Cimeira: UE avisa China que "não tolerará" concorrência desleal

O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente chinês, Xi Jinping
O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o Presidente chinês, Xi Jinping Direitos de autor Dario Pignatelli/
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Artigo publicado originalmente em inglês

Os líderes europeus "não vão tolerar que a nossa base industrial seja prejudicada pela concorrência desleal", avisou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, quinta-feira, após a cimeira, em Pequim, com o pesidente chinês Xi Jinping.

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"A concorrência tem de ser justa. Insistimos numa concorrência leal no mercado único e, por conseguinte, também insistimos numa concorrência leal por parte das empresas que entram no nosso mercado único", afirmou a presidente da Comissão Europeia em conferência de imprensa.

A advertência de Ursula von der Leyen foi feita após o primeiro encontro pessoal entre os dirigentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Charles Michel, e o presidente chinês, Xi Jinpeng, nos últimos cinco anos. 

No entanto, apesar da importância da cimeira, que decorreu num clima de tensões geopolíticas e de uma relação comercial cada vez mais difícil, não foram assumidos novos compromissos pelas partes.

A União Europeia (UE) receia que as restrições à importação e os subsídios concedidos por Pequim às empresas chinesas estejam a colocar as empresas europeias numa situação de desvantagem injusta, inflacionando o défice comercial do bloco com a China.

Esperamos que a China tome medidas mais concretas para melhorar o acesso ao mercado e o ambiente de investimento para as empresas estrangeiras.
Charles Michel
Presidente do Conselho Europeu

A China é o maior parceiro comercial da UE, com um comércio de mercadorias que ascende a 2,3 mil milhões de euros, por dia. Mas as importações que a UE faz da China excedem as exportações do bloco em quase 400 mil milhões de euros. 

Este défice aumentou dez vezes, nos últimos 20 anos, e duplicou nos últimos dois anos. Segundo von der Leyen, "estes desequilíbrios são insustentáveis".

"Estou satisfeita por termos acordado com o Presidente Xi que o comércio deve ser equilibrado entre nós", acrescentou.

As discussões sobre a correção dos desequilíbrios comerciais com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, foram aprofundadas, disse von der Leyen, embora não tenham surgido imediatamente medidas concretas para resolver os desequilíbrios.

"Esperamos que a China tome medidas mais concretas para melhorar o acesso ao mercado e o ambiente de investimento para as empresas estrangeiras", afirmou o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também presente na reunião.

De acordo com a televisão estatal chinesa, o primeiro-ministro Li disse aos dois dirigentes da UE que a China se opõe à "politização" dos laços económicos e comerciais.

A UE adoptou uma abordagem de "desarriscar", receando que a sua dependência da China em relação a materiais críticos utilizados em aplicações de tecnologia mais ecológica possa criar dificuldades às indústrias e pôr em risco a sua segurança.

Isto significa utilizar os instrumentos de defesa comercial e interna da UE, tais como o inquérito anti-subvenções em curso sobre os automóveis eléctricos de baixo custo fabricados na China, que estão a inundar o mercado da UE.

Von der Leyen insistiu que a redução dos riscos não é "exclusiva da China" e sublinhou que a chamada estratégia de autossuficiência do governo de Pequim é semelhante ao plano da UE. Von der Leyen sublinhou que a UE não está a tentar dissociar a sua economia da economia chinesa, como fez com a economia russa após a invasão da Ucrânia.Ucrânia, Gaza e Taiwan na agenda

Tanto von der Leyen como Michel aproveitaram  para instar Xi a fazer mais para reprimir a circunvenção de sanções, em que as empresas chinesas são suspeitas de alimentar indiretamente a campanha de guerra do governo russo na Ucrânia.

O bloco suspeita que produtos de uso corrente - incluindo os fabricados na UE - que incluem componentes necessários para o fabrico de drones, mísseis e artilharia estão a ser reexportados para a Rússia através da China.

Os Estados-Membros têm feito pressão para incluir sanções contra as empresas chinesas suspeitas de facilitarem a evasão às sanções no 12º pacote de sanções da UE, atualmente em negociação.

Um alto funcionário da UE afirmou que, embora a exportação global de produtos de alta prioridade para o campo de batalha da China para a Rússia tenha diminuído, os últimos dados sugerem que as exportações dos chamados "bens de dupla utilização", que podem ser redirecionados para fins militares, estão a aumentar.

De acordo com Michel, a UE identificou uma lista de empresas "suspeitas de desempenharem um papel na evasão às sanções".

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Von der Leyen afirmou que a posição da China sobre a guerra na Ucrânia "também definirá" as relações UE-China. A China assumiu uma posição neutra em relação à guerra e propôs um plano de paz de 12 pontos para a Ucrânia, em março deste ano, mas absteve-se de cortar os laços com Putin.

Os líderes também abordaram a espinhosa questão da guerra em curso no Médio Oriente e o complexo caminho para uma paz duradoura na região.

"Concordamos que a prioridade máxima deve ser a prestação de ajuda vital aos mais vulneráveis", afirmou Michel.

A UE é o maior doador de ajuda aos territórios palestinianos e quadruplicou a sua ajuda humanitária para 100 milhões de euros, este ano, em resposta à crise que assola a Faixa de Gaza. Em comparação, a resposta da China não é muito significativa, tendo oferecido dois milhões de dólares (1,86 milhões de euros) de ajuda humanitária adicional desde o início do conflito em outubro.

Um alto funcionário da UE afirmou que a cimeira era uma oportunidade para von der Leyen e Michel pressionarem a China a aumentar a sua resposta humanitária.

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Os dois líderes da UE, acompanhados pelo principal diplomata do bloco, Josep Borrell, também expressaram a sua preocupação com as tensões no Estreito de Taiwan e no Mar do Sul da China.

O bloco e os seus homólogos ocidentais opõem-se a qualquer alteração do "status quo" em Taiwan, uma ilha democraticamente auto-governada que a China considera uma província separatista que deveria ser reunificada com o continente.

O aumento da atividade militar no Estreito de Taiwan e o precedente criado por Putin na Ucrânia fizeram soar o alarme na Europa sobre uma potencial escalada em Taiwan. Mas as posições europeias e chinesas continuam muito distantes.

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