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Quer investir? Há uma aldeia inteira à venda em Portugal

Aldeia Póvoa Dão, Silgueiros, Viseu
Aldeia Póvoa Dão, Silgueiros, Viseu Direitos de autor  Reprodução Leilosoc
Direitos de autor Reprodução Leilosoc
De Diana Rosa Rodrigues
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Oportunidade de negócio para uns, mas uma “joia” para quem vive na freguesia de Silgueiros, onde fica localizada a aldeia da Póvoa Dão. A povoação histórica e praticamente deserta está à venda num negócio que promete revitalizar a região e já "voltou a colocar Póvoa Dão no mapa".

“Imagine adquirir uma aldeia inteira, preservada no tempo e envolta pela natureza do vale do Dão”, é assim que o anúncio de venda da aldeia histórica da Póvoa Dão lança o mote para o negócio.

A povoação, localizada na freguesia de Silgueiros, distrito de Viseu, está à venda num leilão atualmente a decorrer. Por agora, o valor de licitação segue nos 1.500.000,00 € numa venda que termina no próximo dia 5 de dezembro.

A propriedade está avaliada em cerca de 1.700.00,00 euros, onde se inserem cerca de 100 hectares, com casas com traça tradicional da Beira Baixa, algumas em ruínas, capela, restaurante, estacionamento**,** zonas comuns, e espaços exteriores ajardinados e até um campo de ténis.

Pelo menos é esta a descrição da leiloeira Leilosoc, que indica ainda que a aldeia oferece ainda “acesso direto ao rio Dão, com praias fluviais e vistas deslumbrantes”.

A leiloeira destaca as possibilidades da região, com potencial para o desenvolvimento de um "Eco-resort de luxo ou aldeamento turístico, um "empreendimento vinícola e enoturismo" ou até um "condomínio rural sustentável".

O negócio parece bom, ou não estivesse o valor por metro quadrado em Portugal ultrapassado, pela primeira vez, os 2 000 euros em Portugal, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística.

O leilão ainda não terminou mas já está a dar frutos, pelo menos na perspetiva de quem conhece bem a terra.

"Póvoa Dão outra vez no mapa"

“Já conseguimos uma coisa fantástica, que foi voltar a falar da Póvoa Dão”, diz em jeito de brincadeira, Rui Mendes, presidente da Junta de Freguesia de Silgueiros à Euronews, sobre o leilão para a venda da povoação. “Corra como correr, para nós já colocou Póvoa Dão outra vez do mapa”, reforçou.

A notícia da venda de uma aldeia histórica parece inusitada e foi rapidamente disseminada. Mas para Póvoa Dão, a transação simples de compra e venda não é propriamente uma novidade.

A última vez que aconteceu foi em 1995, quando foi adquirida pela construtora Ramos Catarino, com sede em Cantanhede, por 80 mil contos na moeda antiga, cerca de 400 mil euros. A construtora investiu cerca de 3,5 milhões de euros na reabilitação do local, com a recuperação de pelo menos 32 casas, restaurante, piscina e campo de ténis. Algumas habitações seriam para venda outras teriam como destino o turismo.

"As pessoas alugavam casas, as pessoas iam ao restaurante, as pessoas iam ao bar, que aquilo também tinha um bar... Sim, aquilo trazia vida a Silgueiros", explica Rui Mendes. "Trazia dinamismo, trazia alegria porque haviam pessoas de vários pontos do país, com costumes diferentes. E basicamente é isso que nós gostávamos que voltasse a acontecer na Póvoa Dão", indicou o presidente da Junta de Freguesia.

O projeto de turismo foi inaugurado em 2004 pelo então ministro da Economia, Carlos Tavares, marcando o renascimento da aldeia, há largos anos abandonada devido ao fenómeno de cariz nacional do êxido rural.

Mas, a aldeia histórica volta a procurar novos donos, depois o grupo Catarino entrar oficialmente em insolvência, em outubro deste ano, após um longo processo de tentativa de salvação que se arrastava desde 2016.

Para Silgueiros, venha quem vier, é apenas pedido que venha por bem.

“Tudo depende do objetivo” explica Rui Mendes. “Imagino que o leilão tenha um comprador e que de facto esse comprador vai preocupar-se em voltar a revitalizar a aldeia para turismo, em reabilitar as casas para venda, o que quer que seja. Se este trabalho for feito, vai ser ótimo porque a aldeia, de uma forma ou de outra , vai voltar a ter pessoas, vai voltar a ter vida, a vida que tinha quando estava a funcionar em pleno, com a hotelaria, com o restaurante, com a piscina", afirmou. "Eu penso que o nosso grande objetivo é que isso volte a acontecer”, diz à Euronews.

Uma “joia” na freguesia de Silgueiros

Atualmente deserta, a história da histórica aldeia conta outras coisas.

"A velha póvoa medieval, não se sabe ao certo a data em que foi criada, mas sabe-se que nas inquirições que foram feitas em 1254, no tempo de D. Afonso III, já existia esta povoação, na altura com o nome de Póvoa da Jusã. Insere-se na freguesia de Silgueiros, uma freguesia também muito antiga, cuja paróquia foi criada em 1186, exatamente no período de transição entre o rei Afonso Henriques e o seu filho D. Sancho I."

Quem o diz é António Lopes Pires, historiador e o atual presidente da Associação de Passos de Silgueiros, à Euronews.

O site da Junta de Freguesiadestaca a aldeia como "representativa dos povoados mais antigos que é atravessada por uma via romana, que integra as Rotas Romanas do Dão". Essa rua que levaria a Roma, "era única rua da povoação onde era proibido pelos próprios moradores que se fizesse uma estrumeira. Como sabe, não há muitos anos em Portugal, em todas as aldeias se faziam estrumeiras, que era uma forma de arranjar estrume para depois empregar nas terra", explica o historiador sobre os antepassados desta aldeia agrícola, falando com orgulho da povoação de Silgueiros, freguesia com 37 quilómetros quadrados, 18 povoações e cerca de três mil habitantes.

Segundo explica à Euronews, esta aldeia "chegou a ter, no final do século XIX, 150 habitantes, que, a pouco e pouco, foram desaparecendo, em busca de outras terras e de outra vida, como aconteceu em muitos pontos de Portugal".

A reabilitação da povoação, após a venda, em 1995, deu-lhe outro alento.

"Foi uma recuperação muito cuidada. Foi uma recuperação feita com os materiais adequados, tudo como deve ser, de forma que a população ficou uma verdadeira joia recuperada como ela havia sido antes. Ainda tinha nessa altura dois moradores", explicou o historiador.

Atulmente conta apenas com algumas casas de segunda habitação e "duas ou três" dedicadas ao alojamento local.

"Não há muito tempo que eu encontrei lá uma jovem de língua inglesa, não sei a sua nacionalidade, que estava a tomar o sol numa daquelas casinhas de granito, agora destinada ao alojamento local", conta António Lopes Pires.

"Vamos ver, eu gostaria muito de ver renascer a Póvoa Dão. Eu vejo estas coisas da história e da nossa freguesia muito com o coração e gostava de vê-la outra vez com vida", confessou.

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