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Nadadores salvadores da América Latina nas praias portuguesas por falta de profissionais nacionais

Praia de Carcavelos
Praia de Carcavelos Direitos de autor  Armando Franca/Copyright 2021 The AP. All rights reserved
Direitos de autor Armando Franca/Copyright 2021 The AP. All rights reserved
De Vítor Rainho e Sara Porto
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Não é só o futebol português que recruta brasileiros e argentinos. As praias estão cheias de nadadores salvadores da América Latina, para suprimir a falta de nacionais. Há associações que tratam de toda a logística, mas as regras variam de concelho para concelho.

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O verão chegou em força e as praias estão cheias, mas para poderem estar ‘abertas’ precisam de nadadores salvadores, vulgo banheiros, que não há em Portugal em número suficiente para as encomendas. Por isso, associações portuguesas ligadas ao setor, contratualizam com empresas brasileiras e argentinas, a vinda dos famosos nadadores salvadores. Como em Portugal as praias concessionadas, bem como as piscinas camarárias e não só, precisam de quem as vigie, algumas o ano inteiro, muitos dos ‘empregados’ que vêm da América Latina acabam por ficar, embora a maioria regresse a casa quando termina a época balnear.

A realidade nacional não é homogénea e, por isso, as soluções encontradas para cada zona obedecem a critérios muito específicos: há áreas onde os nadadores salvadores têm direito a ‘casa’, alimentação e transporte – ficando com um ordenado mensal de 1.500 euros – e há outros que têm de pagar o seu quarto, ficando com um pouco menos ao fim do mês.

Para se ter uma ideia dos problemas que alguns concessionários enfrentam, Fábio Gomes, proprietário do bar-restaurante Magic Catus, Praia da Vieirinha, no concelho de Sines, dá um exemplo prático:

"Para os nadadores salvadores pago 12.700 euros. São três meses a dividir por três. Este ano vou pagar à Resgate – Associação Nadadores Salvadores do Litoral Alentejano – 23.623 euros: estou a pagar quase 13 mil euros de custo com o pessoal, quase 500 euros de supervisão, encargos administrativos e comunicações mais 500 euros, consumíveis (coisas que eles usam) 1.672 euros, alojamento 2600, transporte 1.800… isto tudo com IVA fica-me naquele valor. Não é absurdo?".

Praias iguais a discotecas

Bernardo Reino, o Gigi da Quinta do Lago, concorda com Fábio Gomes. "Sou obrigado a ter seis nadadores salvadores. O negócio da praia não dá rentabilidade nenhuma, porque 90% dos clientes que vão para a praia não gastam um tostão e ainda enchem garrafas nas torneiras dos lavatórios da concessão. Não me posso queixar porque tenho o restaurante há 40 anos e o hotel em frente ‘fica’ com 50 camas na praia. Mas as praias fazem-me lembrar as discotecas antigamente. Toda a gente dançava, mas poucos pagavam. Tenho alguma dificuldade em perceber como é que algumas concessões se aguentam", diz o empresário que apenas ‘explora’ os toldos da praia com o seu nome. Gigi entende que as câmaras e a Marinha é que deviam responsabilizar-se pela segurança nas praias, apesar de ter dois nadadores há 12 anos e um há 18. "Criou-se uma moda das praias em Portugal, até tem as fluviais! Não há nadador salvador para tanta praia que fizeram em Portugal. Só não tem praia no Chiado porque ainda não se lembraram", remata.

Já João Carreira, concessionário das praias Serena e Morena, na Costa da Caparica, entende que houve uma grande evolução na segurança desde que há 40 anos se ‘instalou’ no Waikiki, atribuindo o facto à existência da Associação Caparica Mar que trata de todos os pormenores, no que diz respeito à contratação de nadadores salvadores. Carreira fala dos benefícios dos planos integrados – com as associações a tratarem de tudo – que permitiu reduzir imenso o número de nadadores salvadores. "Porque conseguimos ter mais qualidade no serviço aos utentes, nomeadamente a assistência de praia. Todos os nadadores salvadores trabalham em equipa, pois têm rádios e podem acudir a quem está com dificuldades".

Já para o Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) reconhece que há muitos nadadores salvadores estrangeiros. "O processo de certificação de candidatos estrangeiros, maioritariamente oriundos do Brasil e de países da América Latina, decorre com normalidade. Estes profissionais devem submeter-se ao Exame Específico de Aptidão Técnica (EEAT) em Portugal. Este ano já foram validadas competências pelo ISN, através do EEAT, a 355 nadadores-salvadores estrangeiros".

Praia de Carcavelos
Praia de Carcavelos Armando Franca/Copyright 2021 The AP. All rights reserved

A realidade alentejana

Segundo António Mestre, coordenador da Resgate – Associação de Nadadores Salvadores do Litoral Alentejano, este não é um problema apenas da sua zona. "É importante referir que, nesta altura, esse problema já não existe. Isto é uma coisa que acontece no início da época balnear. Agora, muitos estudantes estão a terminar os seus exames e começam a ficar livres para trabalhar. Esta é uma atividade desenvolvida essencialmente por jovens estudantes", explica ao Nascer do SOL. "Há 15 anos que temos o mesmo problema todos os anos. A abertura da época balnear não coincide com a vida de quem faz isto", lamenta.

O Litoral Alentejano tem 31 zonas balneares e são necessários cerca de 85 nadadores salvadores permanentes, o que leva a necessidade de cerca de 120, conta João Lança, presidente da Associação de Nadadores Salvadores Seagull Rescue, de Grândola, referindo que o Alentejo litoral não tem localmente este número.

"De 70% a 80% são de fora, de outras áreas do país e também estrangeiros. Isto obriga a deslocar nadadores salvadores para esta zona", acrescenta. Nas praias em que existe uma parceria com os concessionários e municípios, a Seagull Rescue tem cerca de 40 profissionais ao serviço nesta época balnear. "Temos cerca de 12 estrangeiros a trabalhar, mas a maioria já trabalha em Portugal e connosco há alguns anos, inclusive alguns estão no seu processo para obtenção de cartão de residência", revela ainda.

Segundo a monitorização que a Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (FEPONS) fez no arranque de junho, nessa altura, já havia muitos estrangeiros a trabalhar nas regiões de Lisboa, Alentejo e Sul. "No Sul uma média de 49% de nadadores salvadores são estrangeiros; na região de Lisboa e Alentejo são quase 27%. Na primeira quinzena do mês passado, as zonas mais gritantes – com falta de pessoal -, eram a região norte e Alentejo", adianta Alexandre Tadeia, presidente da Federação.

Em média, na zona, um nadador salvador ganha perto de 2 mil euros. "Falamos de 2 mil euros, mas a recibos verdes a trabalhar 70 horas por semana, vai dar quanto? Como é óbvio, um jovem, no seu primeiro emprego vê 2 mil euros e acha que é muito dinheiro, mas não é! Se fosse 40 horas por semana, aí sim. O problema é mesmo esse. Ainda há muitos trabalhos destes a recibos verdes, atos isolados", acusa Alexandre Tadeia. "Devia criar-se uma carreira especial na função pública para que essa tabela remuneratória desse o exemplo para o setor privado".

"Estamos a falar de uma ação humanitária. Salvar vidas! Por outro lado, o próprio Estado faz concursos e admite que empresas concorram contra associações de nadadores salvadores sem fins lucrativos. Não pode ser. Misturar dinheiro e vidas, normalmente não corre bem", defende, revelando que "o único critério que as autarquias colocam é o preço mais baixo e isso tem repercussões na remuneração".

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