Instituições europeias e jornalistas de Bruxelas em silêncio por "Charlie"

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De  Francisco Marques
Instituições europeias e jornalistas de Bruxelas em silêncio por "Charlie"

Cerca de 24 horas depois do trágico atentado em Paris contra o jornal satírico Charlie Hebdo, o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o centro de imprensa internacional em Bruxelas associaram-se, na capital belga, ao minuto de silêncio decretado pela França em memória das 12 vítimas do ataque da véspera, o qual foi interpretado de forma global também como uma agressão à liberdade de expressão.

Depois de na véspera já ter abordado o que condenou como “um crime intolerável”, esta quinta-feira o Presidente do Parlamento Europeu voltou ao tema. “Nós nunca vamos ceder nos nossos direitos de liberdade, de imprensa e de expressão, de tolerância e de respeito mútuo”, avisou Martin Schultz.

Em papéis, em camisolas, gritada ou até projetada em ecrãs e paredes, a expressão “Je Suis Charlie” (tr.: “Eu Sou Charlie”) propagou-se um pouco por todo o mundo desde a tarde de quarta-feira. A referência ao nome do semanário satírico francês atacado por pelo menos dois homens fortemente armados tornou-se num grito de revolta pela liberdade de expressão e criou o seu próprio espaço na internet através da “hashtag” #JeSuisCharlie.

A eurodeputada italiana Tiziana Beghin sublinha que “é importante não esquecermos de que as pessoas estavam a trabalhar pela liberdade de expressão” e que isto “é um valor”. “Mas, para mim, o que de facto interessa é a lembrança de que a vida humana é o mais importante”, concretizou a representante do Movimento Cinco Estrelas.

Nos vários edifícios da Comissão Europeia, em Bruxelas, todos os funcionários se calaram e pararam em respeito pelos “mártires da liberdade”, como ontem foram descritos, por um líder religioso islâmico da região de Paris, os cartoonistas assassinados do Charlie Hebdo. Uma expressão depois também referida pelo secretário de Estado norte-americano, John Kerry.

Os jornalistas da imprensa internacional sediados em Bruxelas, como seria de esperar, prestaram também uma sentida homenagem aos camaradas mortos do semanário francês. Os responsáveis por levar ao Mundo tudo o que se passa nas instituições europeias, em Bruxelas, concentraram-se no “hall” do Residence Palace, o centro de imprensa internacional na capital da Bélgica e da União Europeia.

Jean-Pierre Stroobants, correspondente do jornal francês Le Monde nos países do Benelux (Bélgica-Holanda-Luxemburgo), lembrou que, “depois dos atentados de 2001, a Europa assustou-se e, nessa altura, foram aplicadas a maioria das medidas de segurança” das que ainda vigoram em muitos países. “O que aconteceu agora em Paris pode ser um novo detonador, arrisco dizer, de uma nova reação, uma nova coordenação em toda a ação europeia. A qual tem de ser, de forma bem visível, melhor coordenada”, defendeu Stroobants.

As bandeiras da União Europeia estão, por fim, a meia haste esta quinta-feira, num luto solidário com a França, que esta quinta-feira voltou a ser assolada com um novo tiroteio em Paris e a morte de mais um agente de autoridade, neste caso, de uma mulher polícia. À partida os dois tiroteios – o de quarta e este de quinta-feira – não estão relacionados.