Um estudo revelado hoje alerta para a violência contra mulheres com funções públicas e atividade na rede social X em Portugal.
Um estudo apresentado hoje, no auditório da Assembleia da República, concluiu que existe violência contra as mulheres em funções públicas com atividade na rede social X em Portugal e que os ataques são frequentes às suas capacidades como à sua filiação política.
O estudo internacional, "Prevenir a violência digital contra as mulheres na Ibero-América", liderado pela Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB) teve como base numa seleção de cerca de 351 perfis de mulheres com papéis na vida pública como políticas; jornalistas; ativistas dos direitos humanos; membros de movimentos da sociedade civil e ativistas noutras áreas da vida pública – residentes em Portugal, Andorra, Bolívia, Espanha, México, Panamá, República Dominicana e Uruguai.
Em termos globais, Portugal aparece no meio da tabela (20,4%), com o México em primeiro lugar (40,6%), seguindo-se a Bolívia (39,9%), Uruguai (26,9%), Espanha (12,1%), Panamá (10,9%), Andorra (6,7%) e República Dominicana (5,2%).
Em Portugal "foram analisadas 43 contas durante o mês de setembro de 2024", segundo Marta Silva, chefe de equipa do Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género da CIG, que apresentou os dados de Portugal.
A investigação estabeleceu cinco categorias: a subestimação das capacidades, que inclui comentários que menosprezam as competências, conhecimentos ou credibilidade de uma mulher no seu papel público; comentários sobre o corpo e a sexualidade, onde se incluem ofensas sobre o peso, a roupa que vestem ou propostas sexuais e linguagem sexual ofensiva; ataques baseados na identidade, com discursos contra a origem étnica, racial, nacional, orientação sexual e/ou expressão de género; ataques baseados na filiação política e, por fim, ameaças, onde são feitas expressões implícitas ou explícitas que manifestam a intenção de infligir danos físicos, psicológicos, sexuais ou económicos, entre outros, contra uma mulher ou pessoas que lhe são próximas, ou ameaças de divulgação de informações privadas (doxing).
Segundo o relatório, a subestimação das capacidades é o tipo de violência mais comum no México, no Uruguai e em Portugal. "60% das interações violentas são ataques diretos e questionamento da sua capacidade para estar a exercer cargos e para ter voz pública, havendo 41% de ataques à filiação política e ao empenhamento cívico", confirmou Marta Silva, chefe de equipa do Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).
A responsável frisou também que, por terem sido analisadas apenas 43 contas, os dados não podem ser extrapolados para a realidade nacional.
Os ataques baseados na filiação política e no ativismo cívico são os mais habituais na Bolívia e Espanha e em Andorra, os comentários sobre o corpo e a sexualidade constituem a maior parte das interações violentas.
"Louca", "velha", "ridícula"
Termos como "louca”, “velha”, “ridícula”, “corrupta” ou “hipócrita” são alguns dos adjetivos mais usados nos ataques dirigidos.
O relatório mostra que ainda que a maior parte das interações só tenha sido identificado um tipo de violência, em 15% dos casos convergem várias formas de violência.
Um dos métodos muito utilizados pelos agressores digitais é combinar ofensas de várias "categorias" de violência digital contra as mulheres como a subestimação das capacidades, combinada com ataques à filiação política e ao ativismo cívico, "resultando numa depreciação pessoal com a subvalorização das causas defendidas pelas mulheres no seu papel público", lê-se.
Do número total de interações violentas no México, quase uma em cada cinco combina mais do que um tipo de violência, na Bolívia, em Portugal e no Uruguai, esta proporção é de cerca de 10-12%.
A secretária de Estado Adjunta e da Igualdade, Carla Rodrigues, esteve presente na apresentação do estudo e realçou que a violência digital contra as mulheres é uma preocupação coletiva "que exige não apenas reflexão, mas também ação concreta por parte de todas as instituições públicas."
Como também mostra o relatório, Portugal tem regulamentação relacionada com a violência digital contra mulheres (VDCM), não só inclui em vários planos (violência contra as mulheres, igualdade e tráfico de seres humanos), como também reconhece a VDCM como uma forma específica de violência — como a divulgação de imagens íntimas e o discurso de ódio.