Nemtsov, datas-chave e citações

Nascido a 9 de outubro de 1959 em Sochi, Boris Nemtsov formou-se como físico antes de dar início a uma prometedora carreira política.
Os primeiros passos são dados pouco antes da queda da União Soviética. Depois de uma tentativa sem sucesso, em 1989, é finalmente eleito em 1990 para o Congresso de Deputados do Povo.
Um ano mais tarde, com apenas 32 anos, é nomeado pelo recentemente eleito presidente russo, Boris Ieltsin, como governador da região de Nizhni Novgorod. Um ambicioso programa de reformas e uma crescente popularidade conferiram-lhe rapidamente o estatuto de benjamim do primeiro chefe de Estado democraticamente eleito da Rússia.
Não foi, por isso, surpreendente, quando Ielstin o chamou, em 1997, para ocupar o cargo de vice-primeiro-ministro, entregando-lhe também a pasta da Energia.
Nemtsov com Ieltsin em 1997
Na época, o New York Times cita-o numa entrevista televisiva, na qual admite: “É óbvio que farei um grande número de inimigos entre a oligarquia industrial e financeira que, em muitos aspetos, controla atualmente a situação na Rússia.”
E acrescenta: “O que tenho para fazer agora em Moscovo, é a função de um ‘kamikaze’.”
Chega a ser apontado como o sucessor provável de Ieltsin mas um ano mais tarde, em 1998, a crise financeira russa desfere um duro golpe na sua popularidade e Nemtsov demite-se dos cargos, começando uma longa “travessia no deserto”, nas fileiras da oposição liberal.
Em 2000 chega a apoiar a candidatura de Vladimir Putin – nomeado pessoalmente por Ieltsin – mas muda rapidamente de opinião e começa aí a progressiva visão crítica do novo “número um” do Kremlin.
A ruptura definitiva com o poder russo deu-se em 2004, quando apoiou abertamente a “Revolução Laranja” na Ucrânia, participando em vários comícios em Kiev e tornando-se conselheiro económico do novo presidente ucraniano, Viktor Iuschenko.
Em 2005, declara numa entrevista ao jornal moscovita Komsomolskaïa Pravda: “Posso dizer, de forma segura, que daqui a cinco anos o povo ucraniano viverá melhor do que na Rússia […] e isso sem gás, nem petróleo. Dentro de sete anos [em 2012], a Ucrânia entrará na União Europeia e todos os ucranianos terão um passaporte Schengen. E nós, os russos, vamos invejá-los.”
Nos anos que se seguem, participa ativamente na organização de protestos anti-Kremlin, sendo detido em mais do que uma ocasião.
Nemtsov é detido em novembro de 2007, durante uma manifestação em São Petersburgo
Opositor fervoroso de Putin durante mais de uma década, é condenado no início de 2011 a 15 dias de prisão, depois de participar num protesto de Ano Novo. Poucos dias depois de cumprir a sentença, é entrevistado pela jornalista Anna Nemtsova, para a “Newsweek” e afirma, sem receios: “Putin é o arquiteto de um Estado mafioso.”
Em março do mesmo ano, publica um relatório intitulado “Putin. Corrupção”, elaborado em conjunto com outros líderes da oposição, onde descreve o alegado enriquecimento ilícito no círculo próximo do chefe do Kremlin.
Em dezembro de 2013, dizia à agência Interfax, falando em nome da sua formação, o Partido Republicano da Rússia: “Apoiamos o rumo da Ucrânia em direção à integração europeia. Ao apoiarmos a Ucrânia, também nos apoiamos a nós próprios.”
Desde o início da crise ucraniana, Nemtsov criticou o apoio de Moscovo aos separatistas pró-russos nas regiões de Lugansk e Donetsk.
Duas semanas antes de ser assassinado, em pleno centro da capital russa, confessava temer pela sua própria vida ao semanário Sobessednik.
Crítico até ao final, declara a uma rádio de Moscovo, apenas três horas antes da sua morte, segundo a agência France Press:
“A causa da crise [na Rússia] é a agressão [contra a Ucrânia], que foi seguida de sanções e uma fuga de capitais. Tudo devido a uma agressão sem sentido contra a Ucrânia, conduzida por Putin.”“A oposição não tem grande influência sobre os russos, hoje em dia.”
“Quando se concentra o poder numa única pessoa, isso só pode conduzir a uma catástrofe. Uma catástrofe absoluta.”