Países bálticos chocados com comentário de diplomata chinês sobre a sua soberania

Lu Shaye, embaixador da China em França
Lu Shaye, embaixador da China em França Direitos de autor Sean Kilpatrick/AP
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De  Jorge LiboreiroIsabel Marques da Silva
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Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia vão emitir declaração conjunta sobre comentário considerado "inaceitável".

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Os Estados-membros da União Europeia (UE) da região do Báltico - Estónia, Letónia e a Lituânia - consideraram "completamente inaceitáveis" os comentários feitos por Lu Shaye, embaixador da China em França, que numa recente entrevista televisiva desafiou o entendimento sobre a soberania e o reconhecimento internacional destes países.

Quando o jornalista do canal de notícias LCI perguntou a Lu Shaye se o governo de Pequim considerava a Crimeia (península ilegalmente anexada pela Rússia, em 2014) como fazendo parte da Ucrânia, este respondeu: "Depende de como entendemos este problema".

"Há aqui uma história. A Crimeia era, originalmente, parte da Rússia. Foi (Nikita) Khrushchev que ofereceu a Crimeia à Ucrânia durante o período da União Soviética", acrescentou o diplomata chinês.

O jornalista assinalou que, de acordo com as fronteiras reconhecidas pelo direito internacional, a Crimeia fazia de facto parte da Ucrânia.

"Mesmo estes países da ex-União Soviética não têm estatuto efetivo, como dizemos, ao abrigo do direito internacional, porque não há acordo internacional para concretizar o seu estatuto de país soberano", respondeu Lu.

O jornalista insistiu para que fosse mais claro e Lu disse que era desnecessário "questionar este tipo de problema", acrescentando que o mais importante era "conseguir um cessar-fogo" na Ucrânia.

O momento tornou-se viral na plataforma digital Twitter, tendo os governos dos três Estados bálticos manifestado indignação perante a interpretação de Lu.

Diplomacia da UE analisa caso

A discussão diplomática continua, esta segunda-feira, na reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia, no Luxemburgo.

"Antes de mais, é completamente inaceitável. Não somos países pós-soviéticos, somos países que foram ilegalmente ocupados pela União Soviética", disse Gabrielius Landsbergis, ministro da Lituânia.

Landsbergis esclareceu que os três Estados bálticos planeavam convocar os representantes chineses sediados nos seus países para "pedir esclarecimentos".

"Este é um fenómeno novo, nunca vimos isto acontecer antes", acrescentou Landsbergis, desenhando um paralelismo entre os comentários de Lu e os propagandistas russos que questionam a soberania e a integridade territorial da Ucrânia.

"Estas são as narrativas que ouvimos em Moscovo. E agora veio de outro país que é, aos nossos olhos, um aliado de Moscovo em muitos casos - se não militarmente, pelo menos politicamente", disse Landsbergis.

O novo ministro dos negócios estrangeiros da Estónia, Margus Tsahkna, expressou uma opinião semelhante e instou Pequim a dar uma explicação, enquanto que o Edgars Rinkēvičs, da Letónia, exigiu uma "retração total".

O governo francês expressou a sua "consternação" com as observações de Lu e expressou "plena solidariedade com todos os nossos aliados e parceiros em causa, que ganharam uma independência há muito esperada após décadas de opressão".

Numa declaração publicada no seu website, a embaixada chinesa em França disse que as palavras do embaixador não eram uma "declaração política, mas uma expressão de opiniões pessoais durante um debate televisivo" que "não deve ser excessivamente interpretada".

Em Pequim, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que "a China respeita a soberania de todos os países".

"A União Soviética era um estado federal e, no seu conjunto, era um sujeito de direito internacional nas relações internacionais. Isto não nega o estatuto das repúblicas como países soberanos após a dissolução da União Soviética", disse o porta-voz aos repórteres.

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A última controvérsia diplomática surge num momento muito delicado das relações UE-China, com tensões crescentes sobre a recusa de Pequim em condenar a invasão russa da Ucrânia, os seus esforços para promover um acordo de paz que os europeus vêem como tendencioso e seletivo e a situação de tensão no Estreito de Taiwan.

Falando aos jornalistas na segunda-feira de manhã, Josep Borrell, o chefe da política externa da UE, disse que o bloco precisava de "reavaliar e recalibrar" as suas ligações com a China, tendo em conta os desenvolvimentos dos últimos anos.

Prometeu também que os 27 ministros iriam emitir uma resposta "forte" em reação às observações de Lu, que ele tinha anteriormente descrito como "inaceitável".

"A UE só pode supor que estas declarações não representam a política oficial da China", disse Borrell durante o fim-de-semana.

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