Greve dos atores ameaça atrasar ainda mais a produção de cinema em Hollywood

Ator Jeff Torres vestido de "Super Homem" numa ação de apoio aos argumentistas em maio
Ator Jeff Torres vestido de "Super Homem" numa ação de apoio aos argumentistas em maio Direitos de autor AP Photo/Richard Vogel
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De  Francisco Marques
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Após semanas de negociação, sindicato que representa mais de 160 mil atores não consegue acordo com os estúdios e junta-se ao protesto dos argumentistas e trava Hollywood

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Os atores da Hollywood iniciaram às 00:00 desta sexta-feira, na costa leste dos Estados Unidos (oito horas da manhã, em Lisboa), uma greve que ameaça agravar ainda mais os atrasos na produção de longas metragens e séries americanas.

O protesto dos atores junta-se ao dos argumentistas, em vigor desde o início de maio, e provoca a primeira dupla greve em mais de 60 anos a afetar a produção de Hollywood.

A última dupla greve juntando dois setores da sétima arte americana aconteceu em 1960, era Ronald Reagan o presidente do SAG, o sindicato dos atores de ecrã, agora liderado por Fran Drescher, a famosa "Nanny" da série dos anos 90 "Competente e Descarada", e que representa quase 160 mil profissionais.

Drescher foi também parte da equipa de negociadores dos atores liderada por Duncan Crabtree-Ireland, que tentou negociar um novo acordo laboral com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão a renovação do contrato laboral de três anos que expirou à meia noite de quarta-feira. Sem sucesso.

Fran Drescher não poupou nas palavras e diz que não havia outro caminho porque o trabalho dos atores está em perigo.

"Todo o modelo de negócio foi alterado pela Internet, pelo digital, pela Inteligência Artificial. Este é um momento histórico, é o momento da verdade. Se nós não nos afirmamos agora, vamos ficar todos em dificuldades. Vamos todos ficar em risco de sermos substituídos por máquinas", afirmou a presidente do SAG.

As negociações começaram a 7 de junho e "após longos dias, fins de semana e feriados a trabalhar", os negociadores em nome dos atores esbarraram em "propostas desadequadas" por parte dos estúdios, revelou o SAG, em comunicado assinado pela presidente.

Um dos primeiros eventos a ser afetado pela greve foi a estreia em Londres do novo filme de Christopher Nolan, "Oppenheimer", com Cillian murphy no principal papel e um elenco de estrelas que inclui Florence Pugh, Matt Damon, Robert Downey Jr., Emilly Blunt, Kenneth Brannagh e, entre outros, Rami Malek.

A estreia foi antecipada uma hora para permitir que o elenco de atores pudesse desfilar pela passadeira vermelha, o que aconteceu, mas mais tarde nenhum ator participou devidamente na promoção do filme.

"Viram-nos aqui antes, na passadeira vermelha, mas infelizmente tiveram de ir escrever os cartazes de piquete para o que pensamos ser uma greve iminente do SAG, que se junta a uma das minhas corporações, o sindicato dos argumentistas (WGA), na luta por salários justos para os membros trabalhadores do sindicato que representam", explicou Christopher Nolan, a partir do palco londrino, onde mostrou o filme.

Outros eventos deverão ser prejudicados pela atual dupla greve como a entrega dos Emmys, que viu as nomeações serem divulgadas esta semana e tem a entrega marcada para 18 de setembro, assim como outras estreias de novos filmes e o lançamento de novas séries nas cada vez mais utilizadas plataformas de streaming, responsáveis por parte do atrito com os atores.

O SAG está a exigir salários mais justos num mundo de sétima arte agora diferente do que era há 20 ou 40 anos. A ascensão da Internet e a massificação de conteúdos, sejam filmes ou séries, veio provocar uma redução dos cachets dos atores. 

Apenas a uma pequena parte continuam a ser oferecidos grandes remunerações e o surgimento agora da inteligência artificial representa outro risco, com alguns atores a serem já substituídos por representações digitais em algumas cenas e até em algumas produções.

O SAG exige também garantias aos estúdios de que o trabalho dos atores não será substituído por representações digitais e que eventuais representações sejam devidamente pagas aos atores que lhes serviram de molde.

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