O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pronunciou, esta quarta-feira, o discurso sobre o “estado da União”, no Parlamento Europeu
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pronunciou, esta quarta-feira, o discurso sobre o “estado da União”, no Parlamento Europeu. Em Estrasburgo, viveu-se um ambiente especial porque esta foi uma estreia para Juncker, desde que assumiu a presidência do executivo comunitário.
Este ano, mais do nunca, a intervenção era aguardada com bastante expetativa, atendendo à atual conjuntura económica e migratória, desafios que estão a dividir a Europa.
Entre apelos à unidade e à solidariedade europeia, Juncker propôs a distribuição de mais 120 mil refugiados que se encontram em Itália, na Grécia e Hungria, entre os Estados-membros, com “caráter urgente e obrigatório.”
O número somar-se-á aos 40 mil propostos em maio. No Parlamento Europeu, o presidente da Comissão Europeia disse que chegou a hora de colocar os individualismos de parte: “160 mil refugiados. Este é o número de refugiados que os Estados-membros terão de receber. Espero, de verdade, que desta vez todos estejam disponíveis, sem poesia nem retórica. Neste momento, precisamos de ação.”
Quantos refugiados é que cada Estado-membro é instado a receber?
Que fatia, dos 120 mil refugiados, cabe a Portugal?
Juncker lembrou que a história europeia é feita de refugiados, mas para alguns analistas, como Giovanni Grevi, do “think tank” FRIDE, o cenário de concertação é quase utópico: “Será difícil convencer os Estados-membros. Através das sondagens e das eleições pudemos perceber o aumento de partidos eurocéticos e anti-imigração em vários países, da Dinamarca à Suécia. No seio da União Europeia destaca-se, claramente, França, com a Frente Nacional. Também há um debate em Itália e no Reino Unido. Por isso, será muito difícil.”
O assunto estará em cima da mesa no Conselho de ministros do Interior. A reunião de emergência está prevista para o próximo dia 14 de setembro, mas o presidente da Comissão Europeia disse que até lá a regras para a recolocação de refugiados não deverão estar prontas.
Para analisar o discurso do Presidente do executivo comunitário sobre o “estado da União” entrevistámos Sophia in’t Veld, vice-presidente do Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, no Parlamento Europeu.
Margherita Sforza, euronews – O que pensa da proposta de Jean-Claude Juncker sobre a distribuição de 160 mil requerentes de asilo entre os Estados-membros? É suficientemente ambiciosa?
Sophia in’t Veld, vice-presidente do Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa no Parlamento Europeu – Julgo que sim. Teremos de esperar para perceber se será ou não suficiente, porque não sabemos quantas pessoas querem vir para a Europa. Mas, decididamente, é um passo no caminho certo. Agora é preciso o apoio dos governos nacionais, que até ao momento estiveram completamente ausentes. Fiquei chocada com o facto de os líderes ser negarem a encontrar numa cimeira extraordinária.
euronews – Podemos garantir a segurança dos cidadãos europeus perante este afluxo de pessoas?
Sophia in’t Veld – Claro que sim. Haverá, provavelmente, criminosos, pessoas pouco recomendáveis e potenciais terroristas entre os refugiados, mas também temos essas pessoas, criadas na Europa. É importante não esquecer que no mesmo fim de semana em que o povo alemão recebeu calorosamente refugiados – por exemplo, na estação de Munique – neo-nazis também queimaram centros de acolhimento de requerentes de asilo. Há sempre ameaças em sociedade.
euronews – Falou-se numa nova proposta para um sistema de migração legal. O que espera desta Comissão?
Sophia in’t Veld – Há muitos requerentes de asilo de países dos Balcãs Ocidentais, mas também de países africanos, por exemplo. São pessoas que não estão a fugir da guerra. Querem vir para a Europa e trabalhar, o que é perfeitamente legítimo, mas não têm nenhuma forma legal à disposição. Então vamos criar essas vias para não sobrecarregar o sistema de asilo. Damos abrigo aos que precisam, mas também podemos ajudar as pessoas que querem vir para cá e contribuir para a sociedade.
euronews – O que ficou a faltar no discurso de Jean-Claude Juncker?
Sophia in’t Veld – Não foram palavras de Juncker que estiveram em falta. O que faltou foi a presença de Estados-membros e do presidente do Conselho Europeu, porque foram os Estados-membros a aceitar um sistema comum de asilo em 1999, mas simplesmente não concretizaram.O que está em falta é a coragem e a liderança nacionais. O facto de não haver um sistema de asilo adequado e legislação migratória no terreno, atualmente, é resultado de dez anos de sentimentos anti-União Europeia e anti-migração. A imagem de um menino encontrado morto numa praia da Turquia não é um acidente, mas antes o resultado de escolhas políticas.