Um ano depois do início da revolta na Síria, no dia 10 de março, o enviado especial da ONU, Kofi Annan, encontrou-se com Bachar al Assad. O presidente sírio acusa os opositores, a quem chama terroristas, de bloquear qualquer tipo de solução política.
A reunião terminou sem grandes progressos. Mas no dia 27 de março, Annan anunciou que Damasco aceitou o plano de paz.
O primeiro ponto deste plano o fim da violência. Damasco aceitou terminar os combates a 10 de abril às 3:00 horas de Lisboa, seis da manhã na Síria. Este ponto pressiona ambas as partes a terminar com o derramamento de sangue.
A ONU divulgou que o conflito na Síria já fez 9 mil mortos
Segundo ponto do plano: pôr em marcha um processo político aberto, dirigido por sírios para responder às legítimas preocupações da população e designar um interlocutor que conte com os poderes necessários.
A saída de al Assad, exigida no anterior Plano da Liga Árabe já não figura no programa proposto por Annan.
Garantir a distribuição da ajuda humanitária em todas as zonas afectadas pelos combates e estabelecer uma “pausa humanitária” de duas horas dia. A violência causou 39.000 refugiados segundo a ONU. O Crescente Vermelho tem números diferentes: 200 mil deslocados de guerra.
É necessário acabar com as detenções arbitrárias, o que inclui acelerar a libertação das pessoas detidas abitrariamente, publicar os seus nomes e garantir o acesso aos lugares onde estão detidos.
Outro dos aspectos é assegurar a liberdade de circulação aos jornalistas em todo o país, e aplicar uma política de vistos não discriminatórios para a imprensa.
Por último, as autoridades sírias comprometem-se a respeitar a liberdade de associação e o direito a manifestar-se pacificamente.
Hoje, o exército sírio devia começar a retirar das cidades e das ruas, de acordo com o plano acordado com o enviado especial das Nações Unidas e a Liga Árabe. Devia abrir-se uma trégua nas próximas 48 horas.
Para discutir este tema, temos connosco em duplex de Paris, Abdul Raouf Darwish, presidente da Associação 15 de março para a democracia na Síria.
Kawtar Wakil, euronews - Os actos de violência continuam na Síria e parece haver cada vez mais dúvidas sobre a colocação em prática do plano de paz proposto por Annan e aceite pelas duas partes do conflito sírio. O que pensa da situação?
Abdul Raouf Darwish - A natureza do regime sírio não permite proceder a reformas e, no momento de pôr em prática as iniciativas, acontece como já tinha acontecido com o plano da Liga Árabe: Al Assad mudou de ideia e colocou obstáculos para não aplicar o acordo e a situação agravou-se. Relativamente à iniciativa de Kofi Annan, Al Assad está a utilizar o mesmo método, para ganhar tempo.
euronews - Porque é que Damasco esperou tanto tempo antes de exigir, por escrito, garantias da oposição e dos países árabes islâmicos para deter a violência?
A.R.D. – Mais uma vez, fez o mesmo que com a Liga Árabe: aceitar, num primeiro momento e, depois, fixar as condições e os obstáculos para evitar a aplicação do plano. Porque a iniciativa de Annan, na prática, significa o fim do regime ou do sistema político que a Síria conhece. E há várias razões; a mais importante é que esta iniciativa inclui, principalmente, o direito às manifestações e a retirada das tropas militares das cidades sírias.
euronews – O ministro sírio dos Negócios Estrangeiros Walid Muallem disse, numa conferência de imprensa em Moscovo, que a Síria retirou unidades do exército de algumas cidades e confirmou que o governo está disposto a deter a violência, em presença dos observadores internacionais. Qual é a posição do conselho nacional perante as novas condições do governo sírio?
A.R.D. – Retirou algumas unidades de certas cidades para enviar para outras cidades e reiniciar diferentes operações de repressão, de violência. É o que sucedeu, por exemplo, na província de Idlib, de onde retirou os blindados de artilharia para os transferir para outros pontos e continuar com a morte de inocentes e a destruição de lares.
Na minha opinião, a posição do Conselho Nacional a este respeito é clara: os responsáveis declaram que o regime sírio recusa a iniciativa de Kofi Annan e que se, a aceitou, foi apenas para ganhar tempo.
euronews – Será que a imposição de um prazo para a retirada das forças militares sírias, reduz as possibilidades de pôr em prática o cessar fogo proposto pela ONU?
A.R.D. – Se o regime quisesse fazer valer a trégua, tinha, no mínimo, mostrado boa vontade e respondido aos apelos da comunidade internacional.