As tensões entre o Afeganistão e o Paquistão aumentaram recentemente depois de Cabul ter acusado Islamabad de ter lançado ataques com drones, a 9 de outubro, que fizeram vários mortos.
O ministro da Administração Interna do Paquistão afirmou na quinta-feira que cidadãos afegãos levaram a cabo dois ataques suicidas mortais esta semana, um deles contra uma escola de cadetes perto da fronteira afegã e outro à porta de um tribunal em Islamabad.
Na terça-feira, um atentado suicida no exterior de um tribunal distrital em Islamabad matou 12 pessoas e feriu outras 27.
Separadamente, na segunda-feira, três soldados foram mortos quando um bombista suicida e quatro outros militantes tentaram invadir o Colégio de Cadetes de Wana, no noroeste da província de Khyber Pakhtunkhwa, desencadeando um tiroteio.
"Em ambos os atentados suicidas, estiveram envolvidos cidadãos afegãos, que realizaram os ataques", declarou o ministro Mohsin Naqvi.
Cabul não se pronunciou de imediato sobre as declarações.
Os ataques trouxeram à luz o agravamento da situação do Paquistão em matéria de segurança, numa altura em que o governo enfrenta uma militância crescente, relações tensas com o Afeganistão e uma trégua cada vez mais frágil ao longo da fronteira.
Até ao ataque de terça-feira, a capital tinha sido considerada segura em comparação com o noroeste do país, afetado pelo conflito.
O primeiro-ministro Shehbaz Sharif ofereceu-se para manter conversações com o governo talibã do Afeganistão na quarta-feira, num renovado esforço de paz.
O apelo, num discurso transmitido na televisivo na quarta-feira, seguiu-se ao colapso das negociações de paz em Istambul, na semana passada, o que suscitou receios de que um cessar-fogo mediado pelo Qatar e pela Turquia pudesse ser desfeito e desencadear novos confrontos na fronteira.
O Paquistão quer que o Afeganistão controle os talibãs paquistaneses, conhecidos como Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP), que reivindicaram a maioria dos ataques no Paquistão nos últimos anos.
O país distanciou-se dos últimos ataques, afirmando não ser responsável.
Há muito que o Paquistão acusa os talibãs afegãos de albergarem líderes e combatentes do TTP, uma alegação que Cabul nega.
Uma fação separatista do TTP, Jamaat-ul-Ahrar, reivindicou inicialmente a responsabilidade pelo atentado de Islamabad, mas um dos seus comandantes retirou a declaração.
De acordo com os meios de comunicação social locais, as autoridades detiveram alguns suspeitos para interrogatório relacionados com o atentado de Islamabad, tendo os detidos sido capturados em múltiplas rusgas.
O Ministério da Informação do Paquistão afirmou que o ataque à escola de cadetes foi planeado e dirigido a partir do Afeganistão e levado a cabo por cidadãos afegãos que utilizaram armas fornecidas por aquele país.
Numa publicação no X, o ministério disse que o ataque foi orquestrado por um militante identificado apenas como Zahid, com a aprovação do chefe do TTP, Noor Wali Mehsud.
Os atacantes usaram armas "de fabrico americano" trazidas do Afeganistão, segundo o ministério.
O Paquistão tem afirmado repetidamente que o equipamento militar dos EUA deixado para trás durante a retirada americana do Afeganistão em 2021 caiu nas mãos de militantes e acabou por chegar aos talibãs paquistaneses, reforçando o poder de fogo do grupo.
As tensões entre o Paquistão e o Afeganistão aumentaram desde o mês passado, quando Cabul acusou Islamabad de lançar ataques com drones a 9 de outubro, que mataram várias pessoas na capital afegã.
Os ataques provocaram confrontos transfronteiriços que causaram a morte de dezenas de soldados, civis e militantes, antes de o Qatar mediar um cessar-fogo em 19 de outubro.
Duas rondas subsequentes de conversações de paz em Istambul terminaram sem progressos, depois de Cabul se ter recusado a dar garantias por escrito de que os militantes não utilizariam o território afegão para ataques no Paquistão.
O TTP, que é distinto dos Talibãs afegãos, mas aliado destes, tem-se fortalecido desde que os Talibãs regressaram ao poder no Afeganistão em 2021.