Após dez pacotes de sanções, como fica o comércio entre UE e Rússia?

A Rússia é o país mais sancionado do mundo e tornou-se um pária comercial no Ocidente
A Rússia é o país mais sancionado do mundo e tornou-se um pária comercial no Ocidente Direitos de autor Keith Srakocic/Copyright 2022 The AP. All rights reserved
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De  Jorge LiboreiroIsabel Marques da Silva
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A UE restringiu as exportações de uma gama variada de produtos industriais e tecnológicos que Bruxelas considera já estarem a ser utilizados pelo exército russo na guerra contra a Ucrânia.

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A decisão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de invadir a Ucrânia alterou drasticamente a composição dos fluxos comerciais entre o país e a União Europeia (UE), uma vez que dezenas de proibições, restrições e controlos impostos por Bruxelas visam asfixiar o que costumava ser uma relação comercial estreita e estável.

Os dez pacotes de sanções da UE aprovados contra o  governo de Moscovo, como retaliação pela agressão à Ucrânia, levaram a uma dolorosa reviravolta económica que forçou o Kremlin a encontrar mercados alternativos.

Desde fevereiro de 2022, a UE proibiu a exportação para a Rússia de bens de produção europeia no valor de mais de 43,9 mil milhões de euros. 

Também foram cortadas as importações de produtos russos no valor de 91,2 mil milhões de euros, de acordo com os últimos números fornecidos pela Comissão Europeia.

Isto significa que 49% das exportações e 58% das importações estão agora sob algum tipo de sanção, em comparação com os níveis de 2021, anteriores à guerra, quando o comércio UE-Rússia valia 257,5 mil milhões de euros.

Nessa altura, a Rússia era o quinto maior parceiro comercial do bloco, logo atrás da China, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Suíça.

Atualmente, a Rússia é o país mais sancionado do mundo e tornou-se um pária comercial aos olhos do Ocidente.

Vodka, petróleo bruto e carteiras Prada

A UE restringiu as exportações de uma gama variada de produtos industriais e tecnológicos que Bruxelas considera já estarem a ser utilizados pelo exército russo na guerra contra a Ucrânia.

Estes incluem radares, drones, camuflagem, câmaras, lentes, sistemas de rádio, gruas, antenas, camiões e produtos químicos usados no fabrico de armas.

Além disso, a UE proibiu exportações valiosas que são essenciais para modernizar a economia da Rússia, tais como semicondutores, computação quântica, tecnologia de refinação de petróleo, componentes de aeronaves e notas de qualquer uma das moedas oficiais do bloco.

Bruxelas impôs também uma chamada "proibição de luxo" aos produtos fabricados na UE procurados pela elite russa, tais como pérolas, jóias, bolsas, carteiras, malas, perucas, perfumes, antiguidades, porcelana, vinho, champanhe e charutos, se estes custarem mais de 300 euros.

Entretanto, produtos da UE como medicamentos, sabão, café, cacau, chá, brinquedos, árvores, plantas e líquidos para tingir, bem como vestuário e acessórios de moda abaixo dos 300 euros, continuam a serem autorizados para exportação.

De facto, marcas europeias de vestuário como Boggi, Benetton, Calzedonia, Etam e Lacoste estão entre as empresas que ainda fazem negócios na Rússia.

Do lado das importações, o valor económico sob sanções é ainda mais elevado: 91,2 mil milhões de euros em bens russos estão agora proibidos em todo o bloco, sendo estes produtos carvão, ouro, ferro, aço, maquinaria, cimento, madeira, plásticos, têxteis, calçado, couro e veículos, entre outros.

Dois dos produtos mais icónicos e cobiçados da Rússia - vodka e caviar - estão igualmente proibidos de entrarem no mercado da UE.

A última adição à lista negra de importação é a borracha sintética (usada no fabrico dos pneus europeus), uma questão que se revelou surpreendentemente controversa e quase fez com que a última ronda de sanções falhasse o prazo simbólico para aprovação, 24 de fevereiro (um ano desde a invasão).

Os combustíveis cruciais

Ainda assim, nenhuma medida se compara à proibição de importação de petróleo bruto e produtos petrolíferos refinados russos, que visa diretamente a principal fonte de receitas de Moscovo e tem sido amplamente identificada como a sanção mais ousada e de maior alcance do bloco até agora.

Tal conseguiu eliminar, gradualmente, cerca de 90% das compras de petróleo russo na UE, estimadas em 71 mil milhões de euros, em 2021.

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A proibição da UE foi ainda reforçada por um limite de preço via G7 (Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá, Japão, EUA), que fixa artificialmente o preço do petróleo que os petroleiros russos estão autorizados a transportar para o resto do mundo usando companhias ocidentais (de frete e seguradoras).

O Centro de Investigação sobre Energia e Ar Limpo (CREA), uma organização de investigação independente com sede em Helsínquia (Finlândia), estima que a proibição da UE e o limite do G7 custam à Rússia pelo menos 280 milhões de euros por dia, apesar do forte impulso de Moscovo para redirecionar os barris com desconto para a China, Índia e outros compradores.

Pelo contrário, o gás natural, o combustível nuclear e os diamantes estão entre as exportações russas mais notáveis que ainda não foram visadas pelas sanções, algo muito criticado pelo governo da Ucrânia e port alguns dos seus aliados mais próximos, nomeadamente a Polónia.

"Quanto ao décimo pacote de sanções, não estamos satisfeitos porque é demasiado brando, demasiado fraco", disse, na semana passada, o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki.

"Propomos que sejam incluídas mais pessoas. Há muito tempo que sugerimos que sejam incluídos mais produtos russos", referiu, ainda.

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