UE teme desestabilização no Iraque devido ao referendo curdo

UE teme desestabilização no Iraque devido ao referendo curdo
De  Isabel Marques da Silva  com LUSA

A União Europeia está contra o referendo sobre a independência da região autónoma do Curdistão no Iraque, marcado unilateralmente para 25 de setembro.

Seguindo a linha da maioria da comunidade internacional, incluindo a do Conselho de Segurança da ONU, a União Europeia está contra o referendo sobre a independência da região autónoma do Curdistão no Iraque, marcado unilateralmente para 25 de setembro.

Ebubekir Isik é um académico curdo que ensina numa universidade de Bruxelas e que considera que não há razões para recear a secessão, pelo contrário.

“Podemos vir a ter, nos próximos 4 a 5 anos, um Estado curdo independente que é, comparativamente, mais democrático, mais secular e mais confiável ao nível das alianças dos EUA e da Europa na região”, disse, à euronews, Ebubekir Isik.


A União Europeia teme que o referendo aumente a instabilidade no Iraque, tendo a delegação da União Europeia nesse país emitido uma declaração, em julho, que alerta para a necessidade de “evitar qualquer ação que crie ou exacerbe as divisões”.

Mas as expetativas dos curdos iraquianos devem-se ao apoio que têm dado ao Ocidente na luta contra os extremistas islâmicos do Daesh.

“Os curdos consideram que a coligação liderada pelos Estados Unidos, e na qual estão quase todos os países da União Europeia, tem uma dívida para com eles. Não acredito que esperem que tal se traduza em apoio explícito à independência, mas antes no apoio diplomático para encontrar uma solução”, explicou, à euronews, o analista político Marc Pierini, do Carnegie Europe.

Kexit? Iraqi Kurdistan referendum explained https://t.co/UZZKEWqEBL— BBC News (World) (@BBCWorld) September 22, 2017

Não menos relevante é a questão do petróleo, sendo que a União Europeia recebe muitos dos 600 mil barris diários produzidos naquela que é a sexta maior reserva mundial.

“Temos enormes reservas de petróleo na região onde vivem os curdos. A cidade de Kirkuk é um dos melhores exemplos disso. Essa é uma das razões pelas quais o governo central iraquiano e o governo autónomo curdo não conseguiram chegar a acordo sobre os territórios disputados. É um dos principais desafios para qualquer tipo de diálogo entre as autoridades de Erbil e de Bagdade”, realçou Ebubekir Isik.

A situação geopolítica e económica é ainda mais complexa porque outros países da região têm importantes comunidades curdas, tais como a Turquia e o Irão, e vêm o referendo da região iraquiana como uma ameaça à estabilidade dos seus próprios países.

O Curdistão beneficia de uma autonomia desde 1991, que se tem alargado ao longo dos anos.

O Presidente curdo, Massoud Barzani, cujo mandato expirou em 2015, tem insistido que a independência é a única escolha deixada aos curdos na ausência de um parceiro em Bagdade.

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