A passagem dos talibãs por Kunduz, no nordeste do Afeganistão, há quase três semanas espalhou o terror por toda a província. Mas em especial sobre as
A passagem dos talibãs por Kunduz, no nordeste do Afeganistão, há quase três semanas espalhou o terror por toda a província. Mas em especial sobre as mulheres mais ativas na sociedade local.
Brigadas rebeldes conduziram buscas pela cidade “à caça” de ativistas pelos direitos das mulheres e por jornalistas. Numa rádio onde trabalhava uma jornalista, os rebeldes bateram à porta e o tio da jornalista abriu. “Sabemos que uma mulher trabalha aqui”, terão dito os talibãs, de acordo com a mulher, completando: “Quando o meu tio o negou, foi levado para a rua e morto a tiro. O corpo dele ficou na rua durante dias. Ninguém se arriscava a sair para o ir buscar”, contou a jornalista, sob anonimato, à agência AFP.
Os rebeldes tomaram Kunduz a 28 de setembro. As tropas afegãs, apoiadas pela força aérea dos Estados Unidos, reagiram em força e conseguiram retomar a cidade. Mas com polémica. Um raide aéreo norte-americano atingiu um hospital e matou alguns elementos dos Médicos Sem Fronteiras.
Fotos do pós-ataque em #Kunduz por andrewquilty</a> da <a href="https://twitter.com/ForeignPolicy">
foreignpolicy reforçam necessidade de #InvestigaçãoIndependente. pic.twitter.com/zn3fim4ivs
— MédicosSemFronteiras (@MSF_brasil) 14 outubro 2015
Há poucos dias, os talibãs anunciaram o adeus a Kunduz. Para trás, deixaram uma das suas maiores vitórias desde 2001 e um rasto de medo e insegurança. Pelo menos 100.000 pessoas terão fugido da cidade nas últimas semanas.
Sabeha Safi é um desses milhares deslocados de Kunduz: “O que eu vi ali, o que se passou? Vi a entrada dos talibãs na cidade quando toda a gente estava a dormir. Quando acordamos de manhã, os talibãs estavam em todo o lado, em todas as ruas. Não sei como será o futuro, mas não estou otimista. Talvez seja apenas a minha sensação ou talvez eu esteja muito desmotivada, mas não tenho de todo um bom pressentimento.”
A jornalista Parisa Aimaq, que trabalha numa televisão local, ficou sem o pai, morto pelos rebeldes islâmicos afegãos. “Quando os talibãs estão na região, não há segurança. A vida das mulheres estava em perigo a toda a hora. A qualquer altura, podiam ser vítimas de abuso sexual. Houve mulheres violadas. Por isso, aconteça o que acontecer, a situação é muito grave em Kunduz”, avisou Aimaq.
Afghan Taliban targeted working women during 3-day Kunduz takeover http://t.co/BCB3rPnYJ7pic.twitter.com/umnKoBJzqy
— Hindustan Times (@htTweets) 17 outubro 2015
Kunduz situa-se junto à fronteira com o Tajiquistão. É um importante ponto estratégico entre as grandes cidades do sul, a região norte do Afeganistão e a antiga república soviética do Tajiquistão. A região é muito procurada, por exemplo, por traficantes de droga, devido à facilidade de cruzamento da fronteira.
Esta semana, Vladimir Putin revelou preocupação pela situação afegã e eventual propagação para a Ásia central. Já ocupado também com a luta ao grupo Estado Islâmico na Síria, ao lado do “amigo” Bashar al-Assad, o Presidente da Rússia apelou por isso a uma colaboração estreita das antigas repúblicas soviéticas no reforço das fronteiras com o Afeganistão.
O apelo de Putin surgiu um dia após Barack Obama ter anunciado a permanência de pelo menos 5500 soldados norte-americanos no Afeganistão até final de 2017.