A esquerda radical e a extrema-direita estão prestes a apresentar duas moções de censura diferentes contra a Comissão. A primeira votação está prevista para outubro.
Ursula von der Leyen sobreviveu a uma moção de censura no Parlamento Europeu antes das férias de verão, mas parece que vai voltar a enfrentar um nova.
Os grupos da Esquerda e dos Patriotas pela Europa estão a trabalhar em duas moções de censura diferentes para derrubar a Comissão Europeia, que deverão ser apresentadas nas próximas semanas, assim que for atingido o limiar mínimo de assinaturas.
Cada moção de censura precisa da assinatura de pelo menos 72 deputados (um décimo do número total) para ser submetida a votação em sessão plenária.
Depois de as assinaturas serem verificadas e validadas pelos serviços do Parlamento, a presidente do órgão deve informar imediatamente os deputados, de acordo com as regras do Parlamento, e deve ser agendado um debate no plenário sobre o pedido de demissão, pelo menos 24 horas após o anúncio.
A esquerda ataca von der Leyen
O porta-voz do grupo da Esquerda, Thomas Shannon, disse na sexta-feira que a moção de censura do grupo está "bem encaminhada". O grupo apoia unanimemente o voto de desconfiança, uma vez que está em desacordo com as políticas de von der Leyen a todos os níveis, disse à Euronews. "A Comissão está a ir contra tudo o que defendemos, sacrificando os trabalhadores e destruindo o Pacto Ecológico", diz o responsável.
De acordo com fontes internas, a inação da UE em relação a Gaza e o acordo assinado com o Mercosul são outros motivos de descontentamento para a Esquerda, que é formada por partidos como o La France Insoumise, o Podemos (Espanha), o Movimento Cinco Estrelas (Itália), ou ainda, no caso dos partidos portugueses, o PCP e o Bloco de Esquerda.
O grupo conta com 46 eurodeputados, o que significa que precisa de mais 26 assinaturas para atingir o limiar. Por princípio, a esquerda não vai pedir o apoio dos Patriotas pela Europa, de extrema-direita, nem dos Conservadores e Reformistas Europeus, que, por seu lado, não estão interessados em apoiar qualquer iniciativa de esquerda.
As assinaturas em falta podem vir dos Socialistas e Democratas (S&D), do grupo Renovar a Europa ou dos Verdes. Todos os porta-vozes destes grupos sublinharam, durante uma sessão de informação na sexta-feira, que discutir uma moção de censura de dois em dois meses não é o cenário ideal para o Parlamento Europeu.
No entanto, é mais fácil convencer um deputado do que um grupo inteiro, disseram fontes do Parlamento à Euronews.
De facto, alguns deputados dos Verdes já se juntaram à moção de censura. A delegação italiana deste grupo, composta por quatro eurodeputados, vai assinar e votar a favor da moção de censura e está também a trabalhar para que outros membros do grupo a apoiem, disse o deputado Leoluca Orlando durante um briefing.
Outras fontes dos Verdes disseram à Euronews que esta moção de censura será tomada em consideração, mas só depois do discurso sobre o Estado da União, proferido por von der Leyen na próxima quarta-feira, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, onde serão apresentadas as prioridades políticas da Comissão.
Os Patriotas tentarão em breve derrubar von der Leyen
Do outro lado do hemiciclo, o grupo Patriotas pela Europa (PfE) também está a preparar um plano semelhante.
A força política de extrema-direita - que inclui o Rassemblement National de França, o Fidesz da Hungria, a Liga de Itália ou ainda o Chega (Portugal) - está a planear uma nova moção de censura desde antes das férias de verão, depois de ter votado a favor da que foi apresentada em julho.
O porta-voz do PfE, Alonso de Mendoza, não deu qualquer prazo durante a conferência de imprensa do Parlamento, mas, de acordo com fontes internas, a moção de censura poderá ser apresentada muito em breve.
De facto, os Patriotas não precisam da ajuda de outros grupos para apresentar um voto de desconfiança. Se todos os seus 85 deputados assinarem a iniciativa, o limiar é atingido e a votação tem de ter lugar.
De acordo com as regras do Parlamento, se uma moção de censura tiver sido votada nos dois meses anteriores, qualquer nova moção deve ser apresentada por um número maior de deputados, igual a pelo menos um quinto do número total.
Isto significa que a Esquerda e o PfE irão provavelmente competir para apresentar a sua própria moção antes da outra. O primeiro a apresentá-la poderá levá-la a votação já em outubro: a presidente do Parlamento deve anunciar uma moção de censura imediatamente após a ter recebido, e o debate e a votação devem ser agendados na mesma sessão plenária.
Embora a apresentação de uma moção de censura seja relativamente fácil, derrubar a Comissão Europeia numa votação parlamentar é mais complicado. A moção de censura só é adotada com uma maioria de dois terços dos votos expressos, o que representa a maioria dos membros do Parlamento. Da última vez, apenas 175 eurodeputados votaram a favor, longe de atingir o número mínimo.
Os partidos de extrema-direita e de esquerda podem não gostar da Comissão de von der Leyen por razões diferentes, mas têm de unir forças para a afastar do poder.