O primeiro-ministro húngaro afirma que o abandono do petróleo russo resultaria num colapso económico, uma vez que a Hungria importa mais de quatro quintos do seu petróleo bruto da Rússia.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, disse que vai tentar persuadir o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a conceder à Hungria uma isenção das novas sanções impostas por Washington ao petróleo russo, quando se encontrarem na próxima semana.
A administração Trump revelou sanções na semana passada contra as principais empresas petrolíferas russas Rosneft e Lukoil, uma medida que poderá expor os seus compradores estrangeiros - incluindo os da Índia, China e Europa Central - a sanções secundárias.
Enquanto a maioria dos Estados-Membros da União Europeia reduziu drasticamente, ou suspendeu, as importações de combustíveis fósseis russos após a invasão total da Ucrânia por Moscovo, em 24 de fevereiro de 2022, a Hungria e a Eslováquia mantiveram o fornecimento por oleoduto.
A Hungria até aumentou recentemente a quota de petróleo russo no seu cabaz energético.
O Atlantic Council, um grupo de reflexão dos EUA, estima que a Hungria obtém atualmente 86% do seu petróleo bruto da Rússia, contra 61% antes da invasão da Ucrânia, no meio dos planos da UE para uma proibição da energia russa até 2028.
De acordo com um estudo do CREA e do Centro para o Estudo da Democracia, as importações de petróleo russo da Hungria e da Eslováquia geraram 5,4 mil milhões de euros em receitas fiscais para o Kremlin desde a invasão da Ucrânia.
Orbán há muito argumenta que a Hungria sem litoral não tem alternativas viáveis ao petróleo russo e que a substituição desses suprimentos desencadearia o colapso económico. Os críticos contestam esta afirmação.
"Temos de fazer com que os americanos compreendam esta situação invulgar se quisermos isenções das sanções americanas que estão a atingir a Rússia", disse Orbán em comentários à rádio estatal na sexta-feira.
O líder húngaro, amplamente considerado como o parceiro mais próximo do presidente russo Vladimir Putin na UE, tem mantido relações calorosas com o Kremlin, apesar da guerra, e adotou uma postura combativa em relação à Ucrânia, retratando o país vizinho como uma grande ameaça à segurança e economia da Hungria.
Na sexta-feira, Orbán afirmou que tanto a administração norte-americana como Moscovo procuram pôr fim à guerra, mas que a Ucrânia e a UE são os principais obstáculos à paz.
No entanto, um encontro entre Trump e Putin em Budapeste foi recentemente cancelado depois de os responsáveis russos terem deixado claro que se opunham a um cessar-fogo imediato.
Orbán afirmou que será acompanhado a Washington por uma "grande delegação" de ministros, responsáveis económicos e conselheiros de segurança, com o objetivo de proceder a uma "revisão completa" das relações entre os EUA e a Hungria.
Budapeste espera concluir um pacote de cooperação económica com os EUA, incluindo novos investimentos americanos na Hungria, no entanto, sublinhou que qualquer acordo dependerá da garantia de acesso contínuo da Hungria à energia russa.