Apesar das objeções da esquerda, o Parlamento Europeu aprovou uma alteração aos critérios de financiamento sustentável que os abre às empresas que produzem "armas controversas".
O Parlamento Europeu aprovou uma alteração à legislação da UE que permitirá que o investimento em "armas controversas" seja incluído no quadro de sustentabilidade do bloco - uma medida que significa que as empresas que produzem armas incendiárias, munições de urânio empobrecido e até armas nucleares poderão agora ser elegíveis para o rótulo Ambiental, Social e de Governação (ESG).
No início deste ano, a Comissão Europeia propôs reduzir o número de empresas do setor das armas que estão excluídas dos critérios de sustentabilidade da UE, a fim de evitar confusão e incerteza para os investidores das empresas.
Na prática, isto significa que as empresas envolvidas na produção de armas incendiárias e mesmo de armas nucleares não serão excluídas da atribuição de rótulos ESG - um conceito há muito associado ao investimento ético que está agora a ser redefinido para se alinhar com o atual panorama geopolítico.
De acordo com uma análise da Bloomberg, o número de fundos de ações ESG expostos à indústria de armas nucleares aumentou mais de 50% desde a invasão total da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022.
Alargamento da definição de ESG
Ao apresentar a sua proposta, a Comissão Europeia alegou que a definição de "armas controversas" deveria ser clarificada e simplificada "porque os tratados e convenções internacionais relevantes em que os Estados-membros são partes não fazem referência a armas controversas, mas sim a armas proibidas".
A decisão da Comissão de alterar o regulamento surge na sequência dos crescentes pedidos de reforço das capacidades de defesa do bloco, que exigem a mobilização de até 800 mil milhões de euros nos próximos quatro anos.
Na sessão plenária de quarta-feira, os Socialistas e Democratas, os Verdes/ALE e a Esquerda opuseram-se às alterações da Comissão, uma vez que as regras da UE permitem que tanto o Parlamento como os Estados-membros se oponham a um ato delegado da Comissão - mas os seus pedidos foram rejeitados.
De acordo com o eurodeputado espanhol Jonás Fernández (Grupo Socialista), a alteração da Comissão vai distorcer a informação em que os investidores confiam, ao classificar como "verdes" os índices que incluem ativos que não contribuem para os objectivos climáticos.
"Se o objetivo é proporcionar clareza, este ato delegado consegue exatamente o oposto, alargando a definição de 'verde' ao ponto de a esvaziar de significado", afirmou.
"Penso que esta medida foi concebida especificamente para impulsionar a produção de armas inovadoras e controversas... armas incendiárias, fragmentos não detetáveis, lasers que cegam, ou sistemas de armas autónomas letais", disse o eurodeputado Marc Botenga (Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde) à Euronews.