"Temíamos ser mandados de volta para a Líbia"

"Temíamos ser mandados de volta para a Líbia"
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Um dos migrantes que estiveram a bordo do Sea-Watch 3 conta à Euronews como era a vida a bordo e o percurso por que passaram antes de embarcar.

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Khadim Diop tem 24 anos, veio do Senegal e afirma ser um dos migrantes desembarcados do Sea-Watch 3, mas a embarcação não tem a certeza que o senegalês veio a bordo dado não ter um manifesto dos que resgatou no Mar Mediterrâneo. A Euronews falou com ele. na ilha de Lampedusa, em Itália.

Euronews:Como foram os últimos dias a bordo do Sea-watch? Disseram-nos que não havia muita comida.

Khadim Diop: Não, não havia muita comida, só cuscuz. Muitas pessoas estavam doentes. Não foi fácil, mas aquela mulher, a capitã, deu-nos coragem, nunca desistiu e encorajou-nos. A única coisa que temíamos era sermos mandados de volta para a Líbia. Mas ela estava sempre a dizer-nos 'não, não se preocupem com isso, vocês não vão voltar'. Nós dizemos-lhe 'bravo!'. Foi muito atenciosa. A União Europeia deveria felicitá-la, encorajá-la, porque ela fez tudo o que podia. Mesmo quando os líbios foram buscá-la, ela resistiu. Houve até confrontos. Mas ela disse que não.

Euronews:E o que pensa das autoridades italianas e de Salvini? Sabe quem é?

K.D.: Sim, sei quem é. Ouvi-o na rádio. E, na verdade, ele tem um pouco de razão.

Euronews:Ele tem razão?

K.D.: Às vezes, sim, porque ele quer que a Europa partilhe, que a Alemanha faça a sua parte, que França faça a sua parte e os outros países também. os migrantes nâo podem ficar todos em Itália. Há um crise mundial, em todos os lugares, não é fácil para ninguém.

Euronews:Disse que foi vendido como escravo. Quantas pessoas estavam consigo? É algo recorrente no sítio de onde vem?

K.D.: É sistemático. Nós éramos mais de 300 pessoas, portanto é sistemático. Em Ben Whalid, todo a gente sabe disso. Lá o trabalho é esse, vender pessoas, vender os negros, mas não só os negros, também os egípcios, os tunisinos, todos. Escondem-te numa casa, numa casa isolada.,Trazem as pessoas uma a uma e colocam-nas numa sala com um telefone. Há fios elétricos por toda a parte. Eles chegam e dizem: 'liga à tua mãe!", "liga aos teu pais para mandarem dinheiro!". Se não o fizermos eles batem-nos, ou podem mesmo matar-nos. Tentamos dizer que não, que não fazemos isso, mas aí eles começam a bater-nos e nós acabamos por telefonar. Assim que alguém atende, metem-nos a corrente elétrica nos pés. Então, nós gritamos de dor. E quando gritamos, os nossos pais ficam com medo.

(Artigo atualizado no dia 1 de julho com as dúvidas do navio de resgate Sea Watch 3 sobre a presenças do jovem senegalês a bordo)

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