A acusação tinha pedido doze anos de prisão para Husamettin Dogan. Acabou por ser condenado a dez anos de prisão, mais um ano do que na primeira instância.
O longo processo chegou ao fim esta quinta-feira: o Tribunal de Gard condenou o único arguido que manteve o seu recurso no caso de Gisèle Pelicot a dez anos de prisão, mais um ano do que na primeira instância.
Husamettin Dogan, um antigo trabalhador da construção civil de 44 anos, foi igualmente condenado a cinco anos de liberdade condicional com ordem de tratamento, anunciou o juiz Christian Pasta no final de uma audiência de quatro dias.
A acusação tinha pedido doze anos de prisão para o homem condenado pela violação de Gisèle Pelicot.
Husamettin Dogan afirma ter sido incriminado
Tal como no julgamento em primeira instância, Husamettin Dogan continuou a negar ter tido intenção de violar a septuagenária, que disse "respeitar". Afirma ter sido "enganado" pelo "manipulador" Dominique Pelicot. Este último drogou a mulher antes de a oferecer a desconhecidos encontrados na Internet e de filmar as agressões sexuais.
O arguido afirma que acreditava estar a participar no jogo consensual de um casal livre e que "nunca soube que ela estava drogada".
Um argumento contestado pelo chefe da investigação, que afirmou que o acusado estava "plenamente consciente do estado da vítima".
"Qualquer pessoa que veja os vídeos compreende isso imediatamente", acrescentou, no segundo dia do julgamento de recurso, precisando que, embora Dominique Pelicot possa ter sido "um pouco autoritário, não houve qualquer coação física, nenhuma ameaça", como afirma o arguido.
"Tenho vergonha de ti"
"Em que momento é que eu dei o meu consentimento? Nunca", disse Gisèle Pelicot a Husamettin Dogan. Durante o confronto de quarta-feira, a vítima pediu-lhe que "assumisse a responsabilidade" antes de dizer que tinha "vergonha" dele. "Ainda não percebeu o que é a violação. Quando é que vais admitir que é um crime?", sublinhou.
Ainda de cabeça erguida, Gisèle Pelicot insistiu que era a única vítima no caso. "Dominique Pelicot é obviamente responsável pelo meu sofrimento, mas Husamettin Dogan e os outros 50 também o são", declarou.
No julgamento de dezembro último, Dominique Pelicot foi condenado a vinte anos de prisão, enquanto os outros arguidos receberam penas que variam entre três e quinze anos de cadeia.
O processo atraiu a atenção internacional depois de Gisèle Pelicot ter renunciado ao seu direito ao anonimato. "Não tenho nada de que me envergonhar", disse. Desde então, tornou-se um símbolo da luta contra a violência sexual e o caso despertou a consciência nacional para a cultura da violação em França. Em julho, foi condecorada com a Ordem Nacional da Legião de Honra, a mais alta distinção francesa.
A partir de agora, Gisèle Pelicot poderá concentrar-se na sua recuperação. "Está bem encaminhada", garante. "Sinto que cheguei ao fim desta provação. Espero nunca mais voltar a um tribunal na minha vida. O mal está feito", disse.