"Tinder para empregos" - uma plataforma para recrutar migrantes para a UE

Comissários europeus Ylva Johansson, Margaritis Schinas e Iliana Ivanova
Comissários europeus Ylva Johansson, Margaritis Schinas e Iliana Ivanova Direitos de autor Claudio Centonze/EU/Claudio Centonze
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De  Mared Gwyn Jones
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Artigo publicado originalmente em inglês

A Comissão Europeia anunciou, quarta-feira, a criação de uma nova plataforma digital para facilitar a candidatura de migrantes a ofertas de emprego nos países da União Europeia (UE). Oficialmente chama-se Reserva de Talentos da UE, mas já começa a ser conhecida por "Tinder para empregos".

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Foi a própria comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, que usou a comparação entre a Reserva de Talentos da UE e a aplicação de encontros românticos Tinder, no sentido de ajudar os migrantes a encontrar as melhores oportunidades de emprego nos países da UE, de acordo com as suas competências e qualificações.

A iniciativa visa atrair mão-de-obra para áreas no mercado de trabalho da UE que, cronicamente, têm dificuldade em recrutar recursos humanos, tais como a construção civil, as tecnologias de informação e comunicação ou o cuidado de pessoas vulneráveis.

A participação na reserva de talentos é voluntária para os Estados-membros, mas a Comissão Europeia espera que os governos mostrem interesse em aderir já que serão disponibilizados fundos para a formação profissional e a melhoria das competências dos candidatos.

A Europa está envolvida numa corrida mundial ao talento. Da mesma forma que estamos a travar uma corrida global às matérias-primas e à energia, estamos também a travar uma corrida global ao talento contra concorrentes muito poderosos.
Margaritis Schinas
Vice-presidente da Comissão Europeia

A nova plataforma digital vai basear-se na existe EURES, usada por trabalhadores que têm a nacionalidade dos Estados-membros da UE ou permissão legal para aí trabalharem.

"Esta reserva de talentos não tem por objetivo pôr em causa a competência nacional para decidir sobre as quotas de migração laboral. Trata-se de facilitar o recrutamento das competências certas, da forma mais fácil e rápida possível", explicou Johansson, acrescentando que muitos Estados-membros pediram ao executivo comunitário que ajudasse a coordenar a correspondência entre os interessados e as oportunidades.

A população ativa na UE está em claro declíneo e a Comissão Europeia defende que devem ser criados mais mecanismos legais para os migrantes que querem trabalhar no bloco, onde já regista um défice de sete milhões de trabalhadores.

O executivo comunitário tem alertado para potenciais consequências económicas desta tendência demográfica, por causa de pressão adicional sobre os orçamentos públicos, o sistema de pensões e o sistema de saúde.

"Não devemos esquecer o potencial inexplorado da mão de obra doméstica da UE, mas não é suficiente", afirmou Margaritis Schinas, vice-presidente da Comissão Europeia.

"Vamos precisar de mais migração laboral", acrescentou Johansson, explicando que, sem os dez milhões de nacionais de países terceiros a trabalhar na UE (cerca de 5% da sua força de trabalho), a economia do bloco "pararia".

Estamos a intensificar a prevenção de chegadas irregulares e de mortes no mar Mediterrâneo e no oceano Atlântico. Mas para o fazermos de forma eficaz, precisamos também de criar vias legais.
Ylva Johansson
Comissária Europeia para os Assuntos Internos

Desencorajar entradas por via ilegal e perigosa

Ylva Johansson, que tem na sua pasta as políticas de migração, afirmou ainda que a reserva de talentos pode ajudar a desencorajar os migrantes de embarcarem em viagens perigosas através de rotas facilitadas por contrabandistas, reduzindo assim o número de chegadas irregulares.

"Estamos a intensificar a prevenção de chegadas irregulares e de mortes no mar Mediterrâneo e no oceano Atlântico. Mas para o fazermos de forma eficaz, precisamos também de criar vias legais", explicou Johansson.

Mas esta mensagem não seduz vários governos, incluindo os de França, Itália, Hungria e Polónia, que preferem fomentar  políticas pró-natalidade, como estratégia para colmatar a falta de mão de obra.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, introduziram, nomeadamente, incentivos tais como reduções fiscais e subsídios para inverter a rápida diminuição da população nestes países.

Mas o vice-presidente Schinas alertou contra os riscos de cair em "soluções milagrosas" propostas por demagogos e populistas.

"Já estamos habituados à toxicidade que algumas forças políticas querem introduzir no debate público sobre a migração. Prometem que a solução mágica é fechar as fronteiras, voltar ao nacionalismo, recusar todo o tipo de negociações com os vizinhos, com Bruxelas. "Não seguimos essa via [...] e continuaremos a opor-nos a esse discurso populista", acrescentou Schinas.

Uma corrida mundial ao talento

O vice-presidente apresentou o plano como uma "ferramenta de política externa e de política social", uma vez que visa aumentar a vantagem competitiva industrial da Europa na cena mundial, com uma procura crescente das competências necessárias para descarbonizar e digitalizar partes da economia.

"A Europa está envolvida numa corrida mundial ao talento. Da mesma forma que estamos a travar uma corrida global às matérias-primas e à energia, estamos também a travar uma corrida global ao talento contra concorrentes muito poderosos que têm vias diretas para os nacionais de países terceiros: os Estados Unidos, o Canadá, a Nova Zelândia e a Austrália", explicou.

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A plataforma foi concebida para fazer face à escassez de mão de obra nos setores de baixas, médias e altas qualificações, com especial ênfase nos setores estratégicos "ligados à transição ecológica e digital".

A Comissão Eurpeia apelou, também, aos governos dos Estados-membros para simplificarem os seus processos de reconhecimento de competências e qualificações estrangeiras, afirmando que a burocracia estava a desencorajar a imigração de trabalhadores qualificados, um fenómeno chamado "desperdício de cérebros".

O racismo é também reconhecido como um problema a ser abordado: "Precisamos de lutar contra o racismo porque este é também um obstáculo para que as pessoas qualificadas optem por vir para a União Europeia", afirmou Johansson.

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