Noriega, Líder Máximo e "cara de ananás": Uma história das Américas

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De  Antonio Oliveira E Silva  com REUTERS E EFE
Noriega, Líder Máximo e "cara de ananás": Uma história das Américas

Com Reuters e EFE

Uma infância humilde e escolas militares

Em 1934, nasce Manuel António Noriega Moreno em Guachimango, distrito humilde da Cidade do Panamá.

Não chega a conhecer o pai, um contabilista branco de classe média, que não pôde casar-se com a sua mãe, uma costureira mestiça.

Foi criado por uma tia materna em San Felipe, na capital do país centro-americano, a pouco mais de um quilómetro do Canal do Panamá.

Estudou na Escola Militar de Chorrillhos, no Perú, e na conhecida Escola das Américas, em Columbus, estado norte-americano da Georgia, uma instituição conhecida entre grupos de defensores dos Direitos Humanos como uma “fábrica de ditadores.”

As várias cicatrizes que tinha na cara valeram-lhe, da parte dos opositores, a alcunha de cara de piña, cara de ananás, em espanhol. Noriega passara, na adolescência, por um período severo de acne.

Informador da CIA e opressor

Foi responsável máximo pela unidade de inteligência da Guardia Nacional, o G2, durante a liderança militar de Omar Torrijos.

Nessa altura, terá planeado o desaparecimento de líderes da oposição.

Nos anos setenta, torna-se informador da CIA. tendo colaborado com Washington e permitido aos Estados Unidos usarem o país como base para intervençõe*s em vizinhos da América Central, como *El Salvador e Nicarágua.

Em 1981, Omar Torrijos morre num acidente de aviação. Dois anos depois, Noriega assume o poder e oferece uma promoção a si próprio: torna-se General.

Um novo inimigo de Washington

Os desentendimentos com Washington sucedem-se e Noriega anula resultados de eleições de presidentes panamianos, ao mesmo tempo que se aproxima de líderes internacionais considerados como inimigos pela Casa Branca.

Apoiou os líderes cubano, Fidel Castro, e líbio, Muammar al-Khadaffi. A sua aproximação os colombianos do narcotráfico – Cartel de Medellín – é demais para Washington. Estima-se que terá recebido pagamentos de vários milhões de dólares pela colaboração com o tráfico de drogas.

Em 1988, a agência dos Estados Unidos de combate às drogas (DEA, sigla em língua inglesa), acusa-o de tráfico de cocaína e de branqueamento de capitais.

Em dezembro de 1989, a Assembleia Nacional, controlada pelo General, declara que Estados Unidos e Panamá se encontram em “estado de guerra.”

Nesse mesmo ano, o parlamento nomeia-o Líder Máximo do Panamá.

Operação Causa Justa e prisão em Miami

Cinco dias mais tarde, o então presidente dos EUA, George Bush, envia 27 mil soldados para o Panamá, numa operação chamada “Causa Justa.”.

Washington considerou que as forças de Noriega procuravam o confronto com os militares dos EUA na Zona do Canal, depois de terem disparado contra um soldado, que acabou por morrer. Outro elemento das forças dos EUA teria sido gravemente ferido e a sua mulher, segundo o presidente Bush “brutalmente interrogada.”

Em janeiro de 1990, o General rende-se, não conseguindo suportar as pressões das buscas casa a casa e da música hard rock, dia e noite, a elevado volume. Tinha estado escondido na embaixada do Vaticano.

Em 1992, é julgado em Miami, estado norte-americano da Flórida, e condenado a 40 anos de prisão, por narcotráfico, lavagem de dinheiro e crime organizado, acusações que o General rejeita.

Apresenta-se, durante todo o processo, como um “resistente” ao que define como “imperialismo americano da Guerra Fria”.

Em 1999, a Justiça francesa julga o General e condena-o, à revelia, por branqueamento de capitais, a sete anos de cadeia.

Pena em França e regresso ao Panamá

Em 2010, depois de cumprir cerca de 20 anos da pena, é enviado para Paris, para cumprir a sentença à qual havia sido condenado em França.

Em dezembro de 2011, regressa ao país natal. A justiça do Panamá condena-o depois a três penas de 20 anos de prisão, por responsabilidade no desaparecimento de três opositores: Heliodoro Portugal, Hugo Spadafora e Moisés Giroldi, todos desaparecidos nos anos 70.

Noriega negou, até hoje, qualquer responsabilidade pelo sucedido.

Manuel Antonio Noriega