Após semanas de negociação, sindicato que representa mais de 160 mil atores não consegue acordo com os estúdios e junta-se ao protesto dos argumentistas e trava Hollywood
Os atores da Hollywood iniciaram às 00:00 desta sexta-feira, na costa leste dos Estados Unidos (oito horas da manhã, em Lisboa), uma greve que ameaça agravar ainda mais os atrasos na produção de longas metragens e séries americanas.
O protesto dos atores junta-se ao dos argumentistas, em vigor desde o início de maio, e provoca a primeira dupla greve em mais de 60 anos a afetar a produção de Hollywood.
A última dupla greve juntando dois setores da sétima arte americana aconteceu em 1960, era Ronald Reagan o presidente do SAG, o sindicato dos atores de ecrã, agora liderado por Fran Drescher, a famosa "Nanny" da série dos anos 90 "Competente e Descarada", e que representa quase 160 mil profissionais.
Drescher foi também parte da equipa de negociadores dos atores liderada por Duncan Crabtree-Ireland, que tentou negociar um novo acordo laboral com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão a renovação do contrato laboral de três anos que expirou à meia noite de quarta-feira. Sem sucesso.
Fran Drescher não poupou nas palavras e diz que não havia outro caminho porque o trabalho dos atores está em perigo.
"Todo o modelo de negócio foi alterado pela Internet, pelo digital, pela Inteligência Artificial. Este é um momento histórico, é o momento da verdade. Se nós não nos afirmamos agora, vamos ficar todos em dificuldades. Vamos todos ficar em risco de sermos substituídos por máquinas", afirmou a presidente do SAG.
As negociações começaram a 7 de junho e "após longos dias, fins de semana e feriados a trabalhar", os negociadores em nome dos atores esbarraram em "propostas desadequadas" por parte dos estúdios, revelou o SAG, em comunicado assinado pela presidente.
Um dos primeiros eventos a ser afetado pela greve foi a estreia em Londres do novo filme de Christopher Nolan, "Oppenheimer", com Cillian murphy no principal papel e um elenco de estrelas que inclui Florence Pugh, Matt Damon, Robert Downey Jr., Emilly Blunt, Kenneth Brannagh e, entre outros, Rami Malek.
A estreia foi antecipada uma hora para permitir que o elenco de atores pudesse desfilar pela passadeira vermelha, o que aconteceu, mas mais tarde nenhum ator participou devidamente na promoção do filme.
"Viram-nos aqui antes, na passadeira vermelha, mas infelizmente tiveram de ir escrever os cartazes de piquete para o que pensamos ser uma greve iminente do SAG, que se junta a uma das minhas corporações, o sindicato dos argumentistas (WGA), na luta por salários justos para os membros trabalhadores do sindicato que representam", explicou Christopher Nolan, a partir do palco londrino, onde mostrou o filme.
Outros eventos deverão ser prejudicados pela atual dupla greve como a entrega dos Emmys, que viu as nomeações serem divulgadas esta semana e tem a entrega marcada para 18 de setembro, assim como outras estreias de novos filmes e o lançamento de novas séries nas cada vez mais utilizadas plataformas de streaming, responsáveis por parte do atrito com os atores.
O SAG está a exigir salários mais justos num mundo de sétima arte agora diferente do que era há 20 ou 40 anos. A ascensão da Internet e a massificação de conteúdos, sejam filmes ou séries, veio provocar uma redução dos cachets dos atores.
Apenas a uma pequena parte continuam a ser oferecidos grandes remunerações e o surgimento agora da inteligência artificial representa outro risco, com alguns atores a serem já substituídos por representações digitais em algumas cenas e até em algumas produções.
O SAG exige também garantias aos estúdios de que o trabalho dos atores não será substituído por representações digitais e que eventuais representações sejam devidamente pagas aos atores que lhes serviram de molde.