Egemen Bağış: "Não faz sentido falar em genocídio"

Egemen Bağış: "Não faz sentido falar em genocídio"
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A adesão à União Europeia continua a ser uma prioridade para a Turquia. Em entrevista à euronews, Egemen Bağış, ministro de Estado e dos Assuntos Europeus da Turquia e responsável pelas negociações de adesão à União Europeia, voltou a rejeitar o genocídio arménio e reclamou uma posição mais firme dos 27 quanto à Síria.

Gülsüm Alan, euronews:

“Em Bruxelas, reuniu-se com a relatora para a Turquia e com o presidente do Parlamento Europeu. Mas a União Europeia está em plena crise económica. A Zona Euro encontra-se numa situação crítica. Por que é que a Turquia ainda quer aderir à União Europeia?”

Egemen Bağış, ministro de Estado e dos Assuntos Europeus da Turquia:

“O que motiva a Turquia não são os interesses económicos, nunca vimos a União Europeia desse ponto de vista. Para nós, a Europa é o mais vasto projeto pacífico da humanidade. Quando vemos a história dos estados-membros, constatamos que os povos que estiveram em guerra durante séculos vivem atualmente em paz graças à União Europeia. Para que este projeto pacífico ganhe uma dimensão mundial, é preciso que a Turquia faça parte dele.

Devido à situação geográfica, a Turquia tem uma zona de influência bastante importante e é uma ponte entre os países, podendo dar ao projeto europeu uma dimensão internacional. Apesar das dificuldades económicas que atravessa, não devemos esquecer que é na União Europeia que há um maior PIB per capita. O projeto da União Europeia é um dos que melhor serve a esperança que temos para o futuro.”

euronews:

“A Turquia tem um papel importante na região. Mas não se está a tentar virar para outros horizontes?”

Egemen Bağış:

“Como se verificou ao longo da história, a Turquia continua a ser uma ponte entre o oriente e o ocidente, entre o cristianismo e o Islão. Graças às fontes de energia, também serve de ponte e gere a oferta e a procura. Esta ponte estende-se do norte ao sul, do este ao oeste e consolida-se de dia para dia. Isto não deve ser visto como um transtorno.”

euronews:

“Como é que a Turquia pretende ajudar a União Europeia mergulhada em plena crise económica?”

Egemen Bağış:

“Visto que a Turquia também atravessou momentos muito difíceis, podemos afirmar que a União Europeia sairá desta crise mais forte e mais estável. Ainda não há muito tempo – há uns 12 ou 13 anos – tivemos períodos em que as taxas de juro atingiram numa só noite os oito mil por cento.

A primeira coisa que a União Europeia deveria fazer era suprimir os vistos impostos de uma forma injusta, ilógica e ilegítima aos cidadãos da República da Turquia. Assim, os turcos poderiam viajar livremente nos estados-membros. Isto significa mais turistas e mais dinheiro gasto. Haverá também mais negócios. Os cidadãos turcos têm, atualmente, a possibilidade de viajar sem visto para 65 países. Fazemos parte da União Aduaneira; 50 por cento do nosso comércio externo faz-se com a União Europeia; 60 por cento dos turistas que visitam a Turquia são oriundos de estados-membros. Apesar de tudo isto, é lamentável que não possamos entrar livremente nos países da União Europeia.

O mundo dos negócios desenvolveu-se imenso. A Turquia é, neste momento, a sexta maior potência económica na Europa. Segundo a OCDE, em 2050 a Turquia vai ser a segunda potência económica e que até 2020 vai continuar a ter o maior crescimento económico europeu. Fechar as portas a um potencial destes não faz sentido. É preciso parar de pensar que os turcos vão emigrar para a Europa porque as estatísticas dos últimos anos mostram que há mais europeus a emigrarem para a Turquia do que o inverso.

euronews:

A Suíça abriu um inquérito pelas suas declarações que negam o genocídio arménio. Em França, foi aprovada uma lei que sanciona a negação dos genocídios. Teme que esta tendência se alastre a toda a União Europeia?

Egemen Bağıs:

A liberdade de expressão é um dos princípios mais importantes da União Europeia. Não é lógico que alguns estados-membros aprovem uma série de leis que limitem a liberdade de expressão, isso opõe-se aos princípios da Constituição da União Europeia.

Disse-o em Zurique, repito-o aqui e continuarei a repeti-lo: segundo as informações, os arquivos e as fontes que temos, não faz sentido qualificar o que aconteceu em 1915 como genocídio.

Desafiamos a Arménia e os outros países envolvidos a abrirem os seus arquivos. Que se crie uma comissão independente onde haja historiadores arménios, russos, turcos, europeus e americanos. Que todos estes países abram claramente os arquivos para que possamos analisar o que realmente aconteceu em 1915. Depois avaliaremos a questão.

A nova lei é uma execução sem julgamento. Qualificar os acontecimentos de 1915 como um genocídio, baseando-se unicamente em informações dos dias de hoje, é um trabalho de alguns lobbies com más intenções que fomentam o ódio. Recusamos entrar no jogo deles.”

euronews:

“A tendência poderá propagar-se a toda a União Europeia?”

Egemen Bağıs:

“É algo que contraria os princípios da União Europeia. Para que isso fosse possível, todos os 27 estados-membros deveriam decidir em conjunto. É pouco provável que o façam.”

euronews:

“O partido AKP, no poder, parece cansado de fazer reformas. Por que é que está a perder dinamismo?”

Egemen Bağış:

“O AKP não está cansado de fazer reformas. Na história da República da Turquia, é o Governo que mais reformas fez. Basta ver o que fizemos ultimamente. Pela primeira vez em 88 anos, celebrámos uma missa no mosteiro ortodoxo de Sümela. Cento e doze anos depois, os nossos cidadãos arménios começaram a celebrar a missa em Akdamar. Nos últimos tempos foram reformadas as relações entre os civis, os militares e o Conselho Militar Supremo. Tudo isto prova como estamos, mais do que nunca, determinados em continuar as reformas.”

euronews:

“A União Europeia tem grandes expetativas quanto à nova Constituição. O que vão fazer?”

Egemen Bağış:

“Criámos uma comissão com um número de representantes proporcional às quotas parlamentares dos partidos. Ela está encarregue da nova Constituição. As organizações não governamentais, os académicos e os jornalistas apoiam o trabalho dessa comissão.

Também criámos um sítio na internet para que os cidadãos possam fazer propostas. Os vários grupos religiosos apoiam a iniciativa. Quando todas estas informações forem recolhidas, a comissão vai preparar uma Constituição civil que eu espero que una todos os cidadãos. Uma Constituição que será aprovada por todos os partidos políticos e com a qual os cidadãos se vão poder identificar. Isso vai permitir à Turquia fazer progressos no processo de adesão à União Europeia.”

euronews:

“Na Síria intensifica-se a repressão sobre os civis. O que é que a Turquia vai fazer para acabar com os massacres?”

Egemen Bağış:

“Durante uma conferência de imprensa, o presidente do Parlamento Europeu disse que a Turquia é o país que faz as declarações mais corajosas sobre o assunto. Também gostaríamos que os países europeus adotassem um discurso mais firme que mostrasse a sua determinação. Numa só noite, foram mortas 300 pessoas. A comunidade internacional deve dizer basta e fazer mais pressão sobre a China e a Rússia, que são membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Já recebemos dezenas de milhares de pessoas na Turquia e disponibilizámos todos os meios que tínhamos.

Sobre o que pretendemos fazer no futuro, permita-me que não o revele diante das câmaras mas que o reserve para os bastidores da diplomacia.”

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