Pornografia infantil a disparar de forma galopante no online

No ano passado, circularam pela Internet 85 milhões de imagens de pornografia infantil. Os estudos revelam, de forma preocupante, um aumento de 6000% neste tipo de dados, desde 2010.
Governos, sociedade civil e empresas tecnológicas reuniram-se, esta quarta e quinta-feira, em Bruxelas, para participar de uma cimeira mundial sobre o combate aos abusos infantis online, promovida pela organização internacional "WeProtect Global Alliance."
Independentemente da violência cometida, as vítimas como Daniela Ligiero, que fundou o movimento de apoio "Brave Movement", começam a perder o receio de falar e narram o pesadelo que viveram.
"Tal como muitos sobreviventes, vivi com medo e em silêncio durante muito tempo. Mas também sou uma das poucas pessoas com sorte, porque, eventualmente, tive acesso a recursos, ajuda e apoio que me permitiram ser quem sou hoje e fazer disto uma causa para que nenhuma criança tenha de passar pelo que eu passei", sublinhou Daniela, em entrevista à Euronews.
Aos 47 anos, já não tem problemas de se exprimir. Antigo elemento da administração Obama, foi abusada por um vizinho da família a partir dos seis anos de idade.
Na adolescência teve coragem para contar tudo aos pais. Apela às vítimas a exprimir-se: sempre.
"Penso que ainda há muito estigma e vergonha. E há a sensação de que isto é algo que acontece em outros lugares, não nas nossas famílias, nas nossas comunidades, e que é algo pequeno. Mas a realidade é enorme. Os dados revelam que aproximadamente uma em cada quatro meninas e um em cada oito rapazes em todo o mundo sofrerão alguma forma de violência sexual enquanto crianças. Há muitos de nós, mas a maioria está escondida", acrescentou.
A UNICEF diz que o abuso infantil online é um fenómeno recente, com uma década, mas que as consequências são para sempre, porque o que vai parar à Internet fica na Internet.
"Estamos a falar de milhões de imagens de crianças que continuam a circular. E quando essas imagens voltam a circular, voltam a traumatizar a criança. A criança nunca conseguirá libertar-se dessas imagens. Imagine que sofreu um abuso durante a infância e à medida que cresce como pessoa, essa imagem continua a circular, sempre. É interminável. É imortal. Nunca desaparece", lamenta Cornelius Williams, da UNICEF.
No mês passado, a União Europeia propôs medidas para pressionar as empresas tecnológicas a filtrar melhor esses dados e predadores sexuais. O mais importante, para todos os atores, é que se faça justiça.