No seu discurso de Ano Novo, divulgado antecipadamente, o chanceler alemão descreve um mundo em permanente crise, mas insiste na sua capacidade de ação, reforçando o papel da Alemanha na cena mundial.
Friedrich Merz já gravou o seu primeiro discurso de Ano Novo como chanceler Federal da Alemanha.
No texto, divulgado antecipadamente, Merz descreve um mundo cada vez mais incerto, conflituoso e fragmentado mas tenta, com as suas palavras, estabelecer pontos positivos, não apenas através do apaziguamento, mas da autoconfiança que a Alemanha deve ter.
"Não somos um peão das grandes potências", afirmou o chanceler alemão, contradizendo abertamente o sentimento de muitas pessoas de que a Alemanha está a perder influência e controlo face às crises globais.
Sublinhou a capacidade de ação da Alemanha, reforçando que o país "não é vítima de circunstâncias externas" nem é "impotente" face aos desenvolvimentos internacionais.
No discurso, o chanceler alemão aborda ainda a guerra na Ucrânia, recordou que os ucranianos estavam mais uma vez a começar o novo ano em condições extremas, salientando que o conflito não é estante e não termina junto das fronteiras dos outros países, como a Alemanha.
"Pelo quarto ano consecutivo, os ucranianos celebrarão o Ano Novo nas circunstâncias mais adversas – muitos deles sem eletricidade, sob uma chuva de rockets, temendo por seus amigos e familiares. E esta não é uma guerra distante que não nos afeta. Porque vemos, de forma cada vez mais clara: o ataque da Rússia foi e é parte de um plano dirigido contra toda a Europa", afirmou o chanceler.
Segundo Merz, a "Alemanha tambéméalvo de sabotagem, espionagem e ataques cibernéticos todos os dias".
Merz reforçou, no entanto que a Alemanha é um país seguro, "magnífico que se reinventou repetidamente, emergiu mais forte das crises", mas relembra como essa segurança não pode ser dada como garantida, avisando que a Europa deve reforçar a sua capacidade de dissuasão e defender os seus próprios interesses de forma mais consistente.
"Precisamos defender e afirmar nossos interesses com muito mais força por conta própria", escreveu o líder alemão.
Para além da situação da política externa, Merz falou de mudanças estruturais que irão moldar o país a longo prazo.
Referiu o protecionismo global, as dependências estratégicas em matéria de matérias-primas e a alteração das relações com os EUA como riscos para a prosperidade e a estabilidade.
Também aqui, combinou diagnóstico e aspiração: a Alemanha e a Europa têm de aprender a tornar-se menos vulneráveis.
No que respeita à política interna, o chanceler mostrou-se invulgarmente aberto a críticas. Admitiu que muitas pessoas mal se aperceberam das reformas realizadas até à data. Na sua opinião, isso não era suficiente. Ao mesmo tempo, anunciou novas reformas de fundo, nomeadamente no domínio das pensões e do Estado social. Na sua opinião, as alterações demográficas, o aumento dos custos e as mudanças tecnológicas não deixam margem para a estagnação.
A perspetiva do discurso centrou-se em 2026, um ano que, segundo Merz, poderá ser um momento de novos começos para a Alemanha e para a Europa.