As divisões entre Estados-membros da União Europeia (UE) sobre a forma como Israel deve reagir na Faixa de Gaza, em resposta ao ataque do grupo palestiniano Hamas, a 7 de outubro, estão a causar danos na sua reptução, alertam os analistas.
Os analistas avisam que estão em causa a credibilidade quando a UE se pronuncia sobre leis da guerra e direito humanitário e o papel do bloco como futuro mediador da paz na região.
A ambiguidade da UE tem sido criticada pelos parceiros na região, incluindo o rei Abdullah da Jordânia, que falou de desvalorização das vidas palestinianas face às vidas israelitas.
A Alemanha foi um dos Estados-membros que, na cimeira da UE, na semana passada, impediu uma declaração unânime a pedir um cessar-fogo, tendo o apelo ficado por "pausas e corredores humanitários" no acesso à Faixa de Gaza.
"Penso que a Alemanha pode até ser mais pró-israelita na sua posição e proclamação do direito de Israel de se defender do que os Estados Unidos. E não creio que a posição dentro da Alemanha, que tem o apoio de toda a coligação governamental, possa mudar no curto ou médio prazo", disse Mujtaba Rahman, Diretor-executivo do centro de estudps Grupo Eurásia, em declarações à euronews.
"Isso não deverá acontecer, independentemente da forma como vai avançar a invasão terrestre em Gaza e das vítimas civis e da devastação que todos, provavelmente, veremos. Tal irá, claramente, abrir uma divisão dentro do Conselho Europeu entre os países que têm uma posição e perspetiva ligeiramente diferentes sobre o conflito e irá subtrair legitimidade e influência à diplomacia europeia", concluiu.
União na cimeira da UE, desunião na assembleia-geral da ONU?
Na assembleia-geral da ONU, no sábado, Alemanha, Áustria, Croácia e Chéquia foram os quatro países da UE que votaram contra uma resolução sobre um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Houve 15 Estados-membros que se abstiveram e Portugal foi um dos oito que votaram a favor. Mas há analistas que consideram que o bloco ainda vai a tempo de se recompor.
"Ainda pode ter um papel a desempenhar. Tem, agora, de lidar com uma espécie de desvantagem no que diz respeito aos países árabes e, de forma mais geral, com muitos parceiros no Sul do globo, que perderam um pouco a confiança na diplomacia da União Europeia", explicou Pierre Viemont, ex-diplomata dos serviços de política externa da UE, à euronews.
"Portanto, temos de reconstruir isso, temos de os contactar a todos. Mas não podemos esquecer-nos que foi a UE que surgiu com a ideia de uma solução de dois Estados, com a necessidade de autodeterminação para os palestinianos e que deu apoio à OLP como representante do povo palestiniano", realçou Viemont.
A UE propõe que se realize, dentro de seis meses, uma Conferência Internacional de Paz para relançar as conversações sobre uma solução assente na coexistência de dois Estados, tal como prevê uma resolução da ONU, de 1974.