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Visita de Orbán a Washington: importações de petróleo russo e guerra na Ucrânia em cima da mesa

Um manifestante pró-governamental segura um cartaz com desenhos do Presidente dos EUA, Donald Trump, e do Primeiro-Ministro húngaro, Viktor Orban, durante as celebrações do 69.
Um manifestante pró-governamental segura um cartaz com desenhos do Presidente dos EUA, Donald Trump, e do Primeiro-Ministro húngaro, Viktor Orban, durante as celebrações do 69. Direitos de autor  AP Photo
Direitos de autor AP Photo
De Sandor Zsiros
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Os dois líderes estão alinhados politicamente, mas Washington tem criticado a Hungria por importar energia russa, mesmo quando o resto da Europa se desliga de Moscovo. A visita poderá levar a Hungria a fechar um acordo de GNL com Trump.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, lidera uma delegação de 180 pessoas que visitará o presidente dos Estados Unidos (EUA) Donald Trump, em Washington, num encontro que irá pôr em evidência a amizade entre os dois países, mas também as tensões existentes entre ambos.

Orbán chegou a Washington na quinta-feira, a bordo de um avião alugado pela companhia aérea de baixo custo Wizz Air, enquanto anunciava uma ligação especial entre os dois países numa "era dourada" para as suas relações bilaterais. A delegação húngara está alojada na Blair House, a casa de hóspedes oficial do Estado norte-americano, situada logo ao lado da Casa Branca.

Antes da viagem, o ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros, Szijjártó, afirmou que os EUA e a Hungria trabalharam arduamente nas últimas semanas na preparação de "um grande pacote de cooperação económica e energética que contribuirá grandemente para garantir a segurança energética da Hungria a longo prazo".

Um dos principais temas da visita será a atual guerra da Rússia na Ucrânia. Orbán deveria ser o anfitrião de uma cimeira em Budapeste entre Trump e o líder russo Vladimir Putin, mas a cimeira acabou por ser cancelada pelos norte-americanos, que presumiram que a Rússia não estava disposta a manter conversações de paz sérias. Em vez disso, os EUA emitiram as mais severas sanções contra as empresas russas do setor da energia desde o início da guerra contra a Ucrânia.

Tensões sobre as importações de petróleo russo

Os responsáveis norte-americanos têm instado a Hungria a reduzir as importações de petróleo russo, algo que Budapeste tem recusado sistematicamente, invocando razões de segurança nacional. Após a imposição de sanções à Lukoil e à Rosneft, no mês passado, Orbán sugeriu que iria pedir ao presidente dos EUA uma derrogação. Trump não indicou que está preparado para o fazer.

"Ele pediu uma isenção, mas nós não a concedemos. Ele é meu amigo", disse Trump aos jornalistas durante o fim de semana no Air Force One.

No início deste mês, o embaixador dos EUA na NATO, Matthew Whitaker, disse à Fox News que a Hungria precisa de apresentar um plano para reduzir as importações de petróleo russo e que os EUA estão prontos para ajudar Budapeste.

Daniel Hegedűs, diretor regional do Fundo Marshall Alemão dos EUA, disse à Euronews que o principal objetivo de Orbán é obter uma isenção das tarifas secundárias impostas à energia russa.

Mas não é certo que o consiga, o que representa um risco para Orbán a nível interno.

"Esta reunião foi pedida pelos húngaros, mas é uma reunião de alto risco porque, na narrativa interna húngara, esta missão ficou ligada a estas isenções", declarou Hegedűs à Euronews. Ainda assim, a administração Trump não permitirá que o primeiro-ministro Orbán saia destas negociações com uma imagem mais fraca, argumentou, mesmo que a política energética da Hungria contradiga os desejos do governo dos EUA.

"Trump foi muito claro sobre o facto de desejar a reeleição do primeiro-ministro húngaro. E, nesse contexto, eles estão conscientes de que não o devem enfraquecer. Acho que haverá pelo menos uma pequena vitória simbólica para Orban", afirmou Hegedűs.

Hungria poderá oferecer acordos para dissipar tensões sobre o petróleo russo

Para atenuar as tensões, a Hungria pode propor acordos comerciais e de defesa. Uma opção poderia ser aumentar as compras de gás natural liquefeito (GNL) aos EUA, em consonância com a União Europeia (UE).

"Posso imaginar que eles vão anunciar uma compra adicional de GNL para garantir a segurança energética da Hungria", disse Hegedűs.

Budapeste e Washington também têm vindo a negociar há anos a compra de pequenos reatores nucleares. A participação dos EUA no desenvolvimento da central nuclear de Paks também poderá estar na ordem do dia e a reunião poderá servir para facilitar um avanço.

De acordo com a edição húngara da Radio Free Europe, está também previsto um acordo no domínio da defesa. Embora não se conheçam os pormenores, o objetivo é "estabelecer uma cooperação para aumentar as capacidades do exército húngaro, possivelmente através de joint ventures".

Especialistas pedem a Trump que ajude a Ucrânia a entrar na UE

Trump e Orbán também vão falar sobre a guerra na Ucrânia.

A Hungria tem dito repetidamente que está pronta para acolher uma cimeira em Budapeste, embora os EUA não tenham dado qualquer indicação de que estão prontos para retomar a ideia.

James Batchik, diretor associado do Centro Europeu do Conselho do Atlântico, afirma que o cancelamento da cimeira de Budapeste, juntamente com os efeitos potencialmente desastrosos das novas sanções energéticas dos EUA contra a Rússia, colocaram Orbán numa posição ténue.

Os EUA poderiam usar a sua influência sobre Budapeste para pressionar Orbán a retirar o seu veto à candidatura da Ucrânia à União Europeia. Em troca de um alívio das sanções ou de acordos, Batchik acredita que a visita à Casa Branca "seria a oportunidade perfeita para acabar com a obstrução de Budapeste à adesão da Ucrânia à UE".

A Hungria está a bloquear a abertura dos capítulos de negociação da Ucrânia com a União Europeia invcando que Kiev ainda está em guerra e representa um perigo para a segurança da UE. A maioria dos líderes europeus é a favor da abertura das negociações e a Comissão Europeia sugeriu esta semana que a Ucrânia está tecnicamente preparada para o fazer.

EUA encerram serviço húngaro da Radio Free Europe

Na quinta-feira, enquanto a delegação húngara se deslocava a Washington, Kari Lake, uma firme apoiante de Trump e diretora-geral em exercício da Agência dos Estados Unidos para os Meios de Comunicação Social Globais, anunciou que deixaria de financiar o Szabad Europa, o serviço em língua húngara da Radio Free Europe/Radio Liberty. A redução do financiamento poderá precipitar o fim do Szabad Europa, um dos poucos meios de comunicação críticos ainda em atividade na Hungria.

"Esta programação prejudicou a política externa do presidente Trump ao opor-se ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, devidamente eleito", escreveu Lake numa carta enviada aos membros do Congresso.

András László, membro do partido Fidesz de Viktor Orbán, afirmou que o Szabad Europa merecia ser encerrado, uma vez que trabalhava "contra a amizade americano-húngara", numa publicação nas redes sociais.

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