O corredor de Suwałki, que liga a Bielorrússia e o oblast russo de Kaliningrado, era uma das maiores fraquezas da NATO relativamente à Rússia. Eis porque é que a ameaça de Moscovo na região é agora menor que nunca.
Há um local que preocupa os estrategas militares da NATO mais do que a maioria: o corredor de Suwałki.
Trata-se de uma estreita faixa terrestre, com cerca de 60 quilómetros, na fronteira entre a Polónia e a Lituânia. Vai desde a Bielorrússia, numa ponta, até ao enclave russo de Kaliningrado, na outra. É o único corredor que liga os países bálticos - Estónia, Letónia e Lituânia - aos outros membros da NATO por terra.
Em caso de conflito com a Rússia, Suwałki poderia ser atingido por fogo desde ambas as pontas. Se as forças russas ou bielorrussas conseguissem fechar o corredor, a Aliança Atlântica não poderia enviar reforços por terra e seria obrigada a recorrer às vias marítima e aérea.
O perigo está em os membros da NATO não conseguirem enviar reforços para os Estados bálticos por estes meios com a rapidez necessária e em número suficiente para repelir as tropas russas.
Contudo, uma mistura de ações da aliança e de erros de Moscovo reduziu drasticamente este risco.
Agressão russa conduz a um alargamento da NATO
Quando a Rússia lançou a ofensiva em grande escala na Ucrânia, em fevereiro de 2022, provocou ondas de choque nos países vizinhos. A maior guerra no continente europeu desde o final da Segunda Guerra Mundial desencadeou uma reavaliação completa dos pressupostos e das estratégias anteriores.
Depois de seguirem uma política de neutralidade militar durante décadas, a Finlândia e a Suécia pediram para aderir à NATO. Estocolmo continua em lista de espera devido às objeções turcas, mas Helsínquia já faz parte da aliança, o que enfraquece significativamente a ameaça que o corredor de Suwałki representa.
"A adesão da Suécia e da Finlândia cria um 'Mare Nostrum da NATO'. Provavelmente, a Rússia torna-se incapaz de exercer uma verdadeira estratégia anti-acesso ou de negação de área", disse à Euronews Guillaume Lasconjarias, professor da Universidade de Paris-Sorbonne e antigo investigador do Colégio de Defesa da Aliança Atlântica, em Roma.
Dito de uma forma simples, com os membros da NATO a "rodear" a maior parte do mar Báltico, a Rússia seria incapaz de impedir a chegada de reforços ocidentais por via marítima.
A adesão da Finlândia à NATO duplicou a extensão da fronteira da aliança com a Rússia. Nas palavras do próprio Kremlin, a Rússia viu-se obrigada a tomar contramedidas para garantir a sua própria segurança, em termos táticos e estratégicos.
Esta maior exposição a um país da organização reduz as hipóteses de qualquer ataque russo a outros membros que façam fronteira com o Suwałki.
Fracasso na Ucrânia reduz a capacidade militar russa
Quando Putin ordenou a invasão da Ucrânia no ano passado, acredita-se que o fez confiante de que seria uma operação curta, rápida e bem-sucedida. O think tank Rusi, sediado em Londres, afirma que há documentos russos que mostram que Moscovo tinha um plano de dez dias para tomar o país e matar os seus líderes.
Nos quase 600 dias que decorreram desde o início da guerra, as forças russas não conseguiram dominar alvos importantes como Kiev, foram humilhadas pela contraofensiva ucraniana em Kharkiv e perderam quase 50 mil soldados, de acordo com a primeira análise estatística independente.
Ainda ocupada com a Ucrânia, a Rússia não tem capacidade militar para lançar qualquer incursão no corredor de Suwałki. Sem um resultado bem-sucedido na Ucrânia, é pouco provável que Putin possa ordenar qualquer outra ação militar importante. É ainda menos provável, dado que os países envolvidos no caso do Suwałki são membros da NATO.
Báltico, União Europeia e NATO repensam estratégias de defesa
A invasão da Ucrânia levou a NATO a realizar uma enorme revisão estratégica. A resposta da aliança costumava basear-se em pequenas forças que dissuadiriam a agressão russa, com receio de desencadear o artigo 5º e, portanto, uma resposta coletiva ao ataque.
Mas agora, a organização fala em defender cada centímetro do seu território. Criou quatro novos grupos de combate em quatro países (Bulgária, Hungria, Roménia e Eslováquia), duplicou o número de tropas distribuídas por oito grupos de combate e enviou mais dezenas de navios e centenas de aviões para a parte oriental da aliança.
Elaborou ainda novos planos para chegar e apoiar os países bálticos em caso de invasão e tenciona reforçar a sua presença na região.
Lasconjarias sublinha que os países bálticos fizeram "maiores esforços na mobilização das suas forças e da sua população, com o desenvolvimento da 'defesa total' entre os seus povos (através, por exemplo, da Liga de Defesa da Estónia)".
As novas iniciativas da União Europeia destinadas a aumentar a mobilidade militar, tais como a construção de uma nova linha férrea trans-Báltica, também permitirão à NATO reposicionar as suas forças mais rapidamente.
Consequentemente, as hipóteses de Moscovo conseguir manter os Estados Bálticos isolados através do fecho do corredor de Suwałki são reduzidas.
Ironicamente, foi o próprio Kremlin, através da invasão da Ucrânia, que tornou um ataque ao Suwałki tão improvável.