Houve uma manifestação em Lisboa junto ao teatro onde o ator Adérito Lopes foi agredido, mas a onda de solidariedade foi também visível no Porto e em Coimbra com centenas de pessoas a condenarem os discursos e crimes de ódio.
Decorreram, no domingo, várias manifestações em Portugal contra os discursos e crimes de ódio na sequência da agressão ao ator Adérito Lopes, levada a cabo por um grupo conotado com movimentos neonazis, na noite da última terça-feira, 10 de junho, Dia de Portugal, no exterior do teatro Cinearte - A Barraca em Lisboa.
Na capital portuguesa, centenas de pessoas, muitas com cravos na lapela, juntaram-se durante a tarde no local onde aconteceu a agressão, no Largo de Santos, sob o lema “Não queremos viver num país do medo”, entoando palavras de ordem como "Fascismo nunca mais, 25 de abril sempre".
O protesto foi organizado por diversas estruturas da sociedade civil, coletivos artísticos e associações, incluindo a SOS Racismo, a Plateia e os Artistas Unidos.
"Nós achámos que não era possível que a agressão ao ator Adérito, a agressão a imigrantes, a agressão racista que se tem intensificado, não tivesse uma resposta de solidariedade e de normalidade democrática”, afirmou à RTP Andreia Galvão, da organização, também ela atriz, sublinhando que não são só os imigrantes que estão em perigo.
"Os alvos dos neonazis ou da extrema-direita somos mesmo todas as pessoas”, frisou, para, de seguida, lançar um desafio às autoridades portuguesas.
“Esses grupos, sendo inconstitucionais, deveriam ser desmantelados”, defendeu.
Esquerda junta-se ao protesto
Na manifestação em Lisboa estiveram líderes de partidos políticos como Paulo Raimundo do PCP e Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda, tendo ainda marcado presença Jorge Pinto, eleito pelo Livre.
O líder dos comunistas condenou o "ato de ódio gratuito" e pediu celeridade à justiça na punição do agressor.
Já Mariana Mortágua responsabilizou o governo e a Câmara de Lisboa, considerando que houve uma relativização do "discurso racista", e prometeu combater aquilo a que chamou "vaga de fascismo, de extremismo de direita".
Quanto a Jorge Pinto, enfatizou igualmente a necessidade de lutar contra o discurso de ódio e travar o crescimento acelerado do clima de medo.
A solidariedade com Adérito Lopes estendeu-se a outras cidades como Porto, Coimbra e Funchal, com centenas de manifestantes a destacarem a importância da luta pela liberdade, contra o fascismo.
Adérito Lopes, ator da companhia A Barraca, foi agredido quando se preparava para entrar no espetáculo "Amor é fogo que arde sem se ver", uma homenagem a Camões, com entrada livre. A diretora da companhia, Maria do Céu Guerra, relatou que, por volta das oito da noite, um grupo de pessoas que exibia cartazes xenófobos provocou vários artistas antes de consumar a agressão.
Na quarta feira, o Ministério Público confirmou a abertura de um inquérito aos incidentes.