Newsletter Boletim informativo Events Eventos Podcasts Vídeos Africanews
Loader
Encontra-nos
Publicidade

Cores dos carros e alterações climáticas: como a pintura do seu veículo agrava o efeito de ilha de calor urbano

Poderão as cores dos automóveis estar a contribuir para o aquecimento urbano?
Poderão as cores dos automóveis estar a contribuir para o aquecimento urbano? Direitos de autor  Anthony Fomin/Unsplash
Direitos de autor Anthony Fomin/Unsplash
De Craig Saueurs
Publicado a
Partilhe esta notícia Comentários
Partilhe esta notícia Close Button

O estudo concluiu que os automóveis pretos aumentam o calor em quase 4°C em dias quentes de verão.

PUBLICIDADE

Num dia abrasador de verão, um carro estacionado pode parecer um forno. Uma nova investigação realizada em Lisboa mostra que o efeito não é apenas desconfortável, mas pode estar a aquecer bairros inteiros.

E a cor do seu carro pode estar a piorar a situação.

Num novo estudo publicado na revista City and Environment Interactions, os cientistas descobriram que os veículos de cor escura irradiam muito mais calor do que os claros, aumentando a temperatura do ar nas proximidades em vários graus.

No caso de existirem milhares de carros estacionados, este fator oculto pode agravar significativamente o efeito de ilha de calor urbano, quando as cidades se tornam muito mais quentes do que os seus arredores.

Os carros escuros atuam como radiadores

Márcia Matias e os seus colegas da Universidade de Lisboa mediram a temperatura do ar à volta de dois carros, um preto e um branco, deixados ao ar livre durante mais de cinco horas sob um céu limpo de verão. A 36°C, o carro preto aumentou a temperatura do ar nas proximidades em 3,8°C em comparação com o asfalto ao seu lado. O carro branco teve um impacto muito menor.

A diferença reside na luz que as cores refletem.

A tinta branca reflete entre 75 e 85% da luz solar que entra. A tinta preta reflete apenas 5 a 10%, absorvendo o resto. E, ao contrário do asfalto, que é espesso e demora a aquecer, a fina carcaça metálica de um automóvel aquece rapidamente e liberta o calor diretamente para o ar.

"Agora imagine milhares de carros estacionados numa cidade, cada um deles atuando como uma pequena fonte de calor ou um escudo térmico", refere Márcia Matias. "A sua cor pode realmente alterar a sensação de calor nas ruas."

O que é exatamente o efeito de ilha de calor urbano?

De acordo com o Copernicus, o programa de observação da Terra da UE, uma ilha de calor urbano é uma área da cidade que é significativamente mais quente do que os seus arredores rurais devido à atividade humana e às infraestruturas.

O solo pavimentado absorve e armazena calor, enquanto os edifícios densos reduzem a circulação do ar, retendo o calor. Os automóveis, o ar condicionado e a atividade industrial acrescentam ainda mais calor.

À noite, o efeito é mais forte. As cidades podem ficar até 10°C mais quentes do que as zonas rurais circundantes, uma vez que o betão, o asfalto e o aço libertam lentamente o calor que armazenaram durante o dia. Durante o verão, as temperaturas à superfície nas cidades europeias podem subir entre 10 a 15°C acima das temperaturas nas zonas rurais circundantes, onde as plantas, as florestas e os campos arrefecem o ar.

Com cerca de 70% dos europeus a viver em zonas urbanas, esta diferença faz com que o efeito de ilha de calor urbano seja uma preocupação premente de saúde pública.

Porque é que a Europa é especialmente vulnerável

Nos últimos anos, a Europa tem sido fustigada por ondas de calor que bateram recordes, com temperaturas superiores a 40°C em várias cidades só este verão.

Um estudo realizado no verão passado concluiu que as alterações climáticas triplicaram o número de mortes causadas por um evento de calor extremo.

O stress térmico não causa apenas desconforto. A exposição repetida pode acelerar o envelhecimento biológico, afetar a saúde mental e deixar as crianças mais vulneráveis à desidratação, a doenças respiratórias e até mesmo à morte. Os idosos e as pessoas com doenças pré-existentes enfrentam os maiores riscos.

Em cidades como Londres e Paris, onde as temperaturas noturnas podem ser até 4°C mais elevadas do que nas áreas circundantes, a falta de alívio após o pôr do sol só vem agravar o perigo.

Como as cidades estão a reagir

Em toda a Europa, algumas cidades estão agora a trabalhar com urgência para se adaptarem. Algumas, como Barcelona, designaram refúgios climáticos - edifícios públicos como bibliotecas, escolas ou museus que permanecem abertos durante as vagas de calor para proporcionar espaços mais frescos aos residentes.

Outras estão a tornar as suas ruas mais verdes. Na cidade neerlandesa de Breda, as margens dos rios foram transformadas em jardins e os pavimentos de betão foram substituídos por relva e árvores. Atualmente, 60% da cidade é constituída por espaços verdes. Até 2030, os líderes locais pretendem fazer de Breda uma das cidades mais ricas em natureza da Europa.

Estes projetos requerem tempo e investimento. É por isso que estratégias mais rápidas e baratas, como o aumento da refletividade urbana, estão a ganhar atenção. Os automóveis, como sugere este estudo, podem fazer parte desse conjunto de ferramentas.

Os investigadores calcularam que repintar os carros escuros em Lisboa com tons mais claros poderia duplicar a refletividade de certas ruas de cerca de 20% para quase 40% e reduzir as temperaturas do ar próximo à superfície em dias quentes e sem vento.

Sarah Berk, investigadora climática da Universidade da Carolina do Norte, considera a abordagem "inovadora", uma vez que a maior parte da investigação sobre o arrefecimento das cidades se tem centrado em telhados refletores ou pavimentos mais claros. "Os veículos são uma peça surpreendentemente negligenciada do puzzle do calor urbano", afirma.

As frotas de táxis, carrinhas de entregas ou veículos municipais poderiam ser candidatos especialmente eficazes a pinturas mais claras, acrescenta Márcia Matias.

Ir para os atalhos de acessibilidade
Partilhe esta notícia Comentários

Notícias relacionadas

Jetson One é um carro voador e vai ajudar socorristas de montanha na Polónia

Carros elétricos em Israel: uma bomba-relógio mais mortífera do que os mísseis iranianos?

Carro sem condutor percorre as ruas de Yokohama com tecnologia de ponta