Manifestantes derrubaram as barreiras de segurança que rodeavam o Passeio do Prado entre a zona da meta e a Estação de Atocha, e chegaram mesmo a agarrar alguns ciclistas, o que impediu a passagem do pelotão. Houve confrontos com a polícia. João Almeida terminou em segundo, atrás de Jonas Vingegaard
A última etapa da Volta a Espanha em bicicleta foi encurtada no domingo quando faltavam 58 quilómetros para a meta.
A medida foi tomada na sequência dos protestos pró-Palestina que surgiram à entrada do circuito de Madrid. Os manifestantes derrubaram as barreiras de segurança que rodeavam o Passeio do Prado entre a zona da meta e a Estação de Atocha, e chegaram mesmo a agarrar alguns ciclistas, o que impediu a passagem do pelotão.
Os corredores tiveram de ser transportados nos carros das equipas e não houve lugar à habitual cerimónia de pódio. Registaram-se também confrontos entre quem estava nos protestos e os mais de 1.500 polícias destacados para o evento.
Os participantes da manifestação gritaram que o que está em curso no Médio Oriente não é uma guerra mas um genocídio, exigindo o fim imediato do ataque a Gaza, que, de acordo com os últimos números oficiais, já custou a vida a cerca de 65 mil pessoas. Pediram igualmente o aumento do fluxo de alimentos e de material médico para o enclave, a fim de atenuar a terrível crise humanitária. Tinham como alvo, em particular, uma equipa israelita que competiu na prova.
Antes da última etapa, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tinha expressado apoio aos protestos.
"A nossa admiração e respeito devem estar com as pessoas que se mobilizam por causas justas como a da Palestina e de Gaza", afirmou o líder do governo espanhol num evento na Andaluzia.
O dinamarquês Jonas Vingegaard (Team Visma), que liderava com mais de um minuto de vantagem, sagrou-se campeão. Em segundo ficou o português João Almeida (Emirates), que igualou o melhor resultado de sempre de um corredor luso em grandes voltas ao repetir o feito de Joaquim Agostinho, vice-campeão da Volta a Espanha em 1974.
Esquerda espanhola apoia manifestações
Os dirigentes da IU, do Podemos e do Más Madrid apoiaram as manifestações previstas ao longo do percurso da 21ª etapa com 106,6 quilómetros entre Alalpardo e o centro da capital espanhola.
Os organizadores fizeram alterações de última hora, cortando cinco quilómetros do percurso previsto "por razões de trânsito", para evitar a passagem pela A6 em Aravaca. A etapa, que tradicionalmente é um passeio triunfal ao longo da Castellana, aconteceu num ambiente de tensão política e social que acompanhou a corrida desde a sua passagem por Bilbau.
O dinamarquês Jonas Vingegaard mostrou-se compreensivo face aos manifestantes: "Toda a gente tem o direito de protestar. Compreendo a razão, mas é uma pena que tenha de acontecer aqui", disse aos meios de comunicação locais.
Tensão até ao último momento
No sábado, na penúltima etapa com chegada na Bola del Mundo, uma centena de ativistas bloqueou a estrada a 18 quilómetros da meta, obrigando o pelotão a evitar a concentração nas bermas, num momento de caos. Um manifestante foi detido por agressão a um agente da polícia. Alguns dirigentes do Podemos, como Ione Belarra e Irene Montero, participaram em protestos paralelos em Cercedilla, que obrigaram à alteração do percurso.
Este tipo de incidente não foi isolado. Etapas em cidades como Bilbau, Castro Urdiales ou Valladolid também tiveram de ser alteradas, quer com chegadas antecipadas, quer com provas de contrarrelógio mais curtas. No total, seis dos últimos dez dias foram alterados.
Face ao sucedido, a Comunidade de Madrid anunciou que vai apresentar queixa pelos "atos violentos" registados na região, enquanto alguns partidos da oposição exigem uma resposta mais firme do governo central.