Cerca de um terço dos jovens inquiridos pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências (ICAD) relata já ter experienciado problemas relacionados com o consumo de álcool, cuja prevalência continua a ser “muito elevada” no país.
Um relatório recente divulgado pelo Instituto para os Comportamentos Aditivos e Dependências (ICAD) mostra que o consumo de álcool, tabaco e drogas entre os jovens de 18 anos diminuiu em 2024, em comparação com anos anteriores. Porém, o recurso a este tipo de substâncias continua a ser elevado no país.
As conclusões são elencadas no estudo Comportamentos Aditivos aos 18 anos - Inquérito aos jovens participantes no Dia da Defesa Nacional 2024: consumos de substâncias psicoativas, que constata, nomeadamente, que “as prevalências de consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens de 18 anos em Portugal mantêm-se muito elevadas”.
De facto, 77% dos inquiridos afirmam ter ingerido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida, 74% nos 12 meses anteriores à realização do inquérito e mais de metade (59%) nos 30 dias que o antecederam.
Já no que diz respeito ao tabaco, este apresenta “uma expressão bastante inferior, mas, ainda assim, de dimensão relevante”, já que quase metade dos jovens (44%) diz ter fumado pelo menos uma vez na vida, 38% nos 12 meses prévios ao inquérito e 29% nos 30 dias precedentes.
Por sua vez, cerca de um quarto dos inquiridos (26%) indica já ter experimentado uma qualquer substância ilícita. Enquanto 21% dos mesmos assumem ter consumido no ano anterior e 12% nesse próprio mês.
Ainda assim, numa comparação com os níveis de consumo registados em 2015 e 2023, o ICAD determina que, no ano passado, houve uma “diminuição da prevalência de consumo de tabaco, bebidas alcoólicas, e de substâncias ilícitas” nos 12 meses anteriores, registando-se os valores mais baixos desde 2015, com exceção do consumo recente de heroína.
O ICAD destaca ainda que “uma parte importante dos jovens declara ter experienciado problemas relacionados com o consumo de substâncias psicoativas”, no ano que antecedeu o inquérito, como problemas de rendimento na escola/trabalho, problemas de saúde que motivaram assistência médica ou situações de mal-estar emocional, entre outras.
No caso das bebidas alcoólicas, 31% dos jovens (e 32% entre os consumidores) relatam a prevalência de situações dessa natureza, registando-se uma percentagem mais baixa no que diz respeito às substâncias ilícitas (16% dos jovens, embora os mesmos 32% entre os consumidores).
“O principal problema mencionado quanto ao álcool são as situações de mal-estar emocional, sendo que o mesmo se verifica no caso das drogas ilícitas, embora com valores muito semelhantes ao envolvimento em relações sexuais desprotegidas”, detalha ainda o estudo, citando outros dois tipos de situações problemáticas que podem derivar do consumo.
Consumo em Portugal é menos prevalente em comparação com outros países europeus
O mais recente relatório do Projeto Europeu de Inquéritos Escolares sobre o Álcool e outras Drogas (ESPAD), que analisou os comportamentos de risco dos adolescentes entre os 15 e os 16 anos em 37 países europeus, no ano de 2024, mostra, ainda assim, que a prevalência do consumo de substâncias em Portugal é menos preocupante do que em outros Estados.
Nesta faixa etária, e quando questionados sobre já terem ingerido bebidas alcoólicas pelo menos uma vez na vida, conclui-se que 74% dos adolescentes europeus responderam afirmativamente. As taxas de prevalência mais elevadas registaram-se na Hungria (91%) e na Dinamarca (90%), enquanto as mais baixas foram identificadas no Kosovo (23%) e na Islândia (48%). Portugal, por sua vez, fica-se pelos 62%, com valores abaixo da média, considerando todos os jovens europeus inquiridos (média não ponderada).
Quanto ao consumo de álcool nos 30 dias anteriores à realização do estudo, 43% dos jovens europeus inquiridos afirmam tê-lo feito, com Portugal a contabilizar uma percentagem inferior neste indicador (37%). É na Dinamarca (68%), Alemanha (62%) e Áustria (60%) que essa ingestão foi mais expressiva, contrastando com Islândia (12%) e Kosovo (14%), no outro lado da tabela.
Também no que toca ao consumo recente de tabaco, apenas 10% dos jovens portugueses revelam essa prática, face a cerca de um quinto (18%) da média dos europeus inquiridos. Foi na Hungria e na Croácia (ambos com 32%) que se registou uma maior percentagem de adolescentes que dizem ter fumado nos 30 dias prévios ao inquérito, com valores bastante diferentes na Islândia (4%) e na Suécia (8%).
Por sua vez, em Portugal, 21% dos adolescentes inquiridos referem ter fumado pelo menos uma vez na vida - um valor, uma vez mais, abaixo da média (32%). As taxas de prevalência mais elevadas são observadas na Hungria (51%) e na Eslováquia (46%), enquanto as mais baixas se registam na Islândia (13%) e em Malta (16%).
Quanto à administração de drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida, quase 14% dos adolescentes europeus confirmam tê-lo feito. Um consumo que varia muito entre os países envolvidos no estudo: com Liechtenstein e Chéquia a protagonizarem os valores mais altos (25% e 24%, respetivamente), e Geórgia e Moldova no outro extremo (ambos próximos dos 4%). Já Portugal fica-se pelos 10%.