O mar e a saúde humana: Riscos e benefícios

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De  Denis Loctier
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São muitos os benefícios para a saúde do contacto com o ambiente marinho, mas há fatores que transformam esses benefícios em riscos.

Cap de Creus é um impressionante parque natural no nordeste da Catalunha, e este grupo de caminhantes está a participar num estudo único que explora o poder curativo do ambiente costeiro.

Marissa Busquets, doente oncológica e participante no estudo; diz: "O som calmante do mar e o cheiro dos pinheiros dão paz interior, que é a melhor pílula para a nossa saúde interior. E a saúde interior também ajuda a saúde exterior".

Acredita-se amplamente que o oceano tem muitos benefícios para a saúde, mas faltam os dados concretos

Assim, uma equipa de médicos e investigadores da cidade de Roses convidou 24 pacientes oncológicos a participar em atividades costeiras durante dois anos, e acompanhou de perto os efeitos.

Ángel Izquierdo-Font, médico no Instituto Catalão de Oncologia, é um dos dinamizadores: "Ficámos surpreendidos com o facto de, com um pequeno número de doentes, termos visto um efeito significativo. Estes pacientes completaram o tratamento há algum tempo e não têm cancro ativo, mas alguns deles sofrem de sintomas crónicos ou de algum tipo de perturbação emocional, e pensamos que esta atividade de contacto com a natureza pode ser de grande benefício para eles", diz.

Embora estas atividades não possam substituir a terapia médica, demonstraram ter efeitos positivos mensuráveis sobre o bem-estar emocional dos pacientes. Os investigadores recolheram dados através de questionários e monitorizaram indicadores-chave de saúde com os smart watches.

Como resultado prático, os investigadores sugerem a integração de "espaços azuis" em programas que ligam pacientes de cuidados primários a serviços e recursos comunitários: os médicos de família podem prescrever atividades tais como tomar banho ou mergulhar para os seus pacientes, como parte do plano de tratamento.

Eva Fontdecaba, médica de família no Instituto Catalão de Saúde, está habituada a "receitar o mar" aos seus pacientes: "Para problemas de saúde que não requerem tratamento, encontramos por vezes muito mais benefícios para o bem-estar de uma pessoa em atividades sociais, no ar fresco, na natureza, no mar, do que em medicamentos", refere.

Esta colaboração entre cientistas, médicos, uma fundação contra o cancro e autoridades locais contribui para uma área crescente de investigação que explora as muitas formas como o mar tem impacto na nossa saúde e bem-estar, desde os alimentos que comemos até ao ar que respiramos.

Mas estes benefícios dependem da própria saúde do mar. Se os habitats naturais e os ecossistemas não forem preservados, os benefícios para a saúde humana poderão ser perdidos.

Josep Lloret, biólogo marinho da Universidade de Girona, coordena esta investigação em Roses: "Esta linha de investigação, Oceanos e Saúde Humana, explora todos estes benefícios, mas ao mesmo tempo examina como os riscos e ameaças que nós humanos expomos ao mar acabam por prejudicar a saúde humana através do aumento da poluição, de mais agentes patogénicos ou de mais industrialização".

Nem sempre o mar faz bem

A poluição das águas costeiras pode por vezes transformar os benefícios para a saúde do mar em perigos.

A Cornualha, um destino de surf popular no sudoeste de Inglaterra, não é exceção. Os surfistas que visitam estas praias têm de estar atentos aos alertas sobre a qualidade da água: Em muitos locais por todo o país, as instalações de tratamento de água podem exceder a sua capacidade e descarregar esgotos brutos prejudiciais, tornando as águas costeiras inseguras para atividades como o surf.

Izzy Ross, que trabalha com a instituição de conservação marinha "Surfers Against Sewage"(surfistas contra os esgotos) explica que os surfistas são particularmente vulneráveis aos efeitos nocivos da poluição, uma vez que estão constantemente expostos à água.

"Por vezes engolimos alguma água e isso significa que ingerimos um grande número de bactérias e vírus potencialmente nocivos. No ano passado tivemos 720 relatórios e alguns deles foram bastante chocantes - tivemos coisas como gastroenterite, infeções oculares, dos ouvidos e do trato urinário e até um caso de insuficiência renal", conta.

Para melhor compreender os riscos, os surfistas trabalharam com investigadores do Centro Europeu para o Ambiente e Saúde Humana da Faculdade de Medicina da Universidade de Exeter. Um projeto financiado pela União Europeia analisou amostras retiradas de surfistas de todo o Reino Unido e os resultados foram alarmantes.

Anne Leonard, epidemiologista ambiental nesta instituição, diz: "Verificámos que os surfistas têm cerca de três vezes mais probabilidade, em comparação com pessoas que não entram na água, de transportar bactérias resistentes aos antibióticos na amostra de microbioma fecal. Isto é muito importante, porque há potencial para as pessoas espalharem bactérias resistentes a antibióticos a outras pessoas".

Os investigadores descobriram que os cursos de água que transportam resíduos urbanos e agrícolas para os nossos mares estão a alimentar a evolução de agentes patogénicos resistentes aos medicamentos. Tais infeções já estão a ter um pesado impacto, comparável ao da pandemia da COVID-19. Até 2050, podem tornar-se a principal causa de morte a nível mundial.

Diz William Gaze, microbiólogo do centro: "Os resíduos humanos e animais também incluem resíduos de antibióticos. Ainda que estes estejam diluídos e com baixos níveis na água dos rios ou do mar, estamos agora a descobrir que, na realidade, ainda podem estar a um nível que pode impulsionar mais resistência aos antibióticos".

As experiências laboratoriais na Universidade de Exeter confirmaram a ameaça sanitária. As descobertas deixam claro que a contaminação dos nossos oceanos com substâncias perigosas não é apenas uma preocupação para os surfistas e outros frequentadores do mar, mas para as pessoas de todo o mundo, independentemente do seu estatuto económico.

Diz Aimee Murray, microbiologista: "Pensa-se geralmente que a poluição por antibióticos é mais um problema nos países de baixo e médio rendimento, onde produzem os antibióticos e têm de descarregar os resíduos farmacêuticos, onde não dispõem de infraestruturas sanitárias adequadas. Mas demonstrámos que mesmo no Reino Unido existem níveis suficientes de antibióticos para aumentar a resistência".

A investigação em toda a Europa destaca a ligação crucial entre o oceano e a saúde humana: Mares prósperos podem melhorar o nosso bem-estar físico e mental, mas quando os oceanos sofrem, nós também sofremos.

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