Heysel: A tragédia na primeira pessoa.

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De  Ricardo Figueira  com CLAUDIO ROSMINO
Heysel: A tragédia na primeira pessoa.

Trinta anos depois, a tragédia do Heysel Park é lembrada por quem a viveu.

O pior foi ver alguém a morrer. Nunca me tinha acontecido. Ver um cadáver é uma coisa, mas ver uma pessoa a morrer é a pior coisa que pode acontecer.

Bruxelas, 29 de maio de 1985. A final da Taça dos Campeões Europeus entre o Liverpool e a Juventus degenerou num confronto mortífero, antes ainda do apito inicial. Morreram 39 pessoas.

Stefano Tacconi era guarda-redes da Juve: “Nos vestiários, ninguém sabia exatamente o que tinha acontecido. Sabíamos que tinham morrido pessoas, houve quem dissesse uma, quatro, cinco, seis mortes. Depois do jogo, já sabíamos o número exato. Somos muito criticados por ter celebrado a vitória, mas também fomos obrigados a festejar com os adeptos da Juventus pela UEFA e pela organização belga, para evitar que eles saíssem do estádio ao mesmo tempo que os adeptos do Liverpool.”

Dos 39 mortos, 38 eram adeptos do clube italiano. O jornalista Maurizio Crosetti, do jornal La Repubblica, viveu momentos que nunca mais vai esquecer.

“O pior foi ver alguém a morrer. Nunca me tinha acontecido. Ver um cadáver é uma coisa, mas ver uma pessoa a morrer é a pior coisa que pode acontecer. Lembro-me de ver uma rapariga de 16 anos, a mais jovem a ter morrido nesse dia. Lembro-me de ver o corpo dela no chão.”

O tio de Stefano Landini morreu também nesse dia: “A verdade é que o jogo nunca deveria ter sido disputado, porque não havia condições para realizar a final naquele estádio, que estava delapidado, velho, sem proteções e com pouca polícia e forças de segurança.”

A tragédia fez com que os clubes ingleses ficassem cinco anos afastados das competições europeias. A par dos desastres de Hillsborough e Bradford, obrigou a uma melhoria nas condições nos estádios.