Debater racismo na Europa é um desafio difícil?

Uma capa da revista LE VIF causou escândalo na Bélgica, por ter escurecido a cara de personalidades conhecidas em vários setores no país.
A prática cultural de pintar a cara de um branco para parecer negro, mais conhecida pelo termo inglês "blackface", é antiga, em peças de teatro e carnavais, e muito criticada nas últimas décadas.
Mas a direção da revista diz que o objetivo era exatamente criticar o racismo que impede uma maior ascensão de afro-descendentes a posições de grande estatuto e poder na sociedade.
“Entre nós, o "blackface" é usado com a intenção de fazer uma caricatura, é uma forma de estigmatização. Mas não é, absolutamente, o que queríamos fazer. Não há qualquer intenção de zombar, de ser malicioso, pelo contrário, somos totalmente anti-"blackface". Mas temos de ser realistas e admitir que foi essa a interpretação do público e que "o tiro nos saiu pela culatra" porque queríamos, precisamente, fazer o oposto", explicou Anne Sophie Bailly, chefe de redação, em entrevista à euronews.
Algumas personalidades brancas que usaram o "blackface", em festas ou carnavais, acabaram por ter de pedir desculpas publicamente, como foi o caso do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau. Ativistas anti-racismo explicam que já não existem desculpas aceitáveis para usar esta caricatura, que consideram degradante.
"Muitas pessoas, incluindo eu, ficaram incomodadas com esta capa da LE VIF por ter recorrido ao "blackface", um dos vestígios mais concretos da história colonial e de história da escravatura, que sempre pretendeu fazer a uma desumanização das populações negras e afro-descendentes. Logo, esta escolha de capa é muito chocante", disse Stéphanie Ngaluga, ativista anti-racismo.
Promover a diversidade nas instituições
O artigo visava falar do movimento "Black Lifes Matter", que começou nos Estados Unidos para denunciar a violência policial sobre a população afro-descendente e que chegou à Europa.
A revista quis chamar a atenção para o domínio dos brancos em muitos setores, em muitos países europeus, e nas próprias instituições da União Europeia, que tem sede em Bruxelas. O executivo europeu admite serem necessárias mudanças.
"A capa não é realmente bem sucedida. Mas penso que tema sobre o qual se fala no artigo é muito importante. Existe um sério problema de muitas pessoas continuarem a achar que ser europeu significa ser branco. E existe na Comissão Europeia um excesso de funcionários brancos. Penso que é uma tarefa importante debater e analisar o tema porque algo tem de ser feito para representar toda a população da Europa ”, disse Ylva Johansson, comissária europeia de Assuntos Internos, num discurso, segunda-feira, sobre a integração dos migrantes no mercado de trabalho europeu.
A Comissão Europeia criou uma pasta para a Igualdade e promete apresentar um novo plano de ação.