o alumínio, 25% sobre os automóveis e 10% sobre todas as suas exportações para os EUA.
No entanto, a diretora do FMI, responsável pela estabilidade financeira em todo o mundo, e por facilitar o comércio global, admitiu que "a economia global provou ser notavelmente resistente a choques e essa resistência continua".
Na sua opinião, a incerteza económica está a tornar-se o novo normal. "Vivemos num mundo mais propenso a choques, um mundo de maior incerteza", disse Georgieva, acrescentando que neste cenário, "os países precisam de trabalhar arduamente para serem mais resistentes" e que devem fazer "reformas a nível interno que tornem as economias mais fortes".
Georgieva, ex-vice-presidente da Comissão Europeia, também se mostrou otimista com as perspetivas económicas, apesar dos números desanimadores do crescimento.
Considerou que o recente acordo comercial entre a China e os EUA e o acordo que Trump negociou com o Reino Unido são bons sinais. "Estamos num lugar melhor", referiu.
Num contexto de incerteza, também vê oportunidades a aproveitar - uma perspetiva partilhada pela Comissão Europeia, que está a seguir uma estratégia de diversificação dos seus parceiros comerciais através do aumento do número de acordos comerciais a nível mundial.
"Na Europa, assistimos a um aumento dos acordos bilaterais e plurilaterais, que espero que sejam uma grande caraterística do futuro do comércio global", disse à Euronews.
Acrescentou também que é um grande momento para a Europa, "defender as trocas comerciais globais baseadas em regras."