Ataques russos em solo ucraniano pela segunda noite consecutiva relançam debate sobre o levantamento das restrições impostas a Kiev pelo Ocidente.
A Rússia lançou uma vaga combinada de ataques contra a Ucrânia pela segunda noite consecutiva, sendo o de segunda-feira o maior ataque aéreo desde o início da guerra em grande escala, com mais de 230 mísseis e drones.
Os ataques renovaram os apelos aos aliados ocidentais para que levantem as restrições à utilização de armas de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia.
"Para evitar este tipo de ataques de forma eficaz e eficiente, é preciso visar o atirador, é preciso derrubar os lançadores que acionam estes sistemas de mísseis, e não podemos esperar que cheguem ao nosso espaço aéreo para os combater.", afirma Fabian Rene Hoffmann, investigador de doutoramento no Projeto Nuclear de Oslo, da Universidade de Oslo.
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, existem pelo menos 250 alvos militares e paramilitares na Rússia dentro do alcance dos mísseis ATACMS que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia.
"O que está em causa é o facto de os decisores políticos terem de ponderar esses riscos. Estarão dispostos a correr o risco de que, de facto, se verifique uma catástrofe humanitária de uma escala sem precedentes na Europa? Ou assumimos os riscos residuais em termos de gestão da escalada e de potenciais respostas russas e permitimos que a Ucrânia utilize finalmente estes sistemas de armas ocidentais contra alvos russos?", questiona Hoffmann.
Atualmente, Washington só autoriza ataques com o HIMARS (sistema de rockets de artilharia de alta mobilidade), fornecido pelos Estados Unidos e equipado com o GMLRS (sistema de rockets de lançamento múltiplo guiado), permitindo, no máximo, que a Ucrânia ataque 20 dos 250 alvos que poderia atacar com o ATACMS.
Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, as "forças ucranianas não têm de atingir todos os alvos militares e paramilitares russos na Rússia que estejam ao alcance das armas fornecidas pelo Ocidente para começarem a gerar pressões operacionais significativas sobre o exército russo".
Ainda assim, o levantamento das atuais restrições ocidentais colocaria uma séria ameaça de ataque ucraniano de longo alcance que forçaria o Kremlin a tomar uma decisão e, provavelmente, levaria o comando militar russo a reconfigurar significativamente os meios em toda a retaguarda para se proteger dos ataques ucranianos.