A frustração com o atraso na adesão da Macedónia do Norte à União Europeia (UE) está a criar abertura para a Rússia semear a discórdia no país através de um "arsenal" de guerra híbrida, alertou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Bujar Osmani, em entrevista à euronews.
"É óbvio que a Rússia concebeu a desinformação para impedir a Macedónia do Norte de atingir os seus objetivos estratégicos, que são a adesão à NATO e à UE", disse Bujar Osmani, precisando que essas campanhas de desinformação incluem "trolling" e notícias falsa para "fraturar o tecido social da sociedade" no país e em toda a região dos Balcãs Ocidentais.
"A frustração que se acumula ao longo do caminho (para a adesão à UE) está a ser desviada por forças malignas que tentam canalizar essa energia de frustração para o seu moinho de vento", acrescentou.
A Macedónia do Norte tornou-se oficialmente candidata à adesão à União Europeia há quase duas décadas, juntamente com a Croácia e a Eslovénia, atualmente membros plenamente integrados na UE.
O seu percurso de adesão tem sido interrompido devido a disputas com a Grécia sobre o nome do país e com a Bulgária sobre os direitos das minorias com esta origem que residem na Macedónia do Norte.
Outros quatro países da região - Albânia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Sérvia - são também candidatos oficiais à adesão à UE. Foram iniciadas negociações formais com todos os países, exceto a Bósnia-Herzegovina. O Kosovo, que não é reconhecido como um Estado independente por todos os Estados-membros da UE, é um "potencial candidato" à adesão.
"Encruzilhada geopolítica"
Mas as suas candidaturas têm sido afetadas por atrasos e dificuldades. Osmani afirmou que a região se encontra atualmente numa "encruzilhada geopolítica", na qula a arena política está a tornar-se cada vez mais polarizada, entre pró-europeus e anti-europeus.
O movimento separatista na Republika Srpska da Bósnia, de maioria sérvia, e os atrasos na normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo são exemplos de tensões que estão a ser exacerbadas por atores apoiados pela Rússia, disse Osmani.
"Creio que por detrás de todos estes esforços para manter a região paralisada, para manter a região em confrontos e conflitos perpétuos, está a Federação Russa, através do seu arsenal de meios, mas também de agentes estatais e não estatais por procuração na região", afirmou.
"A única resposta é continuar inequivocamente com a nossa agenda para a integração euro-atlântica", acrescentou.
Osmani apoia a nova abordagem da Comissão Europeia de integração "faseada", incluindo o plano de crescimento de seis mil milhões de euros, para 2024-2027, concebido para abrir o mercado comum do bloco aos candidatos dos Balcãs Ocidentais e que deverá impulsionar as suas economias em até 10%.
"Apercebemo-nos de que o conceito-padrão de adesão à UE é tudo ou nada. O caminho é longo, a viagem é difícil e as pessoas e os candidatos não vêem quaisquer benefícios no próprio caminho", explicou Osmani.
"O que queremos ver é uma integração gradual da região no mercado único, antes da adesão e uma integração nos formatos formais da União Europeia antes da própria integração", acrescentou.
Isto poderia significar a atribuição do estatuto de observador às nações dos Balcãs Ocidentais nas reuniões ministeriais da UE, como o Conselho da UE dos Negócios Estrangeiros, uma ideia que os seus homólogos da UE apoiam, disse Osmani.
A arma da desinformação
Osmani falou à Euronews após o lançamento do segundo relatório anual de desinformação do Serviço Europeu para a Ação Externa (SEAE), que apontou a Rússia como a principal responsável pela disseminação de desinformação prejudicial nas plataformas digitais e tendo a Ucrânia como o principal alvo.
Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE, descreveu a desinformação como "uma das ameaças mais significativas do nosso tempo" e um "cancro que põe em risco a saúde da democracia".
O relatório, que se baseia numa investigação de 750 casos da chamada Manipulação e Interferência de Informação Estrangeira (MIE), refere que outros Estados, como a China, também utilizam a interferência para minar as instituições democráticas e fomentar a polarização no estrangeiro, como forma de "atingir os seus próprios objetivos políticos e económicos".
Os indivíduos mais visados nos casos investigados foram o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, o presidente francês Emmanuel Macron, o próprio Josep Borrell, bem como celebridades como os atores norte-americanos Nicolas Cage e Margot Robbie, cujas vozes e rostos foram deliberadamente manipulados para semear a desinformação.
O Telegram e o X surgiram como as plataformas digitais preferidas para os ataques da MIE, com ataques também orquestrados no Facebook, TikTok, Youtube e Reddit, bem como nas redes sociais russas VKontakte e Odnoklassniki.
Embora o relatório assinale que é "prudente" preparar-se para potenciais interferências antes das eleições europeias de junho, também adverte contra "inflacionar a ameaça".
Durante o evento, Osmani afirmou que os Balcãs Ocidentais são o "ponto fraco" da UE no que se refere à interferência estrangeira e a "linha de fogo" na guerra de desinformação entre o Leste e o Oeste.