UE-Mercosul: Presidente do Brasil alertou contra protecionismo europeu

Líder do Brasil, Lula da Silva, é o atual presidente da comunidade Mercosul
Líder do Brasil, Lula da Silva, é o atual presidente da comunidade Mercosul Direitos de autor Geert Vanden Wijngaert/Copyright 2023 The AP. All rights reserved
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De  Isabel Marques da Silva
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O Presidente do Brasil alertou contra os riscos do protecionismo europeu, numa conferência de imprensa, quarta-feira, em Bruxelas. Lula da Silva espera que a ratificação do acordo comercial União Europeia-Mercosul ocorra até ao final do ano, no espírito de "parceria entre iguais".

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O presidente do Brasil, Lula da Silva, foi uma das vozes mais audíveis sobre a necessidade do espírito de "parceria entre iguais", que foi defendido por 60 líderes na cimeira UE-CELAC, que terminou terça-feira, em Bruxelas.

Mas consciente das críticas ao modelo do agronegócio sul-americano por parte de alguns Estados-membros da UE, Lula da Silva - que também preside à comunidade Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai)- deixou claro que ambas as partes têm de ceder para haver compromisso.

"A França está muito interessada em proteger os seus produtos agrícolas, as suas pequenas e médias explorações, o seu frango, os seus legumes, o seu queijo, o seu leite e o seu vinho. Tal como a França tem esta primazia de defender com unhas e dentes o seu património produtivo, nós temos interesse em defender o nosso. A riqueza da negociação é que alguém tem de ceder", explicou Lula da Silva aos jornalistas.

A UE enviou, em fevereiro, um carta (denominada documento adicional), com exigências sobre a preservação ambiental, nomeadamente da floresta amazónica. 

É impossível imaginar que entre parceiros históricos, como nós somos, alguém faça uma carta com ameaças! Nós já estamos a preparar a nossa resposta e achamos que a UE vai concordar.
Lula da Silva
Presidente do Brasil

Este tornou-se mais um obstáculo no caminho para fechar o acordo, como ficou patente quando a euronews questionou o presidente brasileiro sobre quais seriam os pontos-chave para o Brasil na resposta à carta.

"Em primeiro lugar, não aceitamos a carta adicional da União Europeia! É impossível imaginar que entre parceiros históricos, como nós somos, alguém faça uma carta com ameaças! Nós já estamos a preparar a nossa resposta e achamos que a UE vai concordar tranquilamente com a nossa resposta", respondeu Lula da Silva, dizendo que esta será enviada nas próximas duas a três semanas.

Amazónia não será santuário mas palco da bioeconomia

O líder fez questão de realçar que a Amazónia é um "território soberano do Brasil na parte de quase quatro milhões de km2" e que o governo não o quer transformar "num santuário da Humanidade". 

"Nós queremos transformar a Amazónia num centro de desenvolvimento verde, queremos partilhar a exploração cientifica com os países que queiram participar", acrescentou.

A bioeconomia foi apresentada como aposta para  "dar a nossa contribuição para a preservação do nosso planeta". 

"No Brasil, está ficando cada vez mais claro que não se precisa derrubar uma única árvore para plantar mais soja, mis milho. Nós temos mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas, que podem ser recuperada para plantar o dobro do que plantamos hoje", explicou.

Cansaço da guerra

Relativamente à posição da América Latina sobre a guerra na Ucrânia, Lula da Silva sublinhou a necessidade de trabalhar, rapidamente, para um cessar-fogo e voltou a oferecer a sua mediação.

"Para já, nem Zelensky (presidente da Ucrânia) nem Putin (presidente da Rússia) querem falar de paz porque cada um pensa que vai ganhar. Mas vemos um cansaço dessa guerra no mundo, em vários países. Vai chegar o momento em que vai haver paz e terá de haver um grupo de países capazes de conversar com a Rússia e com a Ucrânia", referiu.

A declaração política final da cimeira UE-CELAC incluiu um parágrafo bastante generalista sobre a guerra contra a Ucrânia, sem sequer mencionar a Rússia.

Um sinal claro de que a América Latina não está disposta a abandonar a tradicional neutralidade, nem os laços económicos que muitos países da região têm com a Rússia.

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