A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse à Euronews que está "confiante" de que os partidos políticos pró-europeus, de centro, possam evitar uma vaga de extrema-direita nas eleições europeias de junho.
"Preocupa-me que, se não formos ao encontro da maioria pró-europeia e construtiva do centro, os nossos eleitores sintam que não têm escolha, que têm de se retirar para as franjas, onde ficam as pessoas que querem destruir em vez de construir", explicou a presidente Roberta Metsola, referindo-se à extrema-direita eurocética, na entrevista concedida segunda-feira, em Estrasburgo (França), durante a primeira sessão plenária de 2024.
As sondagens prevêem um aumento do apoio aos partidos de extrema-direita nas eleições europeias, de 6 a 9 de junho.
Esta tendência segue-se à surpreendente vitória eleitoral nos Países Baixos do líder de extrema-direita, Geert Wilders, e surge numa altura em que os partidos de extrema-direita, incluindo a Alternativa para a Alemanha e o Rassemblement National de França, registam ganhos históricos nas sondagens nacionais.
Mas as projeções também sugerem que a atual coligação informal do Parlamento Europeu - composta por conservadores, social-democratas, socialistas e liberais -, que trabalha para garantir a aprovação da legislação da UE, se poderá mater como maioria.
Metsola, que pertence ao Partido Popular Europeu (centro-direita) e que assumiu a presidência do Parlamento Europeu em janeiro de 2022, afirmou que a coligação provou a sua resiliência, ao encontrar soluções para desafios como a pandemia da Covid-19 e a invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Estes são grandes desafios que ultrapassámos e em relação aos quais continuamos a mostrar unidade, e penso que é aí que encontraremos essa unidade no centro", explicou Metsola.
"Por isso, penso que podemos oferecer uma alternativa. Podemos contrariar essa ameaça (de extrema-direita), se lhe quisermos chamar ameaça, e estou confiante de que o podemos fazer", acrescentou.
Próximos cinco anos "não serão mais fáceis"
Mas Metsola também advertiu que o próximo mandato de cinco anos do Parlamento Europeu "não será mais fácil" do que o anterior.
Desde as eleições de 2019, o bloco de 27 países tem enfrentado uma série de desafios imprevistos, incluindo a pandemia, a invasão da Ucrânia pela Rússia e uma crise económica iminente.
Questionada sobre a possibilidade de alguns partidos de extrema-direita se juntarem numa coligação europeia, Metsola recusou-se a especular sobre a formulação do futuro parlamento, assegurando que o atual parlamento "encontrou uma unidade sem precedentes no centro".
Especula-se que o Partido Popular Europeu - o maior grupo político de centro-direita do Parlamento - poderá estar aberto a uma aliança com o partido de extrema-direita Fratelli d'Italia, da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni.
O presidente do PPE, Manfred Weber, reuniu-se com Meloni no ano passado para discutir uma potencial colaboração no ano da UE, embora a perspetiva tenha sido rejeitada por outras figuras proeminentes do centro-direita europeu.
"Vamos ver o que fizemos nesse centro, nesse centro pró-europeu. É nisso que temos de nos basear e espero poder continuar a fazê-lo de 2024 a 2029", disse Metsola.
O caso de corrupção
O Parlamento Europeu, com 705 membros, é a única instituição democraticamente eleita do bloco e foi abalado pelo chamado escândalo de corrupção "Qatargate", que consistia em dinheiro para alguns eurodeputados em troca de influência política.
Em dezembro de 2022, a vice-presidente do Parlamento, Eva Kaili, e outros altos responsáveis parlamentares foram acusados de aceitar centenas de milhares de euros para influenciar decisões da UE em benefício de funcionários do Qatar e de Marrocos. Todos negam veementemente as acusações.
Os suspeitos eram maioritariamente da bancada de centro-esquerda (Socialistas& Democratas) e provocou uma onda de choque em Bruxelas, orbigando o Parlamento a adotar medidas para evitar abuso de regras pouco rigorosas em matéria de conduta do pessoal.
A Provedora de Justiça Europeu, Emily O'Reilly, questionou, no entanto, se as reformas introduzidas pela iniciativa de Metsola são suficientes para restaurar a confiança dos eleitores.
Metsola instou os eleitores a julgarem o Parlamento pela sua reação ao caso de corrupção e ao trabalho feito pelos eurodeputados: "Tomámos a decisão imediata de introduzir medidas para nos certificarmos que abordaríamos as lacunas, para inserir barreiras de segurança e para garantir que os alarmes soam mais cedo", explicou Metsola, assegurando que as regras "são cumpridas" no Parlamento.
"Fizemos muito trabalho no último ano e gostaria que fôssemos julgados por isso, e não pelas ações e alegações relativas a um pequeno número de indivíduos", acrescentou.