O assassinato do professor francês precipitou esta crise, mas há muito que a França tem defendido a necessidade de toda a União Europeia rever a política com este vizinho, sobretudo por causa da posição turca muito agressiva no mar Mediterrâneo, na Síria e na Líbia.
A troca de acusações entre os líderes da França, Emmanuel Macron, e da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, por causa do radicalismo islâmico, começa a traduzir-se em escalada de protestos de cariz popular.
De manifestações nas ruas à retirada de produtos importados nos supermercados, sem esquecer o mundo virtual das redes sociais onde se trocam insultos, a tensão só aumenta.
O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan, fez, segunda-feira, um apelo ao boicote comercial: "Agora vou dizer à minha Nação o mesmo que disseram em França. Disseram para para não comprarem nada das marcas turcas. Apelo à minha Nação aqui e agora: não queiram nada com os produtos de marcas francesas, não os comprem".
A relação franco-turca já há muito que estava tensa, mas escalou depois dos comentários do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a necessidade de combater o radicalismo islâmico.
Palavras proferidas na homenagem a um professor que foi assassinado, por um jovem muçulmano, por ter mostrado caricaturas do profeta Maomé.
O presidente turco não gostou e disse que o presidente francês estaria perturbado mentalmente, o que levou o governo francês a chamar o embaixador que tem na Turquia.
Bruxelas tenta acalmar os ânimos mas Alemanha está solidária com Macron
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, considerou "inaceitáveis" os termos usados pelo presidente Erdoğan para se referir ao presidente Macron e apelou à contenção.
A Comissão Europeia pede o regresso a um diálogo construtivo: “Aquilo que procuramos é cooperação e diálogo com os parceiros, é mais necessário do que nunca. Caso contrário, iremos apenas descer o nível e entrar numa espiral de acusações sem respeito de uns pelos outros, o que fomentará tensões e aprofundará os mal-entendidos", disse o porta-voz Peter Stano, em conferência de imprensa, em Bruxelas.
A diplomacia da Alemanha, país que preside, atualmente, à União Europeia, também se pronunciou através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas: "Estamos solidários com a França em relação aos ataques pessoais feitos pelo Presidente Erdoğan contra o Presidente Macron, de baixo nível e que considero inaceitáveis. Mas acima de tudo, estamos solidários com a França na luta contra os extremistas islâmicos, especialmente após o abominável ato de terrorismo ocorrido na semana passada".
A analista política Amanda Paul, do Centro de Política Europeia, em Bruxelas, vê potencial para ainda maior descalabro bilateral.
“Penso que a Turquia precisa de ter cuidado quando apela ao boicote comercial dada a atual situação económica da Turquia que não é nada boa. A França é um dos países com os quais a Turquia tem superávit comercial", realçou Amanda Paul.
"O Islão é uma questão muito importante para o presidente Erdoğan, trata-se da sua popularidade interna e este tema é algo sobre o qual sempre teve uma posição muito forte", acrescentou.
O assassinato do professor francês precipitou esta crise, mas há muito que a França tem defendido a necessidade de toda a União Europeia rever a política com este vizinho, sobretudo por causa da posição turca muito agressiva no mar Mediterrâneo, na Síria e na Líbia.