As mulheres, sobretudo as mais pobres, estão a migrar como nunca antes na história e representam já 48 por cento das pessoas que procuram melhor vida noutro país. As Jornadas Europeias do Desenvolvimento, esta semana, em Bruxelas debatarem o fenómeno.
As mulheres, sobretudo as mais pobres, estão a migrar como nunca antes na História e representam já 48 por cento das pessoas que procuram melhor vida noutro país.
As Jornadas Europeias do Desenvolvimento, esta semana, em Bruxelas debateram o fenómeno e as políticas para o enfrentar.
"No meu país, 70 por cento das pessoas têm menos de 30 anos, estão desempregadas, sem dinheiro, sem esperança. A esperança para alguns é pegar numa arma, vista como a única forma de ganhar um quinhão da riqueza do país. Aqueles que têm suficiente energia pegam numa arma, as mulheres e as crianças têm de se pôr ao caminho", explicou, à euronews, Esther Nakajjigo, estudante universitária e ativista pela juventude no Uganda.
A maior parte das mulheres vindas de países em vias de desenvolvimento acabam a fazer trabalho doméstico e de assistência, muitas delas sofrendo violações dos direitos humanos e laborais.
As mulheres com mais educação formal também enfrentam as barreiras do preconceito e racismo, segundo a fundadora da Rede Africana da Diáspora na Europa, Marie Chantal Uwitonze, que nasceu no Ruanda e vive em Bruxelas.
"Aqui em Bruxelas, classificamos os estrangeiros que não são africanos como expatriados, mas a nós apelidam-nos de migrantes. Eu revejo-me mais na categoria de uma intelectual que, depois de ter obtido o seu diploma, optou por vir trabalhar com a União Europeia porque é interessante em termos de minha área de estudos. Não sou uma migrante que quer viver à custa da segurança social".
O movimento transfronteiriço em busca de segurança e trabalho expõe muitas vezes as mulheres a várias formas de violência, incluindo exploração sexual e laboral: três em cada quatro vítimas de tráfico são mulheres.
A vice-diretora da Organização Internacional para a Migração, Laura Thompson, alerta que o controle de fronteiras não é suficiente para lidar com as novas tendências deste fenómeno.
"Todos os migrantes que atravessam fronteiras de forma irregular têm vulnerabilidades mas, obviamente, que o abuso e exploração relacionados a género acontecem com mais frequência nas mulheres e certamente que há necessidades claras de maior proteção", explicou à euronews.
As pressões demográficas e o impacto das alterações climáticas nas sociedades mais vulneráveis vão fazer aumentar a migração nos próximos anos, de acordo com as Nações Unidas.
Em setembro, a ONU realizará uma conferência intergovernamental com o objetivo de adotar um pacto global para migração e asilo.
"Nos últimos anos, as mulheres começaram a migrar como chefes de família e essa é a grande mudança. Por isso, precisamos de ser capazes de regular o setor informal da economia que se dedica ao trabalho doméstico e à assistência", acrescentou Laura Thompson.
Nos próximos meses, a União Europeia deve encontrar uma política comum entre os 28 Estados-membros que lhe permita falar a uma só voz durante a conferência da ONU.