A capoeira é considerada tanto uma arte marcial como uma dança, combinando ritual, exercício, espiritualidade e música.
Nilma Teles de Freitas, 80 anos, professora reformada no Brasil, a quem foi diagnosticada a doença de Parkinson há mais de uma década, diz que costumava cair várias vezes.
Isso mudou depois de começar a frequentar uma aula de capoeira no centro do Rio de Janeiro, especialmente projetada para pessoas com a doença neurodegenerativa.
A capoeira é uma prática de movimento que teve origem nas grandes comunidades escravizadas do Brasil, onde desembarcaram cerca de cinco milhões de africanos raptados durante o tráfico transatlântico de escravos que começou no século XVI.
É considerada tanto uma arte marcial como uma dança, combinando ritual, exercício, espiritualidade e música.
"A capoeira dá-me liberdade para trabalhar o meu corpo. O que posso fazer. O que não posso fazer. Assim, posso ter equilíbrio e uma vida mais confortável", disse Teles de Freitas durante uma aula recente.
Recuperar o equilíbrio
Praticada há séculos pelos afro-brasileiros, a capoeira tornou-se popular em todo o mundo. A UNESCO reconheceu a prática em 2014 como Património Cultural Imaterial.
O projeto teve início em 2018 com a fisioterapeuta Rosimeire Peixoto, 60 anos, que até então frequentava aulas desta modalidade há mais de uma década.
Depois de trabalhar com muitos pacientes com Parkinson, percebeu que apresentá-los à arte da capoeira poderia ajudar a aliviar alguns de seus sintomas.
A doença de Parkinson tem uma série de sintomas diferentes e, para além das dificuldades de equilíbrio, alguns dos mais comuns incluem lentidão de movimentos, tremores e postura encurvada. Os doentes podem também sentir ansiedade, depressão, perturbações do sono e náuseas.
"Tive a ideia depois de ler um artigo que dizia que alternar as duas mãos quando se usa um telemóvel estimula os dois hemisférios do cérebro", disse ela.
"E como fisioterapeuta que trata de doentes neurológicos, faltavam-me exercícios que os motivassem".
O projeto de Peixoto foi apelidado de "Parkinson na ginga" - ou "Parkinson no balanço" - uma referência ao primeiro passo fluido e rítmico que os praticantes de capoeira aprendem. Ela agora dá aulas duas vezes por semana na Fundição Progresso, um amplo centro cultural no centro do Rio, ao lado de um famoso aqueduto branco do século 18 e cercado por palmeiras.
A capoeira ajuda a melhorar o equilíbrio, a coordenação e a força, e a música relaxa os corpos tensos, diz Peixoto.
"Há muita coisa a acontecer numa roda de capoeira. Sentem a vibração, a energia, prestam atenção à música e ao parceiro para se desviarem dos golpes" e a si próprios, disse.
Unindo saúde e comunidade
Durante uma aula recente, Peixoto caminhou entre os alunos, colocando uma mão gentil nas costas aqui e ali para ajudar no equilíbrio, repetindo pacientemente as demonstrações e oferecendo palavras de encorajamento.
António de Azevedo, que foi diagnosticado com a doença de Parkinson há alguns anos, disse que antes mal conseguia ficar de pé. Mas desde que começou a praticar capoeira, a sua estabilidade voltou.
"É a melhor coisa que já me aconteceu", disse ele enquanto assistia a uma aula de capoeira com cerca de 10 outras pessoas, todas com Parkinson.
Peixoto tenta fazer das aulas um evento divertido e social - muitas vezes sugere uma dança de samba em grupo no final da aula, e regularmente traz um bolo para partilhar.
Teles de Freitas, a professora reformada, diz que adora a camaradagem entre a turma.
"Estamos sempre disponíveis uns para os outros", diz. "Sentir e conversar com os amigos dá-nos força".
Lembra-se de como, quando recebeu o diagnóstico, saiu do consultório a chorar, aterrorizada com o futuro.
"Hoje estou a sorrir", diz. "Estou a conseguir viver. Estou a conseguir interagir com outras pessoas. Estou a conseguir ser feliz".