O bombardeamento da aviação norte-americana do hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, no Afeganistão, na semana passada tem de ser
O bombardeamento da aviação norte-americana do hospital dos Médicos Sem Fronteiras em Kunduz, no Afeganistão, na semana passada tem de ser investigado. A garantia foi dada pela responsável da organização humanitária, que recusa que este caso seja classificado como um incidente, um “erro” que custou a vida a 22 pessoas. A presidente internacional dos Médicos Sem Fronteiras, Joanne Liu, garante que até a guerra tem regras e a verdade deve ser revelada.
“We need you everyone to stand with us to insist that even wars have rules” JoanneLiu_MSF</a> <a href="https://twitter.com/hashtag/IndependentInvestigation?src=hash">#IndependentInvestigation</a> <a href="http://t.co/CyGFJZiDaA">pic.twitter.com/CyGFJZiDaA</a></p>— MSF International (
MSF) 7 Octobre 2015
Joanne Liu lembra que “é muito importante que, de alguma forma, haja esclarecimentos sobre o que aconteceu e que nós, enquanto comunidade, reafirmamos que estamos sob as regras da Convenção de Genebra. Caso contrário, não vamos poder continuar trabalhar na ajuda humanitária”.
Esclarecer os factos, as intenções e objetivos. É isso que reclamam os Médicos Sem Fronteiras. O hospital de Kunduz, instalado há 4 anos, foi bombardeado a 3 de outubro. E para já, as explicações que foram dadas são muito pouco claras.
O General John Campbell, Comandante norte-americano das Forças Internacionais no Afeganistão disse que “sabemos que a 3 de outubro, as forças afegãs informaram que iriam atacar posições inimigas e pediram apoio da força aérea norte-americana. Foi pedido um raide para eliminar a ameaça talibã e muitos civis acabaram por ser atingidos”.
Um dia depois, General John Campbell corrigiu e afirmou que “a decisão de avançar com o ataque aéreo foi tomada pelos Estados Unidos, pela cadeia de comando norte-americana. O hospital foi atingido por engano e nunca iriam atacar de propósito as instalações de um hospital”.
Mas será que o ataque aéreo foi mesmo requisitado pelas forças afegãs, como afirmaram as autoridades norte-americanas e da NATO no Afeganistão na segunda-feira? As mesmas autoridades que no dia seguinte classificaram o acidente como “um erro”. As responsáveis afegãos afirmaram que o bombardeamento foi um ato propositado. Dawlat Waziri, porta-voz do Ministério da Defesa do Afeganistão, garante que “o inimigo estava escondido naquela zona, resistindo e usando escudos humanos. A zona foi tomada e a resistência terminou”.
De acordo com o Ministério da Defesa afegão, os talibãs teriam atacado o exército a partir do interior do hospital. Facto que é totalmente desmentido pelos Médicos Sem Fronteiras. Mas este caso torna-se ainda mais difícil de entender quando se percebe que mesmo sendo um “erro”, o bombardeamento durou cerca de meia hora, as coordenadas exatas do edifício eram conhecidas e foi dado o alerta de que se tratava de um hospital. Estas questões devem agora ser esclarecidas pelos vários inquéritos que vão decorrer.
Este bombardeamento em Kunduz ocorreu dias depois de a cidade ter sido tomada pelos talibãs. O exército afegão conseguiu recuperá-la dias mais tarde, mas os confrontos prosseguiram entre as duas partes, que controlam diferentes bairros na cidade.