Doadores vão renovar ajuda a refugiados sírios no Médio Oriente

Não há sinal no horizonte político de que mais de 5,5 milhões de refugiados sírios possam regressar a casa, após dez anos de conflito. Portanto, também não haverá uma descompressão nos frágeis países vizinhos que os acolheram.
Os prestadores de ajuda humanitária têm grandes expectativas para a quinta Conferência de Doadores para a Síria e a Região, co-organizada, esta semana, pela União Europeia e a ONU.
Dominik Bartsch, representante na Jordânia da Agência da ONU para os Refugiados disse que a Covid-19 teve um grande impacto, pois o ensino à distância e o teletrabalho não são fáceis naquela parte do mundo, dando exemplos, em entrevista à euronews.
"Estive com uma família com quatro filhas, todas em idade escolar, e a mãe tinha apenas um telemóvel, pelo que tinha de decidir qual era a filha que podia participar na aula. Muitos refugiados em áreas urbanas, mas também alguns nos campos, tinham antes um emprego no setor informal, mas essa fonte de rendimentos evaporou completamente", referiu Dominik Bartsch.
Fundo da UE será substituído por outro instrumento financeiro
Desde 2014, o Fundo Regional da União Europeia para a Crise na Síria mobilizou 2300 milhões de euros, usados para projetos no Líbano, Jordânia, Turquia e Iraque.
O dinheiro beneficia os 5,5 milhões de refugiados sírios e 1,5 milhões de pessoas dos países de acolhimento na região, que com eles partilham os serviços públicos e o mercado de trabalho.
Os projetos são na áreas da educação, saúde, água e saneamento, assistência social, empoderamento das mulheres e meios de subsistência.
Este fundo da União Europeia vai expirar em dezembro e deverá ser substituído por um novo instrumento, no âmbito do orçamento comunitário até 2027.
Uma estratégia de longo prazo é necessária, segundo Dominik Bartsch: "Atualmente, em Zaatari, um dos maiores acampamentos da região e que acolhe uma população muito grande numa zona de alta densidade populacional, estão a recolher água diretamente do aquífero subterrâneo. Portanto, é preciso reconhecer que a resposta humanitária aos refugiados está interligada com uma agenda de desenvolvimento mais ampla".
Escrutinar a Turquia
Mas é preciso maior escrutínio, em particular do que se passa na Turquia, que acolhe 3,5 milhões de refugiados sírios, disse Isabel Santos, eurodeputada portuguesa do centro-esquerda que preside à delegação parlamentar para a região do Maxerreque (Líbano, Síria, Iraque e Jordânia).
"Temos de pôr um travão no aproveitamento político que tem sido feito pelo Presidente (da Turquia) Recep Tayyp Erdogan da situação dos refugiados. O Presidente Erdogan não pode tornar a União Europeia refém da situação dos refugiados e usar os refugiados como uma espécie de escudo humano para as suas derivas políticas", disse Isabel Santos, em entrevista à euronews.
Vários médicos e civis foram mortos, há cerca de uma semana, num ataque do regime sírio a um hospital na província de Idlib, o que mostra como o retorno dos refugiados à Síria é ainda uma miragem.