Aqueles que ousavam criticar a ETA eram alvos de intimidação e assédio, pelo que uma exposição imersiva no Parlamento Europeu recorda esse ambiente.
Medo, ansiedade, desespero, isolamento, tristeza. Durante anos, estes sentimentos assombraram aqueles que ousaram falar contra o terrorismo da ETA, o grupo separatista armado do País Basco que atuou um pouco por todo o território espanhol.
Entre a sua fundação, em 1959, e a declaração de cessar-fogo, em 2011, a ETA, que significa "Euskadi Ta Askatasuna", (País Basco e Liberdade) levou a cabo uma campanha implacável para aterrorizar cidadãos, subjugar o Estado de direito e alcançar a independência do País Basco.
As ações, que incluíam tiroteios em plena luz do dia, carros armadilhados e raptos de pessoas de alto nível, eram contestadas por parte da popuação basca, que se mantinha em silêncio por medo de represálias.
Aqueles que ousavam criticar a ETA eram alvos de intimidação e assédio, pelo que uma exposição imersiva no Parlamento Europeu recorda esse ambiente, através de uma caixa negra que reproduz os gritos "ETA, mata-os!".
"Queria representar os sentimentos que os cidadãos do País Basco, e de outros lugares - mas especificamente do País Basco - que ouviam os gritos ameaçadores, que sofriam a pressão social e a ameaça direta de assassinato", disse José Ibarrola, o artista visual por detrás da exposição, numa entrevista à euronews.
Dentro da caixa reina a escuridão absoluta, interrompida por dois elementos marcantes: luzes vermelhas intermitentes e símbolos de alvos pintados à mão.
"Os símbolos dos alvos foram pintados nas casas e nas caixas de correio de pessoas ameaçadas. Algo parecdio com o que aconteceu aos judeus (na Alemanha nazi). Era marca, o estigma que os perseguia", disse o artista nascido em Bilbao.
"Mas esse símbolo do alvo estava em espaço público e podia ser visto pelos seus vizinhos e outros cidadãos para criar um sentimento de medo. Esse é o método terrorista: mata-se uma pessoa para aterrorizar 100 mil", explicou Ibarrola.
A exposição presta homenagem à Basta Ya!, uma organização da sociedade civil que reuniu pessoas de todo o espetro político para pôr fim ao terror da ETA, fundada em 1997, meses após o rapto e assassinato de Miguel Ángel Blanco, um político conservador basco.
O assassinato de Blanco foi um ponto de viragem na história espanhola e desencadeou uma onda de oposição contra o grupo paramilitar.
O Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento ao Basta Ya! , em 2000, sendo que é o mais importante prémio da União Europeia para os direitos humanos. Sete anos mais tarde, a organização foi dissolvida.
"A Europa deveria esforçar-se por preservar os princípios do pluralismo e da democracia. Na Europa somos muito privilegiados em comparação com o resto do mundo, mas penso que é muito importante que permaneçamos sempre vigilantes porque, de alguma forma, somos o farol do mundo. A Europa deve estar sempre atenta à ameaça do fanatismo", disse Ibarolla.